1. ATÉ ONDE VAI O PREÇO DO PETRÓLEO?
Especialistas em petróleo tem dito que não acreditam em elevação explosiva dos preços internacionais do petróleo. A OPEP continua mirando para um preço médio em torno de 25 dólares o barril. Se o principal fator por trás da alta do preço do petróleo fosse o aumento da demanda, em face da recuperação da economia mundial, seria mais tranqüilo apostar no cenário almejado pela OPEP, que tenta conciliar interesses de produtores e consumidores. Como existe o fator “guerra” no Oriente Médio não parece seguro projetar preços do petróleo, principalmente para curto e médio prazos. Dada a temperatura do cenário político em torno de questões como Palestina versus Israel, George W. Bush versus Sadam Hussein, parece prudente não apostar todas as fichas no cenário da OPEP. Até porque o lado dos produtores de petróleo enfrenta problemas nem sempre fáceis de serem administrados. A Venezuela, principal exportador para os Estados Unidos, por exemplo, enfrenta, esta semana, um problema de greve no setor petrolífero.
Em suma, parece que o preço do petróleo estará sujeito à grande volatilidade este ano.
2. IMPACTO SOBRE O BRASIL
a) INFLAÇÃO – O que já houve de revisão de preços de derivados de petróleo pela PETROBRÁS é suficiente para colocar sob maior tensão a meta inflacionária do Banco Central. O IPCA (indicador da meta inflacionária), nas atuais condições, está apontando para uma inflação anual entre 5 e 5,5%, próximo, portanto, do limite superior fixado pelo Banco Central e acima da meta central (4,5%). O que tem contribuído para um cenário ainda razoável para a inflação do petróleo e derivados é o comportamento da taxa de câmbio, que caiu para menos de 2,30 reais por dólar nos últimos dias. O cenário para a inflação poderia ser favorecido por uma eventual queda do preço do petróleo, combinado com a manutenção de uma taxa de câmbio estável. Isso não é impossível, embora pareça pouco provável. Em matéria de inflação do petróleo, se as coisas ficarem onde estão ainda dá para digerir, embora os custos já sejam muito elevados.
b) JUROS – Nas atuais circunstâncias, o mais provável é que o Banco Central interrompa o tímido ensaio baixista para a taxa de juros, promovido em fevereiro e março. Na próxima reunião do COPOM, o BC deverá manter a taxa SELIC de juros no patamar de 18,5%, que continua assegurando para o Brasil posição nada invejável no ranking mundial das maiores taxas de juros.
c) CRESCIMENTO – Com juros reais básicos tão elevados (12% ou mais) e até em alta em relação ao ano anterior (9% em média), a maior vítima deverá ser a taxa de crescimento do PIB. Passa a valer a pergunta: o PIB em 2002 poderá crescer os 2,5% a 3%, que predominaram nos prognósticos ao longo do primeiro trimestre? No que depender da demanda interna, o desempenho da economia poderá ser mais do que medíocre, com juros tão elevados. O problema poderá ser minorado pelas exportações, que poderão ter bom desempenho em uma economia mundial em recuperação.
d)CONTAS PÚBLICAS – Com juros elevados, a dívida pública tende a crescer. Com fraco crescimento do PIB, a relação Dívida Pública/PIB tende a crescer, contrariando, mais uma vez, o que seria desejável para tranquilizar aqueles que analisam o cenário macroeconômico brasileiro.
O problema fica minorado pela melhoria do chamado superávit primário, que será alimentado pelo aumento do lucro da PETROBRÁS, que comentamos a seguir.
3. LUCRO DA PETROBRÁS
Neste cenário, quem certamente não está reclamando, são os acionistas da PETROBRÁS, a começar pelo próprio Governo. A alta do preço dos derivados de petróleo favorece tremendamente o lucro da PETROBRÁS, pois nossa dependência ao óleo importado já é de menos de 20%. Mais de 80% do nosso consumo é suprido pela produção interna, cujos custos são basicamente em reais e não em dólares. Além disso, nosso principal fornecedor de óleo importado é a Argentina, cuja moeda sofreu forte desvalorização, barateando o custo em reais.
Depois de dois anos seguidos com lucros no patamar de 10 bilhões de reais, não será de surpreender se tivermos novo recorde no lucro da PETROBRÁS, capaz de fazer a felicidade de seus acionistas e de deixar babando executivos de empresas de qualquer canto do Planeta.
Se o ajuste quase automático dos preços internos dos derivados do petróleo, pela cotação internacional do óleo, é o melhor para o Pais, é uma questão sobre a qual não há consenso. Para o que resta do Governo FHC as regras estão dadas, estejamos ou não de acordo. Para o próximo Governo, as regras poderão mudar, conforme orientação do acionista majoritário, representado pelo Presidente da República. Esta semana, o candidato José Serra sugeriu que pensaria em outra fórmula de reajuste de preços dos combustíveis.
Em qualquer hipótese, é difícil imaginar um cenário em que a PETROBRÁS não seja uma empresa muito lucrativa nos próximos anos. A política de preços do Governo poderá afetar o tamanho do lucro da PETROBRÁS, mas nunca fazer dela uma empresa pouco rentável e muito menos deficitária.
Como pelos atuais critérios de mensuração das contas públicas, o lucro da PETROBRÁS entra SOMANDO, o aumento dos preços dos derivados de petróleo está neutralizando, em parte, coisas como o atraso na aprovação da CPMF pelo Congresso. Não é, no mínimo, curioso?
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