Por unanimidade, BC reduz taxa básica de juros para 6% e sinaliza novos cortes

O Estado de S. Paulo

 

Após 16 meses de juros estacionados, o Banco Central decidiu ontem cortar em 0,50 ponto porcentual a Selic (a taxa básica da economia), de 6,50% para 6% ao ano.

 

A decisão, que dá início a um novo ciclo de baixa para os juros no Brasil, surge em um ambiente de fraqueza da economia, inflação controlada e aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara. A Selic está agora em um novo piso da série histórica, iniciada em junho de 1996, mas o BC passou indicações de que mais cortes estão a caminho.

 

O anúncio foi comemorado pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro está “bastante satisfeito”. “O presidente vem advogando, já de algum tempo, que isso (redução da Selic) seria muito interessante para a economia”, disse Rêgo Barros.

 

Apesar da redução, o juro real brasileiro (descontada a inflação) ainda é o oitavo maior do mundo. Está em 1,63%, conforme o site MoneYou e a Infinity Asset Management. No topo, estão Argentina (5,23%), México (3,84%) e Indonésia (3,35%).

 

A redução dos juros era largamente esperada pelo mercado. A grande dúvida girava em torno da magnitude: 0,25 ou 0,50 ponto porcentual. Ao justificar a decisão mais arrojada, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que a evolução do cenário e do balanço de riscos para a inflação levou ao corte.

 

Para o BC, os indicadores de atividade econômica sugerem “possibilidade do processo de recuperação da economia”, mas em ritmo gradual. Ao mesmo tempo, o BC avaliou que o cenário externo “mostra-se benigno”, após mudanças na política monetária nas principais economias. Na tarde de ontem, antes mesmo da decisão do Copom, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou seus juros em 0,25 ponto porcentual, para a faixa de 2,0% a 2,25%.

 

A inflação brasileira também está controlada, na visão do BC. As projeções para o IPCA – o índice oficial de preços – em 2019 e 2020 permaneceram em 3,6% e 3,9%, respectivamente. Abaixo, portanto, do centro da meta de 4,25% este ano e 4,00% no próximo. A “consolidação do cenário benigno” para os preços deverá permitir “reduções adicionais” da taxa básica, afirmou a instituição em comunicado. O BC indicou também que a frustração com o andamento da reforma da Previdência ainda é o principal risco para a inflação.

 

Para o economista Marcos Ross, da XP Investimentos, o BC tende a promover mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões. “A inflação está comportada, o BC vê possibilidade de retomada da economia ainda muito gradual, o que sugere que precisaria de certo estímulo”. (O Estado de S. Paulo/Fabrício de Castro, Eduardo Rodrigues, Juliana Linder, André Ítalo Rocha e Francisco de Assis)