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Zé Caradípia. Imagem: Fernanda Chemale

“Estou emocionadíssimo”, resumiu Nelson Coelho de Castro, com os olhos repletos de lágrimas, no escurinho da platéia do show que reuniu Raul Ellwanger e Zé Caradípia com a Orquestra de Câmara da Ulbra. Jerônimo Jardim esteve lá também. “A orquestra esteve impecável, os arranjos ficaram lindos e os compositores estavam claramente emocionados. Gostei demais da versão de ‘Garopaba’, música que escrevi com Raul, e ver o público empolgado, cantando junto, e aquela alegria genuína do Tiago Flores regendo a Orquestra… não tem preço”, disse.

O autor de uma das 10 músicas mais conhecidas pelos gaúchos, “Pealo de Sangue”, Raul Ellwanger lançou seu mais recente disco, “Boa-Maré”, em 2004. Também gravou com Mercedes Sosa o grande sucesso “Eu só peço a Deus”, e é um compositor que fala muito sobre o amor à terra – seja ela o Rio Grande do Sul, Santa Catarina (onde mora atualmente), Chile, Argentina, Uruguai – onde morou quando esteve exilado, durante a ditadura militar. Acumula quase 40 anos de carreira, e conhece Zé Caradípia há pelo menos 30.

Zé Caradípia tem seu trabalho como compositor reconhecido nacionalmente através da cantora Zizi Possi, que interpretou “Asa Morena”, considerada como uma das 100 músicas mais populares do século XX no Brasil. José Luiz Fernandes, mais conhecido pelo pseudônimo de Zé Caradípia atua no meio artístico porto-alegrense desde 1976, e tem três discos lançados: “Onda Forte”, “Retina da Alma” e “Pintando Falas”.

No Leopoldina Juvenil lotado, o espetáculo começou com “Retina da Alma”, de Zé Caradípia, que ganhou um arranjo delicado de Iuri Corrêa. Em seguida, foi a vez de “Gato Selvagem” (que, durante os ensaios, ganhou o apelido de “Gato Arretado”, devido ao ritmo de baião do arranjo). Com acordes precisos, o arranjo criativo de Michel Dorfman conferiu vivacidade à canção de Zé Caradípia, um hino à boemia.

Na próxima canção, “Madeixa”, uma das mais conhecidas de Zé, uma nova surpresa. Com várias mudanças de andamento, mostrou que criatividade não falta à Orquestra de Câmara da Ulbra. O arranjo de Arthur Barbosa, que toca violino na orquestra, mostrou bem que há liberdade para ousar também na música erudita. A quarta canção foi “Pintando falas”, com letra dramática e arranjo contido, emocionante, seco, dando destaque à letra da música: “Espero sofrido, encardido, se tanto/ um mero acalanto que me console”. Outra canção, no mesmo tom, foi “Capítulo romanesco”.

Raul Ellwanger. Imagem: Fernanda Chemale
Raul Ellwanger
Imagem: Fernanda Chemale

Era, então, a vez de Raul Ellwanger subir ao palco, empolgadíssimo, para cantar “Pealo de sangue” e, em seguida, ser ovacionado pelo público. O silêncio na platéia era reverencial, do tamanho do clássico da música tradicionalista. A letra, que começa melancólica, termina com toda a esperança: “Sei que um dia será novo dia/ Brotando em teu coração/ Quem viver saberá que é possível/ Quem lutar ganhará seu quinhão”. Impossível não ganhar a platéia. Depois deste momento redentor, viria a animada “Cigana tirana”, cantada por muitos na platéia – mais um baião, com Raul batendo palmas para acompanhar o ritmo da música. Na mesma linha, chegava “Garopaba”, composição de Raul com Jerônimo Jardim, que já foi convidado dos Concertos Dana em 2006. Com dois solos de cello – no início e no fim da música – e muitos dedilhados de violão, a música foi um verdadeiro desafio para os músicos. James Liberato, que tocava o violão, disse, nos ensaios: “haja pestana!”. A música foi ensaiada exaustivamente devido à complexidade do arranjo de Arthur Barbosa, mas valeu à pena – o resultado foi vigoroso.

Em seguida, acompanhado só pelo violão de James, foi a vez de “Eu só peço a Deus”, sucesso de León Gieco que ficou muito conhecida pela regravação da cantora Mercedes Sosa. Para ‘quebrar’ a dramaticidade, era a vez do samba “Te procuro lá”, uma parceria de Raul com o poeta Ferreira Gullar. Raul estava impossível: cantava, dançava, tocava air guitar, simulava estar tocando maracás… Uma animação que contagiou a todos, que cantaram em coro o refrão.

Zé Caradípia voltou ao palco e, junto com Raul, cantou seu maior sucesso, “Asa Morena” (antes do show, ele dizia nos bastidores que “Asa Morena” era a sua “Garota de Ipanema”). Gravada em 1982 por Zizi Possi, a música foi um estrondoso sucesso radiofônico e, claro, foi cantada pela platéia do início ao fim. Resultado? O público em pé, reunido num aplauso ruidoso para os convidados e a orquestra, que ainda voltariam para um bis mais do que comovente: um dueto dos dois cantando “Pealo de sangue”, também acompanhada pela platéia.

Sobre o espetáculo Zé disse: “foi tudo maravilhoso, uma oportunidade ímpar de mostrar meu trabalho, e os arranjos foram muito bem-resolvidos. Tive o cuidado de escolher canções emocionantes porque sabia que esse show seria especial. E foi mesmo inesquecível – o melhor momento foi o dueto que fizemos no final do show com ‘Pealo de sangue’. Aquela música fala direto ao coração”.

Agora é só esperar até 24 de novembro, quando acontecerá o próximo Concertos Dana, que reviverá Clássicos do Rock no Salão de Atos da Ufrgs. Até lá!

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Veja mais: Site de Zé Caradípia