Confiança cresce, mas não assegura indústria forte

O Estado de S. Paulo

 

Indicadores de confiança da indústria divulgados nos últimos dias pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram mais positivos do que os registrados nos meses anteriores, mas nem por isso eles significam que está em curso uma retomada industrial significativa. Para que esta recuperação fosse possível, seria preciso remover um amplo conjunto de entraves, que começam pelos custos excessivos decorrentes da falta de infraestrutura e da carga fiscal elevada, até chegar ao problema mais agudo: a falta de demanda derivada do baixo ritmo da atividade econômica.

 

A prévia da Sondagem da Indústria da FGV mostrou tênue melhora em julho, tanto da situação atual como das perspectivas futuras dos negócios, mas com indicadores abaixo da linha de corte de 100 pontos que separam os campos positivo e negativo. Também foi registrado pequeno avanço no nível de utilização da capacidade instalada, sem afastar os ônus da ociosidade.

 

Números mais expressivos aparecem no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), da CNI, que subiu pelo terceiro mês consecutivo e atingiu 59,4 pontos em agosto, superando a média histórica de 54,5 pontos e a marca de 50 pontos, acima da qual há confiança dos empresários.

 

Na avaliação da CNI, as grandes empresas são as mais otimistas, seguindo-se as indústrias de porte médio. As pequenas companhias são menos otimistas. Entre os segmentos mais confiantes está o extrativo, o que parece estar ligado à alta de preços do minério de ferro após o desastre de Brumadinho. Com a redução da oferta, as cotações subiram.

 

O economista da CNI Marcelo Azevedo acredita que há motivos para a melhora das expectativas. “Há uma sequência de boas notícias: a queda dos juros, a liberação do FGTS e a aprovação em segundo turno da reforma da Previdência”, afirmou.

 

A recuperação industrial, se de fato ocorrer, tende a ser gradual, avaliam analistas do departamento econômico do Bradesco. A melhora não deverá ser suficiente para provocar uma reversão positiva dos indicadores industriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que expuseram o declínio do setor secundário da economia entre os segundos trimestres de 2018 e de 2019. A indústria ainda produz 17,9% menos do que no pico, em maio de 2011. (O Estado de S. Paulo)