Nissan quer 7% de market share e não endossa coro contra concorrência chinesa

Motor 1

 

A Nissan segue crescendo no Brasil e aposta em sua estratégia de longo prazo para ampliar sua fatia de mercado. Investindo na adaptação do Complexo Industrial de Resende para produção de 2 novos SUVs, a marca também prepara o lançamento de uma inesperada picape de porte médio-compacta. Nem mesmo os novos concorrentes assusta a marca no país.

 

Nesta última quinta-feira (27), Motor1.com Brasil conversou com o Presidente da Nissan América Latina e Vice-Presidente Corporativo Global da Nissan, Guy Rodríguez, e Gonzalo Ibarzábal, Presidente da Nissan do Brasil sobre os resultados conquistados, perspectivas de mercado e até mesmo sobre futuros lançamentos.

 

Crescimento acima do mercado

 

Rodríguez destacou durante a conversa o crescimento de 35,2% nas vendas no Brasil em 2023, já consolidado, e que foi o maior aumento entre as montadoras instaladas no país. Porém, provando que a estratégia está funcionando, o executivo também mostrou que o crescimento segue acentuado também em 2024, atingindo alta de 34,3% no acumulado dos 5 primeiros meses de 2024.

 

“Nós estamos vindo com esse impulso desde o ano passado. E quando você olha o crescimento por modelo, todos os modelos estão evoluindo para em cima. O carro-chefe, em termos de crescimento, é o Kicks porque encontramos alguns canais de vendas nos quais nós temos algumas vantagens competitivas com nossos concessionários. Especificamente em PCD, um canal de vendas em qual nós temos entendido as necessidades do cliente, esse é um dos pontos. Depois, o Versa, acontece um pouco o mesmo, em quanto ao canal de venda de PCD também”, explicou Guy Rodríguez.

 

A rede, que atualmente possui 199 concessionárias, também deve crescer. “O objetivo é crescer, nós temos no plano manter e crescer um pouco nossa capilaridade, nossa cobertura do mercado. Hoje estamos com uma cobertura de perto de 85% geográfica. Talvez tenhamos alguns concessionários a mais, mas no plano é talvez 10 concessionários a mais em dois anos, mas não mais que isso”, afirmou Rodríguez.

 

A meta estabelecida é sair de 3,5% ou 4% de participação de mercado e chegar a 7%. “A nível mundial, nós falamos que vamos fazer mais de 1 milhão de unidades de crescimento, 330 mil nas Américas. A LATAM, no ano passado, nós vendemos 403 mil unidades, em 39 mercados. Vamos lançar dois SUVs. Um é o Novo Kicks. Nós já mostramos o Novo Kicks nos Estados Unidos. Vocês já viram que o veículo cresceu e nós vamos incomodar muitas pessoas com esse veículo”.

 

Dois novos SUVs, Picape inédita, X-Trail

 

Em quase todas as conversas com executivos da Nissan, um tema recorrente é a “paciência” da marca para lançar novos modelos, ou seja, demoram mais que a concorrência. Mais uma vez, os dois executivos bateram na tecla de que a Nissan segue uma estratégia definida de consolidação da marca com lançamentos que vão permanecer em linha por muito tempo.

 

“Trazer novos produtos é um trabalho adicional, um foco adicional. Então, realmente, vamos ter mais produtos. Vamos ter veículos de segmentos acima (X-Trail), acima. Se nós queremos passar de 3,5% ou 4 %de participação de mercado a 6, 7% tem que estar bem-preparado. Você precisa de treinar o time técnico, você precisa ter uma pós-venda sólida e isso toma tempo. Naqueles mercados onde nós temos tido crescimento, sempre foi devagar. Porque tem que fazer o investimento, tem que fazer os treinamentos, temos que entender o mercado e onde nós iremos. Se você vai muito rápido, em longo prazo você vai ter impactos fortes”, disse Rodríguez.

 

Em novembro de 2023, a Nissan anunciou o investimento de R$ 2,8 bilhões para produzir os 2 novos SUVs no Brasil e um motor turbo. Um deles é o novo Nissan Kicks, já mostrado nos Estados Unidos. Surpresa ficou por conta da confirmação da inédita picape. Em relação ao X-Trail, a Nissan afirmou que está nos planos.

 

Sem medo da concorrência

 

Previsibilidade. Esta fala foi amplamente repetida pela Anfavea nos últimos anos para que a indústria tivesse a confiança no país e trazer novos investimentos. Após conseguir o que queria, com a aprovação do Mover, e também com o retorno gradual do imposto de importação, agora a Anfavea pede que o combinado seja quebrado e o imposto seja aplicado integralmente desde já.

 

Os argumentos são sempre os mesmos: precisa proteger empregos, investimentos, proteger a indústria (mesmo que seja uma proteção sobre tecnologias que não fazem por aqui e nem farão no curto prazo). Mediante estes argumentos, perguntamos diretamente ao Vice-Presidente Global da Nissan:

 

– Vocês vão fechar fábrica no Brasil por causa da concorrência?

– “NÃO”, afirmou Guy Rodriguéz.

 

– Vocês vão mudar o plano de investimentos ou lançamento de produtos por causa da concorrência chinesa?

– “NÃO”, mais uma vez afirmou Rodriguéz. “Nós concorremos. Vou dar um exemplo fácil. O México, vocês conhecem bem o México. Como funciona a entrada de importados no México? Bem aberto o mercado do México. Então, no México, faz 16 anos que somos líderes, estamos acima do segundo por mais de 3, 4 pontos, sendo que 90% fabricamos lá. A nossa é concorrência é 70% importada. Então eu acho que esse pedido [Anfavea] é uma visão de bem curto prazo”, explicou o executivo.

 

Ambos os executivos também disseram que é preciso ter previsibilidade e que a regra do jogo não mude. “O que tem que ter são regras previsíveis. Acho que o MOVER é muito bom porque ajuda a ter tecnologia no país. Às vezes trazer tecnologias é difícil porque o volume é pequeno no começo. Então, claramente, ajudar a trazer novas tecnologias, desenvolvimento de novas tecnologias. Então, sempre visíveis”, concluiu.

 

“Como disse o Guy, em termos de previsibilidade, as regras claras, é sempre o melhor para nós. Porque os investimentos são para 20 anos. Nós não estamos olhando para 2, 3 anos. Então a previsibilidade é o melhor. E se tem mais concorrentes, bem-vindos”, disse Gonzalo Ibarzábal.

 

Questionado novamente se a chegada dos carros chineses com novas tecnologias e preços agressivos afastaria a Nissan do país, Guy Rodríguez foi enfático: “Não vou mudar nada. Não vou mudar nada. Eu posso ter dez concorrentes, mas não vou mudar nada. Eu tenho um plano. Eu vou estar aqui daqui 10 anos. Vou estar aqui e vou ser maior do que hoje. Essa é a única coisa que eu posso garantir. Que nós vamos ser maiores do que hoje em 10 anos”, concluiu. (Motor 1/Fábio Trindade)