Inflação é a mais baixa para o mês em cinco anos

O Estado de S. Paulo

 

A inflação oficial no País subiu a 0,19% em julho, praticamente toda em decorrência do encarecimento da conta de luz. A despeito da energia elétrica mais alta, o resultado surpreendeu positivamente. A taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a mais baixa para o mês em cinco anos, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Os preços dos alimentos ficaram praticamente estáveis, ao mesmo tempo em que as famílias gastaram menos com combustíveis, vestuário e itens de higiene pessoal. A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses desceu a 3,22% em julho, aquém da meta de 4,25% perseguida pelo Banco Central este ano. O cenário inflacionário comportado deixa o caminho livre para nova redução na taxa básica de juros, a Selic, opinam analistas.

 

“Os componentes do IPCA mais sensíveis à demanda e à política monetária seguem em nível mais baixo. Segue essa dinâmica muito tranquila, como temos visto há bastante tempo”, aponta a economista Julia Passabom, do Itaú Unibanco. Ela aposta em mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic. A redução levaria a taxa a 5% ao ano ao fim de 2019.

 

O estrategista-chefe da assessoria de investimentos Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, avalia que a inflação não terá força, uma vez que a economia não cresce. “O IPCA vai justamente em linha com a capacidade ociosa do País e a falta de crescimento. Devemos ter um PIB (Produto Interno Bruto) abaixo de 1%, entre 0,70% e 0,80% (em 2019). É muito aquém do esperado”, justifica.

 

Insegurança

 

O IPCA sofre pressões pontuais; não há nada ainda que indique influência de eventual aumento na demanda da população por bens e serviços, diz Fernando Gonçalves, gerente no Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

 

O aumento sazonal na procura por passagens aéreas e alimentação fora de casa nas férias de julho impulsionou os preços desses itens. No entanto, a elevada informalidade no

 

mercado de trabalho e o alto endividamento das famílias ainda não dão segurança para que aumentem o consumo, justifica o pesquisador do IBGE. “Só pressões pontuais, nada que indique pressão de demanda”, diz.

 

Neste mês, a inflação sofrerá o impacto da entrada em vigor da cobrança extra na conta de energia elétrica da bandeira tarifária vermelha. A bandeira vermelha patamar 1 levará à cobrança de R$ 4 adicionais a cada 100 kw/h consumidos em agosto. “Isso com certeza tem um impacto no índice”, diz Gonçalves.

 

A safra agrícola recorde esperada para este ano pode ajudar a amenizar a pressão sobre a inflação através dos alimentos, acredita Gonçalves. “A safra agrícola veio muito boa, alimentos têm peso importante (na cesta de consumo das famílias).”

 

Além da energia elétrica, o reajuste na gasolina nas refinarias e alimentos de safra mais curta podem impulsionar a inflação ao consumidor em agosto, acredita André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

 

A parte de alimentos in natura tem mais volatilidade, são safras mais curtas, como alface, cebola e tomate”, justifica Braz. “Em serviços, a demanda está fraca ainda. Não esperamos aceleração de preços no curto prazo”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Thaís Barcellos)