Carros automatizados levam tecnologia a oficinas “mecânicas”

O Estado de S. Paulo

 

A tecnologia embutida nos carros cresce a passos largos e, junto com os avanços tecnológicos que modificam a indústria automobilística, o setor de reparos tem a obrigação de se atualizar. As tradicionais oficinas com ambientes escuros, muitas ferramentas manuais, graxa para todos os lados e sem setores específicos estão dando espaço a uma nova abordagem, com ambientes mais receptivos e tecnológicos.

 

Segundo o diretor da unidade de automobilística do Senai, João Domingos, a atualização em tecnologia e a profissionalização da gestão da oficina são os principais pontos para um negócio na área se manter competitivo no mercado. “Quem se destaca são aquelas oficinas que conseguem alinhar boa gestão com quadro técnico preparado para atender essas novas demandas tecnológicas.”

 

Ainda segundo o diretor, o mercado de oficinas autônomas está “sem dúvida nenhuma” em expansão e compara o serviço à medicina para explicar como a tecnologia veio para ajudar, e não para substituir os profissionais. “Um bom médico sempre está amparado por aparelhos para ajudar no diagnóstico. Com o mecânico é a mesma coisa. Eles têm grande conhecimento sobre o assunto, mas, para chegar de fato na causa e resolver o problema, é necessário ter a tecnologia para embasá-los”, diz Domingos.

 

Scanners para a injeção eletrônica, videoscópio para detectar falhas do motor sem que seja necessário o desmonte total e osciloscópio para realizar diversos diagnósticos dos componentes do sistema elétrico do veículo são ferramentas cada vez mais necessárias dentro de uma oficina. Isso acontece pois os carros manuais estão circulando menos e isso obriga os empreendedores da área a se atualizar para atender os clientes.

 

É o caso de Guilherme Guimarães, que fundou a Hawks Repair em 2016. Depois de trabalhar 14 anos em uma multinacional do ramo automotivo, decidiu empreender na área e, na hora de abrir sua oficina, preocupou-se em ter um ambiente antenado com as tecnologias.

 

Segundo ele, grande parte dos diagnósticos ali são feitos com o auxílio de equipamentos. “A falta de tecnologia e de conhecimento técnico pode fazer o reparador inserir um defeito em vez de consertá-lo. Por isso, ter conhecimento em tecnologia é fundamental para uma oficina hoje em dia.”

 

Troca de informações

 

Para se manter informado das novidades e tendências do mercado, o engenheiro de formação também faz parte do Grupo Técnico de Oficinas (GTO), criado em 2017. São 23 membros que trocam experiências, conhecimentos, dúvidas e fazem treinamentos. “Todos se ajudam e fica mais fácil de entender o mercado”, conta Guimarães.

 

Sem nenhuma ligação anterior entre eles, os membros do grupo se conheceram por meio de um representante da Bosch, que percebeu a falta de informação técnica e apoio às oficinas licenciadas da marca. Em 2015, ele sugeriu que os profissionais começassem a se encontrar. Dono da Auto Mecânica JJ e responsável pelo marketing do GTO, Geovanni Lodo conta que a principal demanda dos participantes do grupo é justamente a busca pelo apoio às novas tecnologias. “A parte mecânica, manual, sempre vai existir, mas hoje até para descobrir um problema mecânico você usa tecnologia”, afirma Lodo. “O grupo busca acompanhar a tecnologia não só no sentido do carro, mas também no sentido da oficina como negócio”.

 

Foi isso o que motivou Hélio Salvador, da oficina mecânica Salvador, a fazer o curso de tecnologia de sistemas automotivos no Senai. “Eu tenho a parte prática, mas não tinha muito conhecimento teórico. Fui buscar um curso para ter conhecimento aprofundado sobre as novas tecnologias do automóvel”, diz ele, que é filho do fundador da oficina, aberta em 1988.

 

Sempre investindo em novos equipamentos, o mecânico, que atende em sua maioria carros nacionais, viu necessário um investimento em novos equipamentos e adquiriu um osciloscópio (que mede sinais elétricos no carro). Ele conta que, apesar de caros, são necessários, pois sem eles não têm como atender os clientes. “Os automóveis estão em constante evolução e a gente busca evoluir junto”, conta Salvador. (O Estado de S. Paulo/Mateus Apud, sob a supervisão do editor de suplementos, Daniel Fernandes)