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Zeca Baleiro
Zeca Baleiro, maestro Tiago Flores e Orquestra da Ulbra - Foto: Fernanda Chemale

O Concertos Dana realizado no último sábado, em Porto Alegre, trouxe ao palco do Salão de Atos da Ufrgs um dos artistas mais aguardados na história de 12 anos do projeto: o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro. Suas canções, que passeiam despretensiosamente pelo samba, MPB, baião, rock, reggae e uma vasta mistura de gêneros, ganharam novas nuances e encantaram o público que lotou o teatro. A previsão de casa cheia já era esperada. A ideia de assistir ao encontro de uma das mentes mais inquietas da música brasileira com a excelência musical da Orquestra de Câmara da Ulbra fez com que os ingressos voassem para as mãos dos fãs em poucos dias.

Alheio a fórmulas prontas e totalmente entregue às belezas e surpresas de se apresentar com uma orquestra, Zeca Baleiro presenteou o público do Salão de Atos com matizes reinventadas de seus 16 anos de carreira. No repertório, músicas de sete dos seus nove discos de inéditas. Algumas, bastante conhecidas e solares; a maioria, mais introspectivas e pinçadas de suas mais íntimas reflexões.

Zeca Baleiro - Foto: Fernanda Chemale

Zeca Baleiro – Foto: Fernanda Chemale

Dono de uma forte personalidade musical, voz generosa e versos agridoces, Zeca Baleiro transbordou poesia durante todo o concerto. Acompanhado do multi-instrumentista de sua banda, Tuco Marcondes, Baleiro abriu o espetáculo com sua linda “Bandeira”. A canção do excelente disco de estreia de Zeca, “Por onde Andará Stephen Fry?” (1999), arrancou fortes aplausos da plateia. Assim como as duas músicas seguintes: “Quase Nada” e “Babylon”, ambas do delicado álbum “Líricas” (2000). Os arranjos de Alexandre Ostrowski, Rodrigo Bustamante e Daniel Wolff deixaram as três canções ainda mais sublimes.

A noite também reservaria dois cachorros, como brincou Zeca antes de iniciar “Cachorro doido”. A obra, resultado da parceria entre Baleiro e o poeta e letrista maranhense Fernando Abreu, ganhou intenso arranjo de Rodrigo Bustamante, o que deixou a música com uma pegada ainda mais rocker.

O próximo cachorro viria acompanhado de um filho – ou de uma verdadeira pérola de Zeca Baleiro: “Um Filho e um Cachorro”. A densa música do genial “PetShopMundoCão” (2002) arrebatou a plateia. Não poderia ser diferente – tudo em Zeca Baleiro é plural. O passeio por esta e outras letras desconstroem e reconstroem em coisa de instantes. A mistura de ritmos convida a experimentar. Impossível passar incólume por esta aventura de sons e palavras.

Tiago Flores, Zeca Baleiro e Orquestra - Foto: Fernanda Chemale

Tiago Flores, Zeca Baleiro e Orquestra – Foto: Fernanda Chemale

E era só o começo. Ao longo do espetáculo, muitas outras letras costuraram as fases e sentimentos de Baleiro. Momentos intimistas com as baladas “Cigarro” e “Musak”, do álbum ”Baladas do Asfalto e Outros Blues” (2005); os novos ventos de “Calma Aí, Coração”, parceria com Hyldon em “O Disco do Ano” (2012); o bom humor em “Vai de Madureira”, de “O Coração do Homem-Bomba – Vol. 1” (2008); e as homenagens a Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Renato Rocha, com “Bicho de sete cabeças” e a Sérgio Sampaio, com a linda “Tem que Acontecer”, esta gravada no disco “Vô Imbolá” (1999).

Outras duas obras importantes de Zeca Baleiro – obrigatórias em seus shows, tamanha a receptividade de todas as tribos por onde Baleiro passa – também fizeram deste Concertos Dana uma noite memorável: o hit “Lenha”, cantado em coro pela plateia, e o incendiário rock-baião-de-cordel “Heavy Metal do Senhor”, sem medo do peso da afirmação, a canção mais vibrante do espetáculo.

Depois de muitos – e merecidos! – aplausos, Zeca Baleiro voltou para o bis, conversou, brincou com a plateia e entoou o conteúdo de sua delicada correspondência. Ao som dos primeiros acordes de “Telegrama”, um semblante de felicidade se multiplicou por todo o Salão de Atos. Nem era preciso conhecer alguém de Aracaju ou do Alabama para entender o recado: depois desta apresentação, muita gente foi pra casa com uma vontade danada de mandar flores ao delegado.

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