Com certeza você ou um cliente da oficina já viu nos manuais do proprietário do veículo a expressão “uso severo”. Mas o que isso significa? Rodar muito com o veículo é uso severo? Usar o carro apenas na estrada é considerado uso severo? Com certeza um carro que fica o tempo todo guardado na garage não é uso severo! Será?
A maioria dos motoristas vai responder que nunca usou o veículo em condições severas, mas o que a maioria não sabe responder é o que pode ser considerado como “uso severo”.
Em geral os motoristas consideram uso severo rodar muito com o carro durante o mês e aquele pequeno trecho percorrido diariamente entre a casa, o trabalho e a escola das crianças como uma utilização normal e que pouco ou nenhum desgaste provoca no veículo.
A definição do tipo de utilização pouco (ou nada) está relacionada com a distância registrada no hodômetro e, muitas vezes, um veículo com alta quilometragem e boa manutenção pode estar em melhores condições que um que roda pouco e passa a maior parte do tempo na garage.
As fabricantes de veículos não esclarecem claramente o que é uso severo e em quais condições de uso o veículo deve ser enquadrado nesta situação, além de não explicar quais rotinas e intervalos de inspeção devem ser adotadas para a manutenção do veículo nestes casos e haver diferenças de definições entre os próprios fabricantes.
Para melhor compreensão sobre o que pode ser considerado “uso severo” tenha em mente que um veículo foi feito para rodar e qualquer condição que interfira nisso ou que resulte em um desgaste maior do que o normal para um carro são classificadas como uso severo.
Resumindo, rodar pouco e devagar pode ser tão prejudicial quanto rodar muito e rapidamente. Por isso é muito comum que veículos utilizados em estradas, onde o tráfego é mais fluido e com velocidades médias maiores, apresentem menos desgaste que veículos que rodam no trânsito urbano, em curtos deslocamentos e no “anda e para” das grandes cidades.
Isso ocorre porque o motor, mesmo os mais modernos, levam um tempo para atingir a temperatura ideal de funcionamento. Muitos engenheiros consideram os trajetos curtos, que não excedam 5 km, como de uso severo para o carro, já que não o motor não atinge a temperatura ideal para uma queima correta de combustível e a perfeita lubrificação do conjunto.
Outra condição de uso severo é o anda e para do tráfego pesado das grandes cidades. Como o motor trabalha a maior parte do tempo em marchas mais baixas, isso provoca esforço e desgaste dos componentes do motor, câmbio e todo o sistema de lubrificação. Essa condição acelera o desgaste das correias, mangueiras e borrachas, pois, embora as rodas não girem, o motor continua funcionando e a temperatura precisa estar sempre sob controle.
Na estrada essa situação melhora muito, pois, embora as rodas girem com mais velocidade e o desgaste dos pneus seja maior, o motor, câmbio, sistema de arrefecimento e demais conjuntos e componentes rodam em condições adequadas de temperatura e lubrificação.
Por falar em câmbio, usar a marcha correta em cada situação ajuda na durabilidade de todo o conjunto e evita desgaste e folgas entre eixos e engrenagens. Esticar as marchas ou usar marchas altas em situações onde o necessário são as marchas menores e de maior torque pode resultar em solavancos no conjunto e prejudicam o sistema de transmissão. Com o tempo, as peças começam a ter mais folgas e o automóvel fica barulhento.
Estradas de terra ou pistas com muita areia, lama e asfalto desgastado também são condições de uso severo. O excesso de poeira, detritos e impurezas acelera a saturação do filtro de ar do motor, pode penetrar em parte móveis e contaminar a graxa destas peças, além de prejudicar a lubrificação de componentes da suspensão, direção e transmissão.
Assim, mesmo que você só pegue estrada de terra aos fins de semana para ir ao sítio, o recomendado é reduzir o tempo de troca do filtro pela metade e inspecionar com mais frequência o estado de conservação de coifas, braços e outros componentes da parte de baixo do veículo (undercar).
Trafegar com peso acima da capacidade de carga do veículo também é um uso severo e traz várias consequências. Isso sobrecarrega não só os componentes da suspensão como também pneus, embreagem e freios, exigindo maior esforço de alguns componentes e a troca antecipada destes. Carros que frequentemente levam uma carretinha ou reboque no engate traseiro também podem ser classificados como de uso severo.
Carro que só roda uma vez por mês e só sai com o dono não é uma “mosca branca”, nem essa condição de uso pode ser classificada como uso normal. Pelo contrário, isso é uma situação de classificada como de uso severo. Qualquer máquina foi feita para funcionar e a não utilização frequente do veículo pode afetar bateria, sistema de ar-condicionado, sistema de arrefecimento, fluidos, mangueiras e até pneus.
E não é apenas a forma de uso que caracteriza o uso severo. Condições climáticas e locais onde são utilizados também podem interferir na durabilidade de algumas peças e configurar uso severo.
Locais muito úmidos e com temperaturas elevadas, por exemplo, podem sobrecarregar o sistema de arrefecimento, pois o veículo recorre ao ar externo para fazer o resfriamento da água que percorre os dutos do motor e a temperatura ambiente elevada pode afetar o funcionamento da bomba d’água, além de comprometer a vida útil de mangueiras e da válvula termostática.
Outra situação em que o veículo pode apresentar problemas antecipadamente é quando utilizados em locais com alto índice de partículas suspensas. Essa condição de uso severo é facilmente percebida em veículos que trafegam próximo a siderúrgicas, indústrias mineradoras, usinas de cimento ou marmorarias, onde os veículos que compõem a frota de serviço da empresa necessitam de revisões e manutenção com maior frequência.
Se o carro se enquadra em qualquer destas condições de uso severo é preciso ter atenção redobrada com a manutenção. A recomendação dos especialistas em gestão de frotas e engenheiros automotivos é cortar os intervalos das revisões pela metade. Ou seja, se o padrão é a cada 10 mil km, faça de 5 mil em 5 mil km.
Uso severo – resumo
- Trânsito frequente em vias com de tráfico intenso, o motor permanece muito tempo em marcha lenta ou realiza paradas frequentes
- Quando o veículo é pouco utilizado, menos de 10 km por dia.
- Uso frequente do reboque.
- Viagens com carga máxima ou excesso de peso.
- Trânsito frequente em vias de terras, sem pavimentação ou em condições ruins
- Uso em localidades de alta temperatura, muito úmidas ou com emissão de partículas na atmosfera.
Tem muita gente que compra um usado e fala orgulhoso que o antigo dono só pegava o automóvel para ir à padaria perto de casa. Acredite, isso é um exemplo de uso severo do carro.