Yeah! Com que bela noite de rock fomos brindados neste concerto que fechou com chave de ouro a temporada 2014 dos Concertos Dana. O quilate da apresentação realizada no dia 22 de novembro, no Salão de Atos da UFRGS, não deixou dúvidas: a Cachorro Grande é uma das mais efervescentes bandas de rock do país – e não é de hoje.
Com 15 anos de estrada e sete álbuns de estúdio, Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Krieger (baixo), Pedro Pelotas (teclados e piano) e Gabriel Boizinho (bateria) já conquistaram vários pagos, sempre arrecadando fãs por onde passam, inclusive outros grandes – já abriram shows do Aerosmith, Oasis e Scorpions e dividiram palco com Iggy Pop, Interpol e Supergrass. Talento e reputação construídos na estrada, de acordo com os mandamentos dos rock.
Nada mais justo do que um espetáculo completo com a grande e querida Orquestra de Câmara da Ulbra, um passo natural depois do sucesso com a palhinha de “Hey, Amigo” nas duas edições do concerto Clássicos do Rock Gaúcho, em 2012 e 2013.
O resultado foi um presente para o público que encheu o Salão de Atos. Foram 15 números viscerais, com músicas especialmente arranjadas para nosso concerto pelos amigos Alexandre Ostrowski, Daniel Wolff, Daniel Sá, Iuri Correa, Pedrinho Figueiredo e Rodrigo Bustamante.
Nossos ilustres cachorros abriram o espetáculo com “As Coisas Que Eu Quero Lhe Falar”. A espontaneidade de Beto Bruno, a luxuosa performance de Marcelo Gross e o entrosamento da banda com a orquestra pareciam mandar um recado: “as próximas horas serão muito boas”, não por coincidência, nome do segundo álbum da banda, lançado em 2004. Destaque para a força das cordas no arranjo de Rodrigo Bustamante.
Logo depois foi a vez da psicodélica “Roda Gigante”, composta por Beto Bruno. A canção que faz parte do disco “Todos os tempos” (2007) ganhou arranjo especial com referência à música “Hey Bulldog”, dos Beatles. Mais um cachorro homenageado, grande sacada de Bustamante.
Do excelente álbum “Pista livre” (2005) – masterizado nos estúdios da Abbey Road, em Londres – foi pinçada a faixa “Bom Brasileiro”, seguida da balada “Por Onde Vou”, do disco “Cinema” (2009). A feliz missão dos arranjos ficou por conta de Iuri Correa.
A emblemática “Lili” – do álbum homônimo da banda, de 2001 – contagiou a plateia, que cantou baixinho em reverência ao momento histórico. Beto Bruno, ainda incrédulo, não escondia a felicidade em ouvir um de seus primeiros sons de garagem engrandecidos pela Orquestra, uma combinação mágica que é a marca dos Concertos há 13 anos.
Doses substanciais de energia reverberaram com a eletrizante “Agoniada”. A voz rasgada e toda a atitude rocker do líder da banda incendiaram o Salão de Atos. Palmas para o incrível arranjo de Alexandre Ostrowski.
Até o maestro Tiago Flores embarcou na vibração dos guris da Cachorro e derrubou todos os protocolos – inclusive o copo de vinho do vocalista! – antes da canção “Cinema”, faixa do álbum “Baixo Augusta” (2011). “Isto aqui é rock’n’roll”, comemorou Beto Bruno. Mérito também para o arranjo assinado por Daniel Wolff.
O número seguinte trouxe uma das músicas mais famosas do grupo: “Dia Perfeito”, de Marcelo Gross. Com seu autor nos vocais, a canção lançada há 13 anos no disco de estreia da banda mostrou porque continua extasiando fãs e simpatizantes. Logo Beto Bruno juntou-se a Gross e a festa ficou completa.
Esta atmosfera continuou com os hits “Sinceramente”, “Quando Amanhecer” e “O Dia de Amanhã”, que ganharam belos arranjos orquestrais de Daniel Sá e Pedrinho Figueiredo. Destaque para os riffs poderosos de Gross que pareciam hipnotizar a plateia.
Mais uma canção do profético álbum “As Próximas Horas Serão Muito Boas”. A frenética “Que Loucura” arrancou gritos, assobios e declarações de respeito à orquestra. Impossível não se render ao carisma juvenil de Beto Bruno.
As últimas músicas do espetáculo foram recebidas por um público arrebatado diante de um show histórico. A canção “Velha Amiga” veio forte, larga, generosa. Como a boa e velha estrada da Cachorro. Como um tapete vermelho que se abre para novos caminhos. E foi o que se viu com o single “Como Era Bom”, do recém-lançado “Costa do Marfim” (2014), álbum recheado de experimentações e novos temperos.
E quando parecia que todos os ingredientes já estavam na mesa, uma catarse coletiva tomou conta do concerto no bis antológico: “Hey, Amigo” dilacerou paredes, retrocedeu ponteiros e fez o público delirar. O rock voltou pra garagem, rasgado, canino. Fomos todos pra lá.