Nesses mais de 20 anos, desde que deixei a Fórmula 1, muitas coisas aconteceram e inúmeros pensamentos me passaram pela cabeça. Mas, por essas surpresas que a vida sempre nos reserva, entre os sonhos mais improváveis estava exatamente o que estou realizando agora. Ter a oportunidade de relembrar cada momento, reencontrar velhos amigos e mostrar, no Brasil e no exterior, a seriedade do trabalho que realizamos com a Equipe Fittipaldi de Fórmula 1, é uma das emoções mais fortes e profundas de minha vida.
Sinto-me de volta ao GP da Argentina de 1975, quando alinhamos nosso carro pela primeira vez na Fórmula 1. Voltam-me as lembranças do começo da minha carreira em Interlagos, os protótipos que inventamos, as dificuldades passadas e, principalmente, a satisfação em saber que, com aquela ousadia, colocávamos o Brasil no pequeno grupo de países capazes de dominar a mais avançada tecnologia do automobilismo mundial.
Mas também não tenho como deixar de recordar a dor e a desilusão ao fechar a equipe em 1982. As severas críticas da imprensa da época, o carrossel de esperanças e desilusões na busca por patrocínios e, ao final de tudo, a terrível sensação de ter que enfrentar a realidade e seguir em frente na vida, mesmo não sabendo o que fazer, o que pensar ou para que lado ir. Por tudo isso, posso garantir que a emoção que senti em novembro de 2004, ao restaurar nosso primeiro carro e colocá-lo de volta em Interlagos, foi até maior da que senti quando o alinhei pela primeira vez em Buenos Aires.
Trinta anos depois, revia a história, atribuindo-lhe muito mais valor e sentimento. Ver novamente o carro perfeito, a dedicação dos mesmos mecânicos da equipe e o trabalho intenso para alcançarmos sempre o melhor. Meu grande sonho voltou à realidade. Mas, agora, com um final muito feliz e gratificante.
Não dá para explicar o que ficou guardado aqui dentro todos esses anos. Sempre soube que poderíamos ser competitivos e, hoje, tenho a certeza de que o Brasil poderia ter tido um time de ponta na Fórmula 1.
Mas, se o tempo não volta, ao menos as voltas que damos nesse grande autódromo que é a vida, reservam-nos gratas surpresas. Hoje, sinto-me realizado. Não apenas pelo meu sonho, mas também por quem esteve comigo desde o início, como o Ricardo Divila e o Darci Medeiros, e por quem acompanhou e sofreu comigo cada um desses momentos, como o meu filho Christian.
Wilson Fittipaldi Jr.