Como é ter uma fábrica parada pela Covid-19

O Estado de S. Paulo

 

A Marcopolo tem uma fábrica no Novo Distrito de ChangZhou, na cidade homônima que fica na Província de JiangSu, na China. É lá que a empresa gaúcha produz componentes e carrocerias de ônibus de diferentes modelos, para vender, principalmente, a países da Ásia e da Oceania como Hong Kong, Mianmar e Austrália.

 

A produção é de um ônibus por dia, por turno de trabalho. No dia 25 de janeiro, a operação foi fechada por festa: eram as comemorações do ano-novo chinês e todos os funcionários partiram para visitar suas famílias.

 

A previsão de retorno era o dia 10 de fevereiro, logo após as celebrações. Mas como o país foi atingido em cheio pelo surto de coronavírus, o retorno às atividades na fábrica só começou a acontecer parcialmente há pouco mais de uma semana, no dia 2 deste mês. Só na próxima terça-feira está previsto o retorno de forma plena, inclusive com o recebimento de insumos dos fornecedores.

 

O fato de os cerca de 200 funcionários serem cidadãos chineses facilitou a gestão da crise. “Não tivemos nenhum expatriado para retornar ao Brasil”, escreveu ao Estadão/Broadcast o diretor de Estratégia e Negócios Internacionais da companhia, André Vidal Armaganijan. “Os funcionários retornaram para suas casas, aguardaram a definição e a chamada para retornar às atividades.”

 

A quarentena – e a garantia de que os funcionários ficaram em suas casas – foi monitorada e garantida pela comprovação por deslocamento de celular. Segundo Armaganijan, todos os funcionários têm celular e antes da paralisação passaram pelo processo de escaneamento de um código QR, cedido pela China Mobile. “(Essa ferramenta) permitiu identificar onde cada um esteve durante o período de quarentena”, disse.

 

Tanto quanto a fábrica, o relacionamento comercial com os clientes também foi derrubado pela epidemia. “Diversas visitas de clientes e potenciais clientes de mercados como Hong Kong/Mianmar, Oriente Médio e Tanzânia estavam programadas para os meses de fevereiro e março, e todas foram canceladas, sem ainda confirmação de remarcação”, informou Armaganijan.

 

Como a paralisação se estenderá por quase dois meses (de 25 de janeiro a 17 de março), o impacto na produção e no atendimento das demandas será comprometido, segundo ele. “A perda de produção estimada é de dois a quatro meses”, disse.

 

Com o retorno das atividades administrativas no fim de fevereiro e da área produtiva no início de março, a fábrica está operando de maneira parcial e utilizando insumos que estavam em estoque.

 

Perdas

 

O retorno do recebimento de componentes e insumos de fornecedores só será reativado na segunda quinzena de março. Por isso, a programação de retorno está prevista para 17 de março.

 

“Somente após a normalização das atividades produtivas e do fluxo de recebimento de insumos por parte dos fornecedores é que poderemos mensurar as perdas e também o atraso na entrega de pedidos dos clientes”, disse ele. Por enquanto, a estimativa é de um atraso de dois a quatro meses no processo como um todo.

 

Nenhum funcionário foi contaminado até o momento. A fábrica possui dois funcionários da cidade de Wuhan, os quais não têm data para voltar, já que a localidade ainda está sob controle militar.

 

O maior desafio, segundo o executivo, é contornar a questão das visitas de clientes e potenciais clientes agendadas que tiveram de ser canceladas ou adiadas. Com a situação, ainda não há uma definição de quando as visitas poderão ser retomadas. (O Estado de S. Paulo/Cristiane Barbieri)