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Concerto Dana
Vanessa Longoni, Tiago Flores, André Matos, Panta e Orquestra da Ulbra - Foto: Marcos Massa

“Já estou com a camiseta do Metallica passada”, avisou um fã dos Concertos Dana via nossa página no Facebook. Por mais que já tenham acontecido outras edições da edição Clássicos do Rock, parece que nunca é o suficiente para os fãs do estilo de música que mudou o mundo na década de 50.

Este Clássicos ainda tinha um toque diferente: pela primeira vez, o espetáculo acontecia em Gravataí, cidade onde fica a sede gaúcha da Dana. Por isso, presença massiva dos colaboradores da Dana e seus familiares, além da população de Gravataí, que lotou o Teatro do SESC no dia 22 de agosto.

O espetáculo, com a Orquestra de Câmara da Ulbra tocando vestida a rigor – o que, no caso, significava camiseta preta (de preferência de banda de rock) –, começou às 19h, chamando Vanessa Longoni ao palco. Cantora com formação de MPB, Vanessa se aventurou a cantar “Pinball Wizard”, música dos ingleses do The Who. O grupo vocal, composto por Rose Carvalho, Debora Dreyer, Iuri Correa e Athos Fores, foi uma peça chave de todo o espetáculo. Já na primeira música, eles cantaram uma nova uma introdução para esta música e a flauta de Pedrinho Figueiredo, o arranjador da música, também teve destaque para acompanhar a melodia pesada da música. Ângelo Primon, o guitarrista oficial dos Concertos Dana e parceiro de Vanessa Longoni na banda “Realidade Paralela”, divertiu-se ao ver a amiga exercendo sua verve roqueira. Excelente escolha para abrir o espetáculo, uma das músicas mais vibrantes do rock. Cinco minutos de puro rock inglês, aplaudido entusiasticamente.

Concerto Dana
Panta cantando “Bad” – Foto: Marcos Massa
A segunda música foi “Bad”, do U2, cantada por Panta, que também tocou guitarra. Ele dá o tom certo de melancolia para a música, cuja letra fala sobre vícios. O arranjo é do violoncelista da Orquestra, Arthur Barbosa, que combinou com sabedoria a letra pesada com elementos mais leves, como os violinos em tom mais agudo e a voz de Panta, realmente muito parecida com a de Bono Vox. Ao final da música, Panta improvisa, usando um trecho do maior sucesso do U2, “Sunday Bloody Sunday”, perguntando, ternamente: “How long must we sing this song?” (“Quanto tempo ainda cantaremos esta canção?”).

Depois do silêncio absoluto da execução de “Bad”, André Matos é chamado ao palco para cantar “Fairy Tale”, do Shaman, para delírio do público feminino presente. O arranjo é de Iuri Correa, que naquela noite cantava como tenor no grupo vocal. André estava feliz por participar dos Concertos Dana Clássicos do Rock II. “Vim da Suécia especialmente para participar do espetáculo porque realmente acho o projeto importante e pioneiro – inclusive, no Brasil”, afirmou ele. O público acompanhou-o batendo palmas, André é bastante carismático no palco – herança de todos os anos em que atuou como vocalista de diversas bandas de heavy metal brasileiras.

Em seguida, novidade: o violoncelista Rodrigo Bustamante teve o desafio de fazer o arranjo de “All Over the World”, dos americanos do Pixies, para o espetáculo. A bateria marcada de Marquinhos Fê e os violinos mais graves tentaram emular o peso da música de uma das bandas mais barulhentas do rock. O grupo vocal revezava-se cantando a extensa letra – “All Over the World” é a música mais extensa dos Pixies. Os arranjos de violino e de flauta deram agilidade e guiaram o solo de guitarra de Ângelo Primon.

Panta voltava ao palco para “With a little help from my friends”, dos Beatles – aqui, na versão popularizada por Joe Cocker. A presença do grupo vocal é, mais uma vez, a espinha dorsal da música, já que as perguntas em forma de verso desta música são feitas por eles, e Panta responde. Especialmente inspirado, ele une na música as influências de blues, rock e soul music numa interpretação nada contida.

Hora de Vanessa voltar ao palco para cantar “Love me two times”, do The Doors. Mantendo uma tradição dos Concertos Dana Clássicos do Rock, a versão teve um quê de pimentinha (alguém aí lembra de Adriana Deffenti cantando Raul Seixas?). O arranjo de Daniel Wolff valoriza os violinos e usa o baixo acústico para dar ritmo às insinuações de Jim Morrison.

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Vanessa em “Love me Two Times” – Foto: Marcos Massa
Vanessa convida Panta para vir ao palco duetar “Time/Great Gig in The Sky”, do Pink Floyd. Vanessa canta o solo vocal do início de “Great Gig” e Panta emenda com a amarga “Time”. O arranjo deste medley foi feito por Michel Dorfman, e sempre é muito aplaudido nos Concertos Dana. O grupo vocal se destaca mais uma vez, já que o Pink Floyd usava muito corais (especialmente de vozes femininas) em suas músicas – o solo de Vanessa é um dos mais populares do mundo e dificílimo de ser cantado.

Mais gritos e André Matos volta ao palco. Dessa vez, para uma versão pesadíssima de “Sabbath Bloody Sabbath”. Ele conta que, antes de entrar no palco, prefere ficar quieto, concentrado, para não perder o “fio da meada”, especialmente na hora de cantar músicas mais sombrias como este clássico da década de 1970. O ousado arranjo é de Arthur de Faria, e os violinos reinam soberanos. A flauta de Pedrinho Figueiredo também ganha destaque entre um verso e outro da canção. A voz aguda de André combina com a de Ozzy Osbourne, o que torna esta versão já um clássico dentro dos Concertos Dana – ela é apresentada desde a primeira edição.

André recupera o fôlego e canta “Eagle Fly Free”, do Helloween, também com arranjo de Iuri Correa, do grupo vocal. São cinco minutos de heavy metal com um andamento muito rápido, fazendo a Orquestra, os músicos convidados e o solista exaustos. Um solo de cello embeleza a versão, André imita o guitarrista Ângelo Primon enquanto ele faz seu solo, o baterista Marquinhos Fê também improvisa… É aquele tipo de surpresa que as pessoas não esperam ver no meio de um espetáculo – talvez a música não seja muito conhecida para quem não é fã de rock progressivo, mas é inegável seu ritmo contagiante e pegada forte.

Em seguida, a outra grande novidade deste Clássicos do Rock II: “Paranoid Android”, do grupo inglês Radiohead, um clássico recente do rock (foi lançada no disco “OK Computer, em 1997). Iuri Correa conta que fazer o arranjo desta música foi um enorme desafio, mesmo para um arranjador experiente como ele: são seis partes distintas, quase opostas entre si. A música começa suave, só com violinos, flauta e as vozes suaves e, de repente, irrompe numa tempestade. Quem pensava que o rock progressivo era o mais longo do Concerto, enganou-se: “Paranoid Android” tem quase sete minutos nesta versão, em que o grupo vocal reveza-se entre soprano, contralto, tenor e baixo. Todos fazendo a voz de Tom Yorke – na gravação, sobreposta diversas vezes. E Ângelo Primon se reveza entre o violão e a guitarra, como John Greenwood e Tom Torke, do Radiohead – só que ele é um só!

Concerto Dana
André Matos em “Bohemian Rhapsody” – Foto: Marcos Massa
Outro momento esperado do grupo vocal é “Bohemian Rhapsody”, do Queen – aqui, cantada por André Matos, que estava cantarolando a letra até chegar no teatro – estava preocupado com o tamanho da responsabilidade. Ele se juntou ao grupo vocal, no fundo do palco e, de lá, comandou o espetáculo. O arranjo de Márcio Cecconello fez o público vibrar a cada mudança de tempo e, no final, consagração completa: a plateia toda se levantou para aplaudi-los em pé.

O maestro chama Panta novamente ao palco para executarem “uma música que nunca pode faltar num concerto de clássicos do rock”: “Stairway to Heaven”, lançada em 1971 pelo Led Zeppelin. O silêncio no teatro é absoluto e, aos primeiros acordes da música, alguém grita “bravo!” e ensaia um aplauso. A flauta de Pedrinho Figueiredo compõe toda a melodia da introdução criada por Page e Plant. Ângelo toca o dedilhado de guitarra tão familiar para quem gosta de rock. Uma curiosidade: no Concertos Dana – Clássicos do Rock II esta música tem mais de oito minutos, e sempre é sinônimo de sucesso. Na emoção, Panta improvisa no vocal e usa uma frase famosa de Robert Plant: “Does anybody remember laugh there?”

André Matos volta ao palco para um momento também bastante esperado. Aos primeiros acordes de “Fear of the Dark”, do Iron Maiden, ele instiga o público: “Vai ficar todo mundo sentado?”. Ele sabe que, nos shows do Iron, essa música é a oportunidade ideal de convocar um coro de vozes do público para acompanhá-lo. Em instantes, os fãs estão em frente ao palco, fotografando, filmando, cantando junto de André, vibrando juntos. Teve até um dueto entre o maestro e André na hora do refrão.

E, no bis, todos os solistas cantaram juntos o refrão de “Stairway to Heaven”, para fechar com chave de ouro uma noite de muito rock’n’roll, orquestra de câmara e, acima de tudo, música da melhor qualidade.

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