Um tsunami atinge a economia brasileira

O Estado de S. Paulo

 

A economia brasileira está sendo atingida por um tsunami. O momento não é mais para palpitar sobre quantos pontinhos mais cairá o PIB deste ano, mas de distribuir paraquedas e coletes salva-vidas.

 

Quaisquer modelos matemáticos que se empreguem mostram duas coisas: (1) diante do despreparo, os estragos do coronavírus tendem a se espalhar rapidamente também por aqui; e (2) mantida a tendência, a hemorragia das contas públicas será colossal.

 

Só porque é “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como canta o samba de Jorge Ben Jor, não há por que poupar o Brasil dos flagelos que já atingiram tantos países.

 

Isso vai exigir providências que implicarão fechamento temporário de fábricas e do comércio. A hotelaria, companhias aéreas, empreendimentos ligados a congressos e turismo e companhias de transporte sofrerão forte impacto nas suas receitas. Empresas mais endividadas terão dificuldades para honrar seus compromissos. Não há ideia de como os bancos serão atingidos, mas se a clientela baquear não há, também, como evitar o impacto sobre eles e demais credores.

 

As contas públicas que já vinham sofrendo de raquitismo enfrentam ameaças em pinça. A primeira, relacionada com a queda de receitas, vai ligada à quebra da atividade econômica e da renda, à redução do consumo e também ao desemprego. Uma fatia da arrecadação deixa de acontecer.

 

É também a situação a que está exposto o setor do petróleo. A derrubada internacional dos preços, de 28% em apenas cinco dias úteis, não tem prazo para se recuperar. O governo federal vai perder royalties, contribuições especiais e receitas com leilões de áreas de exploração. Alguns Estados, especialmente Rio de Janeiro e Espírito Santo, cujos orçamentos são fortemente dependentes de receitas com royalties (sempre calculados sobre os preços), também levarão pauladas. Os Estados mais dependentes das receitas de ICMS sobre combustíveis – a maioria – também serão atingidos.

 

A deterioração das contas públicas alcança também a ponta das despesas. Os deputados federais já indicaram propensão a empurrar a União a mais gastos, para além do teto admitido. É o que se viu na quarta-feira por ocasião da derrubada do veto presidencial, no caso da concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que ampliou as despesas em R$ 20 bilhões.

 

A motivação dos deputados é eleitoreira. Mas escora-se em justificativa pseudotécnica. Em momentos de crise, espera-se que o governo aumente suas despesas, que é para irrigar o mercado com mais recursos e ajudar a enfrentar o sufoco. É o que determinam os manuais de inspiração keynesiana. Essa é justificativa pseudotécnica por uma simples razão: a recomendação de aumentar despesas públicas em tempo de crise visa a irrigar projetos de infraestrutura que ajudem também a aumentar empregos e não o consumo, como pretendem os deputados.

 

O problema adicional é o de que os Tesouros estão exauridos. Nessas condições, mais despesas descasadas de receitas implicam emissão de moeda e, portanto, inflação. Ou aumento de impostos, que ampliaria a sangria do trabalhador. É a política de passar rasteiras em quem já está mal das pernas. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)