Tesouro Selic deve render abaixo da inflação

O Estado de S. Paulo

 

Com a redução de 0,5% ponto porcentual da taxa básica de juros, a aplicação no Tesouro Selic deve ter rendimento abaixo da inflação. O que significa que, em um ano, o dinheiro investido ali, perde poder de compra.

 

A conta é simples. Considerando-se, para os próximos 12 meses, a inflação projetada para 2020 pelo Boletim Focus, que é de 3,1%. Com a nova taxa de juros, descontadas as taxas e Imposto de Renda, o Tesouro Selic renderia 2,8% em um ano. Sendo assim, a alta de preços da economia seria maior que o rendimento da aplicação.

 

Os cálculos são do professor de finanças da FGV e colunista do Estado, Fábio Gallo. Mesmo assim, a aplicação segue um pouco acima da poupança – que ficou com rendimento de

 

Cautela

 

Fábio Gallo 2,62% ao ano –, seguindo com características importantes em tempos de crise: liquidez e segurança.

 

As letras de crédito imobiliário (LCI), que paguem 97% do CDI, e CDBs, que remunerem 116% do CDI, seguem ganhando da inflação projetada. Em um ano, estima-se que eles tenham, respectivamente, rendimentos de 3,64% e 3,48%.

 

Já para o investidor que tem mais prazo para resgatar o investimento e está disposto a correr risco, há outras possibilidades na renda fixa. Em meio à crise causada pela pandemia do coronavírus, títulos atrelados à inflação com vencimento em 2026, por exemplo, aumentaram seu prêmio sobre o Índice

 

Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 4,16%. Com vencimento no mesmo ano, os títulos prefixados – que definem no momento da compra toda a remuneração que o investidor terá quando fizer o resgate – apresentam remuneração de 8,32%. Isso acontece porque, apesar do corte de ontem, promovido pelo Copom, a expectativa do mercado é que, no futuro, os juros voltem a subir. Sendo assim, os títulos que têm prazos mais longos, oferecem uma remuneração melhor.

 

“Podemos dizer que, no momento, as melhores oportunidades estão nos títulos atrelados à inflação e nos prefixados.

 

Agora, os prefixados têm mais risco, já que, caso a taxa de juros ou a inflação subam mais que o esperado, o investidor já aceitou a remuneração”, diz Gallo.

 

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, os títulos atrelados à inflação até podem ser uma possibilidade nas carteiras dos investidores, mas a recomendação é ficar no pós. “Na nossa visão, o Copom não fará mais cortes e, lá na frente, volta a subir as taxas.”.

 

O coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michel Viriato, diz ainda que a inflação pode arrefecer mais com a crise e fazer o Tesouro Selic, que é um título pós-fixado, voltar a ter ganho real.

 

“Podemos dizer que, no momento, as melhores oportunidades estão nos títulos atrelados à inflação e nos prefixados”, professor da FGV e colunista do “Estado”. (O Estado de S. Paulo/Talita Nascimento)