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O homem, o automóvel e a velocidade sempre estiveram associados: o primeiro recorde mundial de velocidade que se tem notícia foi estabelecido em 1898, na França. No dia 18 de dezembro daquele ano o Conde Gaston de Chasseloup-Laubat cobriu a distância de um quilômetro em 57 segundos, média de 63,13 km/h ao volante do automóvel projetado e construído por Charles Jeantaud e movido por um motor… elétrico. O feito foi patrocinado pela revista La France Automobile, uma das primeiras publicações especializadas do planeta.

No Brasil o primeiro recorde oficial de velocidade em linha reta foi estabelecido no dia 29 de junho de 1966, no extremo fluminense da estrada Rio-Santos, em um trecho que ainda estava em construção. Naquele dia o carioca Norman Casari chegou à média de 212,903 km/h a bordo do Carcará, um carro do tipo streamliner, projetado especialmente para essa finalidade e equipado com um motor DKW de 1.100 cm3. Para melhorar a estabilidade em linha reta foram montados pneus de uma Vemaguet nas rodas dianteiras do carro. Coincidentemente o evento teve a participação de outra revista, Quatro Rodas

Cerca de 25 anos mais tarde a nova tentativa de quebrar o recorde do Carcará contou com a ajuda da Polícia Rodoviária de São Paulo. Antes de cada tentativa o trecho de cinco km era bloqueado nos dois sentidos e o público era orientado a sair das margens das pistas. Um patrulheiro escalado para o trabalho comentou o lado irônico de sua missão: ao invés de coibir o excesso de velocidade, a ordem do dia era colaborar e proteger o “infrator”.

Na medida em que as tentativas iam se sucedendo o público aumentava. Nesse processo um senhor em estado de embriaguez relutava em sair da margem da pista, até que os policiais apelaram para convencer o bom homem a ficar em um local seguro: lhe disseram que era preciso se proteger porque em poucos minutos um avião passaria por ali. Ao ver o stock car passa a mais de 300 km/h o bêbado arregalou os olhos e exclamou: “Esse avião está voando muito baixo”.

Durante a preparação para o recorde Fábio Sotto Mayor nunca imaginou que o seu carro ultrapassaria os 315 km/h: o plano era estabelecer uma marca cerca 20% superior à registrada por Norman Casari e seu Carcará. Diante disso foram montados pneus Pirelli VR, iguais aos usados na Stock Car da época e indicados para andar no máximo a 240 km/h. O forte calor que fazia em Bertioga fez com que a temperatura do asfalto chegasse aos 50 graus. Ao final de cada tentativa os pneus praticamente derretiam.

O capô do motor que se soltou na primeira tentativa não foi um fato inédito na história da Stock Car: a carenagem da carroceria que uns chamavam de Bateau Mouche, outros de Batmóvel, era famosa por perder essa peça. O piloto Fausto Rezende foi um dos que teve seu carro “aliviado” ao descer o retão de Interlagos. Para montar o Chevrolet Opala usado no evento foi necessário construir um automóvel sem preconceitos de marca ou origem. Na construção do veículo foram utilizadas peças vindas da Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos e Itália. Além disso, modelos das marcas Chevrolet, Dodge, Ford e Volkswagen também “doaram” itens que colaboraram para o desempenho do cupê.

Wagner Gonzalez, Revista Curva 3, edição especial