PIB decepciona; mercado prevê alta inferior a 2% para este ano

O Estado de S. Paulo

 

O crescimento econômico do primeiro ano do governo Jair Bolsonaro frustrou as expectativas e registrou uma expansão de 1,1% do PIB. O resultado de 2019 foi menor que nos dois anos de governo Temer, ambos de 1,3%. A divulgação dos números e a incerteza sobre os efeitos do surto de coronavírus na economia levaram os analistas a revisar para 1,8% suas previsões para a alta de 2020. Na primeira semana do ano, as estimativas estavam em 2,3%. Por sua vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a economia está “claramente reacelerando” e disse esperar um crescimento acima de 2% neste ano, com o avanço das reformas no Congresso. Em nota, o Ministério da Economia disse que o resultado indicou uma “melhora substancial” e a economia passa a mostrar dinamismo sem depender do setor público. Após o fraco resultado do PIB, Bolsonaro escalou um humorista, vestido como presidente, para responder às perguntas da imprensa sobre o ritmo da atividade econômica.

 

O resultado do primeiro Produto Interno Bruto (PIB) do governo Jair Bolsonaro frustrou as expectativas do ano passado de uma retomada mais firme da economia, além de entregar crescimento menor do que o registrado no governo Temer. Em 2019, a expansão foi de 1,1% ante o 1,3% de 2018 e 2017. Apesar da perda de fôlego, foi o terceiro ano seguido de alta do PIB.

 

A divulgação dos números, aliada às incertezas sobre os efeitos do surto de coronavírus na economia, levou os analistas a revisarem as previsões para a alta deste ano. As estimativas do mercado financeiro apontam agora para um crescimento de 1,8%, segundo pesquisa de ontem do Projeções Broadcast. Na primeira semana do ano, as estimativas estavam em 2,3%, conforme o Boletim Focus, do Banco Central (BC).

 

A economia terminou 2019 em ritmo parecido com o do terceiro trimestre, como esperado por muitos analistas, mas a dificuldade do governo Jair Bolsonaro para avançar com as reformas econômicas, a lentidão dos investimentos, que caíram 3,3% no quarto trimestre ante o terceiro de 2019, e os prováveis efeitos do coronavírus sustentam o pessimismo.

 

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, pretende revisar sua projeção deste ano de 2% para algo próximo de 1,5%, em parte por causa do coronavírus, mas também porque o investimento segue deprimido – a taxa de investimentos ficou em 15,4% do PIB. “Para ter um crescimento sustentável, precisaria estar perto de 25%.”

 

Também revisaram projeções para baixo os economistas da corretora XP Investimentos (de 2,3% para 1,8%), da gestora de recursos ARX Investimentos (de 2,2% para 1,8%) e o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC (de 2,3% para 1,7%).

 

Na revisão da ARX, pesaram a queda dos investimentos no fim do ano, e uma visão pessimista sobre as reformas. Segundo a economista-chefe da gestora, Solange Srour, em vez de atrair investimentos, a reforma da Previdência apenas “evitou o caos”, mas faltam outras, como a tributária e as privatizações, e o ano eleitoral atrapalha. “Não estamos otimistas com reformas e isso está pesando mais sobre o crescimento”, disse.

 

Enquanto economistas do mercado financeiro, geralmente, defendem o foco nas reformas e no ajuste fiscal, outros lembram que, mesmo com a introdução do teto nos gastos, com as mudanças tanto nas regras trabalhistas quanto no crédito subsidiado dos bancos públicos (as três ainda no governo Temer) e com a reforma da Previdência (no governo Bolsonaro), a economia não acelerou.

 

Nessa visão, falta demanda. O desemprego segue elevado, as incertezas atrapalham o investimento privado, o ajuste fiscal e o investimento público. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder, Daniela Amorim, Denise Luna, Cícero Cotrim e Thaís Barcellos)