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Muiraquitã
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Conta a lenda que em um tempo distante – 400 ou 600 anos atrás -, existia, entre as várias tribos que habitavam a região amazônica, uma formada exclusivamente por mulheres. Versadas nas artes da guerra, as Icamiabas, como eram então conhecidas, tinham fama de bravas e invencíveis lutadoras. Por isso, nem o mais ousado guerreiro penetrava nos domínios daquela tribo.

Superando a tradição de fragilidade feminina, as Icamiabas sempre cumpriram todas as obrigações tradicionalmente vinculadas aos homens. Caçando, lutando ou adorando seus próprios deuses sem a necessidade da presença masculina, construíram uma nação forte e temida que, com o tempo, passou a ser conhecida como Amazonas. A tribo das Amazonas.

Mas o poder e a independência dessas guerreiras não eram suficientes para a preservação da tribo. Para procriar necessitavam da presença do homem. Por isso, em determinadas épocas, abriam exceção em suas rígidas leis e recebiam na aldeia, às margens do lago Jaci-Uaurá, grupos de homens de tribos vizinhas.

magem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Era um período de festas. Durante a Lua cheia, os homens vinham das mais distantes regiões, seguindo os rios abundantes, ávidos em aproveitar a única oportunidade que teriam de penetrar nos domínios das mulheres guerreiras. E possuí-Ias. As cerimônias religiosas eram realizadas sempre na última noite de permanência dos homens na aldeia. As mulheres dirigiam-se com eles para as margens do lago no qual, em honra de Jaci, a Lua, mãe dos frutos, entoavam cânticos e orações.

Quando a superfície calma das águas refletia o brilho intenso da Lua, as mulheres mergulhavam no lago e nadavam até o fundo para encontrar-se com a Mãe do Muiraquitã. De suas mãos recebiam uma substância argilosa de cor verde, com a qual esculpiam pequenas figuras tais como tartarugas, peixes, cilindros ou qualquer outra que lhes viesse à mente.

De volta à superfície, as pequenas esculturas, ainda moles, tornavam-se duras como pedras. Pequenos, verdes e brilhantes, esses talismãs cumpriam então o seu destino. Nessa noite de amor, as Icamiabas passavam ternamente as pequenas jóias para o colo de seus escolhidos. Transformados em troféus, os Muiraquitãs eram usados pelos homens, que os penduravam no pescoço para que sua mágica os protegesse de todos os perigos, dando-lhes poderes sobre os outros homens.

magem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

As pequenas esculturas, veneradas como poderosos talismãs, eram então passadas de geração a geração aos filhos desses guerreiros, como herança de um momento de vitória de suas tribos sobre as temíveis mulheres guerreiras. As Icamiabas, por sua vez, após o período de gestação, separavam os meninos nascidos que eram mortos – e educavam as meninas nas artes da guerra.

Foram-se os séculos, desapareceram as Icamiabas, mas restou a lenda. Até hoje, os Muiraquitãs são encontrados na região amazônica, sem que ninguém consiga explicar sua procedência. Sempre cuidadosamente trabalhados, esses amuletos são feitos de um material cuja jazida jamais foi encontrada.

Origem da lenda

Encontrados na região amazônica, especialmente nos arredores de Óbidos e nas praias entre a foz dos rios Nhamundá e Tapajós, esses estranhos amuletos são famosos por apresentar figuras muito bem esculpidas, representando geralmente animais ou formas geométricas. O mais curioso é que não são conhecidas na região quaisquer jazidas de materiais dos quais são feitos esses amuletos – jade, nefrita, feldspato, porfiro ou jadeíte –, tornando ainda mais misteriosa sua origem.

A fama dessas pedras espalhou-se por todo o mundo, tendo os ingleses reproduzido em louça os Muiraquitãs sagrados dos índios brasileiros, colocando-os à venda, sempre por um bom preço. Alguns exemplares das pedras originais podem ser apreciados em museus ou em poder de colecionadores.

magem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Em todo o mundo, principalmente na América Latina, África e Ásia, registra-se o fascínio exercido pelas pedras verdes sobre muitos povos. As esmeraldas sagradas das tribos andinas ou as pedras de jade indianas e chinesas sempre tiveram fama como amuletos ou sinais de ascendência dos que as possuíam sobre os outros. Perguntados sobre a origem dos Muiraquitãs, os índios mais antigos afirmavam convictamente terem herdado de seus antepassados. Esses, por sua vez, afirmavam ter sido os amuletos presentes das mulheres da tribo das Icamiabas.

Das Icamiabas, também conhecidas por Amazonas, existem muitos registros dos viajantes pioneiros. Alguns afirmam ter presenciado batalhas em que aquelas mulheres batiam bravamente os homens. Outros, simplesmente recordaram as histórias ouvidas dos próprios índios da região. Não existem, porém, provas concretas da existência da famosa tribo das mulheres guerreiras.

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DobraDana

A lenda do Muiraquitã e das bravas índias guerreiras merece continuar sendo contada. Imprima o PDF do DobraDana e leve com você estas incríveis histórias da região amazônica.

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