Recessão econômica amplia ajuste nas contas externas do Brasil

Folha de S. Paulo

 

O impacto da recessão e do câmbio sobre as transações do Brasil com o exterior se intensificou neste início de ano.

 

Dados fechados para janeiro e parciais para fevereiro mostram queda de quase 70% no consumo de importados e na remessa de lucro.

 

No final do ano passado, o governo tinha previsto uma redução de 30% para o ano de 2016.

 

Agora, o Banco Central já avalia rever a projeção para o deficit externo no ano, que era de US$ 41 bilhões. No mercado, as estimativas estão próximas de US$ 30 bilhões e já há analistas prevendo que uma recessão mais forte pode levar a um rombo ainda menor.

 

Contas externas

 

­ Em US$ bilhões – Para janeiro, o BC projetava deficit de quase US$ 7 bilhões, mas apurou um resultado negativo de US$ 4,8 bilhões, queda de 60% em relação a janeiro de 2015. Para este mês, o deficit esperado é de US$ 1,5 bilhão, 80% menor que o verificado há um ano.

 

Em nove meses, o deficit em 12 meses saiu de um pico de 4,51% do PIB, nível considerado preocupante pelo mercado, para 2,94%.

 

A queda no deficit significa, por um lado, menor pressão sobre o câmbio, pois o Brasil tem recebido recursos suficientes para financiar esses gastos. Por outro lado, reflete a piora no ambiente econômico dentro do país, que pode estar se intensificando.

 

Remessas

 

Um dos dados que mais surpreenderam no mês passado foi a queda de 70% nas remessas de lucros ao exterior. O valor enviado entre 1º de janeiro e a última sexta­feira (19) equivale a menos de um terço do verificado apenas em janeiro de 2015.

 

Também houve queda significativa nas viagens ao exterior, nas importações e, consequentemente, nas despesas com transporte de passageiros e cargas. “Os dois componentes que estavam presentes em 2015 permanecem influenciando o resultado: o menor ritmo da atividade econômica, que implica menor demanda por bens e serviços do exterior, e a desvalorização cambial”, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.

Deficit em transações correntes em 12 meses ­ Em % do PIB O economista­chefe do banco Haitong, Jankiel Santos, afirma que os números apontam uma retração maior da atividade econômica, dos lucros e da renda dos brasileiros nesse período.

 

“A surpresa veio de maneira mais importante na contração de remessas de lucros e despesas com viagens, que é uma sinalização bastante clara da contração da renda junto com a valorização do câmbio”, afirmou.

 

Investimentos

 

Maciel destacou que a entrada de recursos tem sido mais que suficiente para cobrir o deficit externo. O investimento direto no país, principal fonte de financiamento do deficit, recuou 5%, para US$ 5,5 bilhões em janeiro.

 

Os dados do BC mostram ainda que as empresas brasileiras estão com dificuldade para obter recursos no exterior. Em janeiro, apenas 17% das dívidas de médio e longo prazo foram roladas. Em fevereiro, 67%.

 

Segundo Maciel, dívidas de prazos mais longos que vencem estão sendo refinanciadas por prazos menores, devido ao aumento no custo do crédito no exterior. Muitas companhias brasileiras, assim como o país, perderam o grau de investimento ou enfrentam problemas devido à Operação Lava Jato. (Folha de S. Paulo/Eduardo Cucolo)