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Filipe Catto, Monica Tomasi, Tiago Flores e Orquestra da Ulbra
Filipe Catto, Monica Tomasi, Tiago Flores e Orquestra da Ulbra - Foto: Marcos Massa

Monica Tomasi e Filipe Catto representam duas gerações da Música Popular Brasileira. Ela, mais suave, branca, mas abusando de guitarras e versos espertos sobre amores e suas dores e levezas. Ele, intenso, dramático, representando uma alma antiga que canta boleros e tangos, como uma Dalva de Oliveira dos tempos modernos. A mistura dos dois com a Orquestra de Câmara da Ulbra pôde ser conferida no dia 4 de setembro, dentro do pomposo espaço da Associação Leopoldina Juvenil, repleto de gente de todas as idades.

Monica abriu o espetáculo com “Quando os versos me visitam”, de Monica Tomasi e Idesio de Oliveira, com arranjo de Iuri Correa. Nascida em Porto Alegre, Monica tem quatro discos lançados e é uma artista polivalente, que trafega pela MPB, pop, rock e outros ritmos. Monica estreou na música em 1990, quando lançou o disco “Eu Fórica” que, no mesmo ano, a levou para São Paulo, de mala e cuia (literalmente).

A música-título de seu disco mais recente, lançado em 2006, é sobre a dificuldade de lidar com um amor perdido – difícil não se identificar. A segunda música do espetáculo é “Guarda Chuva”, escrita por Monica Tomasi e arranjada por Daniel Wolff, violonista da Orquestra da Ulbra.

O guitarrista Fernando Peters, parceiro de composição da cantora, é um dos músicos convidados esta noite. Em seguida, houve um momento dramático com “Negue” que, ao contrário do que muitos pensam, não foi escrita por Maria Bethânia, a intérprete que a tornou famosa. “Negue” é de Adelino Moreira e Enzo dos Passos e foi escrita em 1957. Bethânia regravou-a em “Álibi”, de 1978, um sucesso estrondoso.

Monica Tomasi
Monica Tomasi – Foto: Marcos Massa
Para contrabalançar o peso, era hora da suingada “Me Ache”, de autoria de Monica, bem mais leve e serena do que “Negue”. Igualmente linda. Agora, “Breve Estação”, de Monica Tomasi, William Santana e Ribah Nascimento, arranjada por Pedrinho Figueiredo. A canção seguinte é “Passos no Corredor”, do guitarrista de Monica, Fernando Peters, com arranjo de Rodrigo Bustamante. Sempre inventivo! Essa música ilustra bem o ecletismo de Mônica, já que é um rock vigoroso e Monica toca… Ukulele! Ela sorri, serelepe e animada. Um pop rock leve e descontraído que exalta o lado leve do amor. Violinos leves para contrastar com a guitarra.

O cantor revelação de 2011, Filipe Catto, sobe ao palco, ovacionado! Apenas 23 anos e um talento de gente grande! Ele abre sua participação com o bolero “Piensa en mí”, de Agustín Lara, composto em 1943 e trilha do filme “De Salto Alto”, de Almodóvar. Um cover também foi a escolha de Catto para dar seguimento ao show: o samba “Duas horas da manhã”, de Nelson Cavaquinho, foi gravada por Catto em um disco-tributo ao mestre do samba dor de cotovelo. A interpretação dramática de Catto cai perfeita neste arranjo, que deixou a música num trip-hop vigoroso.

O cover inusitado é “Garçom”, de Reginaldo Rossi. Certamente o Rei do Brega nunca pensou numa versão tão linda e delicada como essa. Catto disse estar feliz porque, finalmente, uma das músicas de amor mais lindas ia ganhar um arranjo luxuoso e ser apresentada como deveria ser – uma pérola perdida e tachada como “cafona” quando, na verdade, reflete a dor de um amor perdido e o desespero que se segue. Catto e sua voz de contratenor emocionam a todos, que aplaudem de pé! Arrepiante a ovação que o garoto ganha!

Filipe diz que cantava “Angie” no chuveiro. A música dos Stones foi composta por Keith Richards em 1973 e lançada em “Goats Head Soup”. “Angie”, ao contrário do que muitos imaginavam, é sobre a luta do guitarrista para se livrar da dependência química. Embora seja suave. A versão de Catto foi arranjada pelo músico Daniel Sá, que o acompanha como músico convidado nesta noite quente de domingo. Catto, apesar de cantar MPB, bebe da vertente do rock e diz que sua maior influência é PJ Harvey! Logo, “Angie” ficou linda e melancólica,como só um bom roqueiro saberia interpretar.

Hora de uma canção de Filipe, “Crime Passional”, um dramático samba que está em seu primeiro EP, lançado em 2009, também chamado “Saga”. Aliás, hora dela, “Saga”, canção de Catto que é trilha da novela “Cordel Encantado” e conta uma história de superação e garra. Grande momento! Este concerto não foi um espetáculo para corações fracos. “E nessa saga venho com pedras em brasa/ Venho sorrindo, mas sem nunca me esquecer/ Que era fácil se perder por entre sonhos e deixar o coração sangrando até enlouquecer…” Música intensa!

Filipe Catto e Orquestra
Filipe Catto e Orquestra – Foto: Marcos Massa
Hora de Monica e Catto cantarem juntos “Timoneiro”, sucesso de 1996 composto por Paulinho da Viola. “Timoneiro” é do disco “Bebadosamba” – lançado depois de um hiato de seis anos do compositor e muito bem recebido pelo público e crítica. O arranjo de Vagner Cunha valoriza os violinos, mas deixa espaço pro pandeiro e cavaquinho! O arranjo é dramático e intenso. Os dois aproveitam o momento alegre e cantam “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar” – acabam de transformar a Associação Leopoldina, toda pomposa, numa casa de samba. O público canta junto, claro.

Momento de agradecimentos e emoção, os dois solistas nunca cantaram juntos! O público aplaude em pé e a profusão de sorrisos é gigante com o baita show. Clássico e popular, inesquecível união de dois talentos da Música Popular Brasileira com a Orquestra. Quem esteve lá, não esquecerá jamais.

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