Disparada do dólar traz riscos para a Selic e a inflação, dizem economistas

O Estado de S. Paulo

 

O movimento de valorização do dólar nas últimas semanas – ontem, em novo dia de estresse no mercado, a moeda fechou cotada a R$ 5,26, alta de 1,61%; é o maior valor desde 13 de março de 2023 – pode gerar uma pressão inflacionária no Brasil e, consequentemente, provocar a desaceleração do atual ciclo de cortes da Selic (a taxa básica de juros). A avaliação é de economistas ouvidos pelo Estadão, segundo os quais a aversão do investidor ao risco internacional e às incertezas sobre o ajuste fiscal no Brasil tendem a gerar impacto na economia brasileira e aumentar o desafio do governo Lula para entregar bons resultados econômicos.

 

Entre os principais fatores para a alta recente das cotações, estão a crescente percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deve cortar os juros tão cedo (o que fortalece a moeda em nível mundial); o receio de agravamento do conflito armado no Oriente Médio; e a decisão da equipe econômica de adiar o ajuste das contas públicas. Pelo Projeto de Lei de Diretrizes

 

Orçamentárias (PLDO) de 2025 enviado ao Congresso, a previsão de superávit fiscal ficou só para 2026 – último ano do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (mais informações na pág. B2).

 

Em relatório enviado ontem a clientes, o banco BNP Paribas alterou sua projeção para o IPCA (o indicador oficial de inflação do País) e para a Selic no ano. No caso do índice de preços ao consumidor, a instituição prevê agora uma variação de 4%, ainda dentro da meta que tem de ser atingida pelo Banco Central (de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo), mas acima da estimativa anterior de 3,5% do banco.

 

Economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho afirma que pode haver pressão sobre os preços com impacto no IPCA e também aumento do custo para investir no País. Num cenário como esse, o BC poderia ter menos espaço para mexer nos juros. O BNP passou a projetar uma Selic de 9,5% no fim do ano, ante 9% antes.

 

Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, também avalia que pode haver uma desaceleração no ritmo de cortes dos juros. “Como o BC brasileiro também olha para tudo isso (EUA e Oriente Médio), porque a economia é um sistema de vasos comunicantes, não dá para dizer que tudo está, hoje, como estava ontem. Mudou”, afirma ele.

 

Com a alta de ontem – a quinta consecutiva –, o dólar passou a acumular uma valorização de 8,56% desde o início do ano. Durante o dia, a moeda chegou a bater em R$ 5,28. Operadores relataram ainda uma forte saída de investidores estrangeiros da Bolsa de Valores (que voltou a fechar em queda, desta vez de 0,75%, aos 124,3 mil pontos), o que tem ajudado a pressionar o câmbio no chamado mercado futuro. (O Estado de S. Paulo/Beatriz Bulla e Antonio Perez)