Documentação pronta, exames médicos feitos e uniformes distribuídos. Em Osasco, já está tudo preparado para o Formare 2004. No dia 1° de março, recomeçam as aulas da segunda turma desse projeto de aprendizagem profissionalizante dentro das empresas, criado pela Fundação Iochpe, uma organização civil sem fins lucrativos.
O Formare é voltado a jovens de famílias de poucos recursos que estejam cursando o ensino médio. A Dana oferecerá aos jovens um curso de 800 horas dentro da unidade Osasco. Nesse período, eles receberão uma bolsa-auxílio de meio salário-mínimo, alimentação, transporte, assistência médica e odontológica, uniforme, material escolar, seguro de vida em grupo e assistência social e psicológica.
As aulas serão dadas por colaboradores da empresa, treinados pela Fundação Iochpe, que atuarão como educadores-voluntários. Além do conhecimento técnico, esses professores transmitem suas experiências de vida. É o caso de Sérgio Augusto Ribeiro, da controladoria da planta de Osasco, que sempre fez questão de reforçar a importância de não ficar estático em uma só função. “O profissional deve procurar crescer sempre, vertical ou horizontalmente.” E frisou várias vezes durante as aulas que ministrou: “Mesmo se vocês não conseguirem emprego assim que concluírem o curso, não baixem a cabeça, não desistam”.
Aumenta o número de inscritos
Durante a fase de divulgação nas escolas da região de Osasco, cerca de 1.800 jovens receberam informações sobre o programa. Foram registradas 483 inscrições, 154 a mais que em 2003 – um aumento de 46,8%. Os jovens, que têm entre 15 e 17 anos, fizeram provas – com questões de múltipla escolha – de português, matemática e conhecimentos gerais, além de uma redação. Os 60 candidatos que obtiveram melhor pontuação passaram para a fase seguinte: a avaliação da situação socioeconômica da família. Para isso, foram feitas visitas aos domicílios dos pré-selecionados. De 60, o número caiu para 30. A última etapa do processo de seleção foi uma dinâmica de grupo, que definiu os 20 participantes da turma de 2004. O curso foi, portanto, tão concorrido quanto no vestibular para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP.
Retratos de antes e depois
Conhecimento, amizade, mais auto-estima. Esses são apenas alguns itens de uma lista extensa de mudanças que aconteceram no decorrer do ano passado com os alunos do projeto. Há pouco mais de um ano, Fernanda Francisca de Lima – hoje com 17 anos – só queria saber de aproveitar o que estava ao alcance dela, dentro dos limites impostos por sua realidade. “Eu nem gostava muito de planejar o futuro porque as perspectivas não eram animadoras.” O sonho de fazer a faculdade parecia cada vez mais distante por causa das dificuldades financeiras. “No decorrer do curso, minha família e os amigos passaram a me respeitar mais”, conta. Embora a mãe dela continue sendo copeira, e o pai, metalúrgico, siga desempregado, Fernanda, numa sincera demonstração de satisfação e otimismo, revela: “Meus pais já pensam em estudar. Voltamos a ter expectativas, voltamos a sonhar. O Formare deu toda a base que eu tenho hoje em dia, foi maravilhoso. Amadureci muito, foi uma experiência inesquecível”.
25% já estão trabalhando
Fernanda tem mais motivos para comemorar: ela é uma dos cinco alunos da turma que já está trabalhando – o que significa um aproveitamento de 25%. Um detalhe importante é que não foi a Dana que contratou esses jovens, mas o mercado. Fernanda, por exemplo, está trabalhando na Cargolift, uma empresa de transporte e logística. Além disso, é caloura no curso de Propaganda e Marketing da Unip, onde conseguiu uma bolsa de estudos de 50%. “O restante eu pago com o meu próprio salário. Percebo que agora eu sou mais capacitada e responsável.” De tantas boas lembranças do projeto, Fernanda ressalta a empatia com os professores, que tomou como exemplo. “Quero ser um pouquinho de cada um deles.” E manda um recado para a turma de 2004: “Vocês vão chegar tímidos, como nós (da turma 2003) chegamos. Mas não percam a esperança. Acreditem, sempre é possível conquistar mais. Aproveitem essa oportunidade porque ela é de ouro!”.