Que belo tributo aos Reis do Iê-Iê-Iê! Nosso agradecimento a todos os amigos que prestigiaram o Concertos Dana em homenagem aos Beatles, umas das mais importantes bandas de todos os tempos e que continua inspirando músicos e fãs de várias gerações.
O que se viu no palco do Salão de Atos da UFRGS, no último domingo, 28 de setembro, foi uma linda demonstração de amor à obra do FabFour. Em mais uma bela edição, o concerto que recebeu o “Prêmio Açorianos de Melhor Espetáculo”, em 2008, reuniu nada menos que 47 artistas para reverenciar o legado dos Beatles através de vários estilos musicais. Além da Orquestra de Câmara da Ulbra, contamos com instrumentistas convidados, um coral de 12 vozes e os solistas Adriana Deffenti, Cintia de Los Santos, Daniel Germano, Hique Gomez, Paulo Mestre e Pedro Verissimo. Todos capitaneados pelo inventivo – e roqueiro! – maestro Tiago Flores.
O espetáculo começou com a força do Vocal Takt e a voz privilegiada do contratenor Paulo Mestre interpretando “I’ll Be Back”, canção do álbum “A Hard Day’s Night” (1964). Os primeiros acordes do arranjo renascentista de Fernando Matos já sentenciavam: a noite seria de intensas emoções. Intensas e inusitadas, diga-se, como a breve referência à música “You’ve Got to Hide Your Love Away”, de arrepiar.
O número seguinte, arranjado pelo cravista Fernando Cordella em estilo barroco, uniu as canções “Because” e “I’ve Just Seen a Face”. A apresentação impecável ficou por conta da soprano Cintia de Los Santos e Paulo Mestre. Com providenciais comentários do maestro Tiago Flores sobre os estilos musicais, o público foi presenteado com dois clássicos do disco “Rubber Soul” (1965): “Girl”, na voz de Cintia, e “In My Life”, por Paulo Mestre – ambas com arranjos primorosos de Rodrigo Bustamante, que homenageou os estilos clássico e romântico.
E era só o começo. O cantor Daniel Germano veio com a responsabilidade de soltar a voz em “Something”, do definitivo álbum “Abbey Road” (1969). A canção de George Harrison ganhou farta dose de emoção com o arranjo romântico de Daniel Wolff.
Ainda neste clima suave, Cintia de Los Santos voltou ao palco para derramar “Across the Universe”. A música do disco “Let it Be” (1970), agora arranjada no estilo impressionista por Iuri Correa, silenciou o Salão de Atos com a maravilhosa interpretação da soprano.
Mais um convidado especial de uma noite antológica: era a vez de Pedro Verissimo apresentar “Come Together”, também do disco “Abbey Road”. Acompanhado do imponente Vocal Takt, que permeou “Carmina Burana” ao longo da canção, Verissimo mergulhou em um número avassalador.
Para sair do transe – e entrar em outro, que noite! –, homenagem instrumental ao álbum “Magical Mystery Tour” (1967) com o medley “Penny Lane/ Magical Mystery Tour/ Hello Goodbye”. Certamente, a dupla Lennon&McCartney aprovaria com louvor o arranjo de Arthur Barbosa.
Depois do instrumental, hora de tango e (muito) carisma. Hique Gomez entrou no palco e o público se preparou: vinha coisa boa. E como veio. Hique trouxe sua versão dramática de “Eleanor Rigby” – pérola do disco “Revolver” (1966) – e arrancou uma chuva de aplausos.
Pedro Verissimo voltou para entoar o hino “All You Need is Love”. A mensagem da canção de amor e paz – e tudo o que ela representou como sinal de um tempo – foi percorrida com delicadeza pelo solista emocionado.
E a noite guardava uma surpresa especial: “Blackbird” foi providencialmente incluída no set list do espetáculo. A preciosidade do “White Album” (1968) ficou magistral na voz de Adriana Deffenti. Assim como a música seguinte, “You Never Give Me Your Money”, onde Adriana seduziu a plateia com sua potência vocal. Destaque para os arranjos de Iuri Correa e Pedrinho Figueiredo, respectivamente.
Momento mágico. Impossível passar incólume por “The Long and Winding Road”. Letra, interpretação, arranjo. Que belo trabalho de Daniel Germano e Rodrigo Bustamante, fazendo jus ao legado deste grupo que revolucionou a história da música com a poesia de suas canções. E por falar em revolucionar, nada mais apropriado do que “Revolution” para emoldurar o final de uma noite generosa. A homenagem veio com o performático Hique Gomez, outro grande.
A cereja ficou por conta de “Hey Jude” e “Yelow Submarine” – salve, Ringo Starr! – praticamente declamadas com devoção por todos os artistas acompanhados pela inspirada plateia, até que um certo Homem-Banda surgiu para conduzir a marcha. Músicos e solistas, vozes e instrumentos, público e produção – nesta noite, fomos todos para Liverpool.