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O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, confirmou ontem que os Estados Unidos (EUA) têm interesse em avançar em um acordo de livre de comércio com o Brasil, porém esclareceu que não há um prazo definido para que isso ocorra.
Mais cedo, o presidente Donald Trump havia declarado na Casa Branca que quer seguir em frente com a assinatura de um tratado, sugerindo que um relacionamento amigável com o presidente Jair Bolsonaro poderia ajudar a reduzir as barreiras comerciais entre as duas maiores economias das Américas.
“Eu acho que o presidente Trump fez essa declaração para deixar a minha visita aqui no Brasil mais agradável”, brincou Ross, durante um evento dirigido a líderes empresariais na Câmara Americana de Comércio (Amcham), na zona sul da capital paulista.
“Existe sim esse interesse refletido nos diálogos entre ele Trump e o presidente Bolsonaro. É um sinal tangível”, reforçou o secretário, que tem uma reunião com o presidente brasileiro agendada para esta quarta-feira em Brasília. Por outro lado, Ross alertou para que o Brasil “tome cuidado” com as exigências da União Europeia (UE) feitas no âmbito do acordo de livre comércio com o Mercosul, para que isso não prejudique um futuro tratado com os Estados Unidos.
“Nós temos diferenças com a Comissão Europeia com relação a certas normas relacionadas a produtos químicos, automotivos, farmacêuticos, alimentos, além das áreas de regulação sanitária, fitossanitária e indicações geográficas”, pontuou Ross. “Tomem cuidado para não entrarem em uma armadilha.”
Questionado sobre se existe um cronograma para que um acordo de livre comércio entre o Brasil e os EUA saia do papel, Ross respondeu que assinaturas de pactos comerciais levam muito tempo e possuem “muitas páginas”. “O mais importante é fazer um acordo que beneficie a todos, que seja correto”, destacou ele, durante coletiva concedida à imprensa, logo após o evento.
Além disso, o secretário afirmou que uma reforma tributária no Brasil seria muito importante, não só para destravar um tratado de livre comércio, como também para concretizar um acordo que evite a dupla tributação de lucros, dividendos e royalties entre o Brasil e os Estados Unidos.
Segundo a CEO da Amcham Brasil, Deborah Vieitas, o fim da bitributação é uma das demandas mais urgentes das empresas associadas à Câmara Americana de Comércio. Ross ressaltou que os EUA apoiam a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Sobre isso, Vieitas comentou que o ingresso do Brasil na organização deve levar de dois a três anos.
O secretário esclareceu também que um tratado de comércio entre o Mercosul e os EUA é mais difícil, já que o bloco sul-americano está focado no acordo com a UE neste momento.
Avanços
Enquanto não sai um acordo bilateral de livre comércio entre o Brasil e EUA, Ross disse que é possível começar a trabalhar para elevar o fluxo de investimentos entre os dois países. Ele ressaltou ainda que os EUA têm o objetivo de reduzir barreiras nas áreas de energia, infraestrutura, agricultura e tecnologia.
Vieitas acrescentou que um dos avanços que pode ser conquistado no curto prazo é a adesão do País ao Global Entry. Isso permitiria com que os empresários brasileiros entrassem de forma mais rápida e com menos burocracia no território norte-americano.
De acordo com a CEO da Amcham Brasil, os EUA querem estender este benefício aos empresários brasileiros. “Porém, estamos dependendo ainda da Receita Federal e da Polícia Federal adequarem os seus sistemas para que isso possa vigorar”, afirmou.
Vieitas informou também que o Brasil recebeu, no mês passado, uma missão do Ministério da Agricultura dos EUA para uma visita ao sistema de inspeção sanitária do País. A vinda dessa comitiva, disse ela, abre a possibilidade para que a nação parceira volte a importar nossa carne in natura.
Exportações
Os Estados Unidos foram o principal destino de exportações brasileiras de bens (US$ 28,7 bilhões, em 2018) e de serviços (US$ 16 bilhões, em 2017). Já o Brasil está entre os 10 maiores destinos de exportações de bens dos Estados Unidos no mundo (US$ 29 bilhões em 2018).
No que diz respeito a investimentos estrangeiros diretos (IED), o estoque e os fluxos mútuos são consideráveis e com perspectiva de crescimento. Em 2017, o estoque americano de IED no Brasil alcançou U$ 68,2 bilhões (1º lugar) e o estoque brasileiro de IED nos Estados Unidos foi de US$ 42,8 bilhões. (DCI/Paula Salati)