Recuperação se espalha e chega a 62% da indústria

O Estado de S. Paulo

 

Além de voltar a crescer depois de três anos em queda, a indústria viu a recuperação se disseminar em 2017: 58 dos 93 segmentos, ou 62%, fecharam o ano com resultados positivos, de acordo com levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do IBGE.

 

O impulso foi maior no quarto trimestre, quando 66 setores avançaram em ritmo maior do que o de 2016 – em 16, o crescimento superou os dois dígitos. O movimento é “puxado” pelo setor automotivo, responsável por metade da alta de 2,5% registrada pela indústria no ano passado, o que se reflete em outros segmentos, como o de borracha e plástico e metalurgia, entre outros. “O sinal é positivo e disseminado. Há um conjunto de desdobramentos e de relações intersetoriais que vão além do que a gente identifica como setor automotivo”, diz o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin.

 

A indústria brasileira – que em 2017 voltou a crescer depois de três anos de queda – está vendo a recuperação se disseminar. O crescimento da produção industrial, no ano passado, foi além do setor automotivo, principal responsável pela retomada da indústria. Segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do IBGE, 58 dos 93 segmentos – 62% do total – apresentaram resultados positivos.

 

O movimento foi maior no quarto trimestre, quando 66 ramos avançaram em ritmo superior ao registrado no mesmo período de 2016. A disseminação do crescimento tem relação com o encadeamento entre setores, alavancado especialmente pelo setor automotivo.

 

A produção de veículos respondeu por metade da alta de 2,5% registrada pela indústria no ano passado. O bom desempenho acaba se refletindo em outros segmentos, como o de equipamentos de áudio e vídeo, borracha e plástico, têxteis e metalurgia. “O sinal é positivo e disseminado. Há um conjunto de desdobramentos e de relações intersetoriais que vão além do que a gente identifica como setor automotivo”, diz o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin.

 

Mas não é só a cadeia em torno da produção de veículos que tem se beneficiado. Fabricantes de equipamentos de informática, por exemplo, ou de comunicação também cresceram no ano passado (veja mais na pág. B6). Na zona sul de São Paulo, uma fabricante de leitores de código de barras registrou um faturamento 20% maior em janeiro deste ano, na comparação com 2016. “Se continuar assim, vamos precisar rever o planejamento para o ano”, diz Marcos Canola, sócio e diretor comercial da Nonus. Isso não significa, no entanto, expansão nem contratação de funcionários, porque ainda há capacidade ociosa. Durante a crise, a empresa reduziu a equipe pela metade, para 40 pessoas, cortou investimentos, fechou um depósito e segurou reajustes. Com a melhora dos resultados, que começou a aparecer no fim do ano passado, Canola está um pouco mais animado. Em abril, a Nonus participará de uma feira de negócios na China, depois de quatro anos de fora. “Não é para engatar uma quinta marcha, mas não dá para ficar parado”, diz o empresário.

 

Os movimentos conservadores da indústria têm o objetivo de se preparar caso a recuperação seja maior. Os dados do Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que o otimismo dos industriais ainda avança muito devagar. A prévia do índice de fevereiro, divulgado sexta-feira, aponta avanço de 0,2 ponto, para 99,6 pontos. Se confirmado, será o maior patamar desde outubro de 2013. “Essa recuperação é gradual, embora tenha ganhado tração. Não dá ainda para dizer que o setor está otimista nem muito confiante”, diz a coordenadora da Sondagem da Indústria da FGV, Tabi Thuler Santos.

 

Além de mais disseminado no fim do ano passado, o crescimento da produção industrial brasileira superou dois dígitos em 16 dos 93 segmentos da indústria.

 

“Quem cresce mais hoje na verdade é quem mais caiu ao longo da crise”, diz o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.

 

A indústria automobilística, uma das principais alavancas desse crescimento, teve três anos seguidos de queda na produção até começar a se recuperar no ano passado, quando registrou alta de 25,2% no total de veículos produzidos em comparação a 2016.

 

Boa parte desse crescimento veio das exportações, que aumentaram 46,5%, totalizando 762 mil unidades, quase 30% dos 2,699 milhões de veículos que saíram das linhas de montagem no ano passado, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

 

O impulso da indústria automobilística continuou em janeiro. As fabricantes de veículos produziram 216,8 mil unidades no mês passado, alta de 24,6% em relação a igual mês de 2016, mostra o balanço da Anfavea.

 

Após três anos operando com até 50% de ociosidade nas fábricas em razão da crise econômica, o setor viu nos últimos meses anúncios de aumentos na produção e de retomada de operações em dois turnos de trabalho, desativados a partir de 2014. Foram os casos da Nissan, da Volvo, da Volkswagen e da MAN Latin America.

 

Entre as líderes em vendas do mercado nacional de automóveis, a americana General Motors foi a que teve o maior crescimento na produção em 2017, com avanço de 41,7%.

 

Neste mês, a direção da GM anunciou que está investindo R$ 1,2 bilhão para expandir a fábrica do grupo em São Caetano do Sul, no ABC paulista. A capacidade produtiva da unidade aumentará de 250 mil unidades ao ano para 330 mil.

 

Demanda

 

No cenário traçado pelo economista Leonardo Carvalho, do Grupo de Conjuntura do Ipea, os sinais que apontam para crescimento da demanda doméstica ao longo de 2018 ajudam a sustentar a perspectiva de manutenção da recuperação da indústria como um todo.

 

Os sinais são a inflação controlada e o cenário mais favorável para a tomada de crédito, com taxas de juros menores e famílias com menos dívidas. Os primeiros dados de melhora no mercado de trabalho também servem para aumentar a confiança do consumidor e impulsionar o consumo.

 

“O que permanece como restrição é o excesso de capacidade (ociosa)” de muitas fábricas, afirma o economista do Ipea.

 

Quando utilizam pouco de sua capacidade total, as indústrias adiam investimentos em expansão, diminuindo a demanda por um importante segmento industrial, o de fabricação de bens de capital.

 

A prévia de fevereiro da Sondagem da Indústria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou que, na média nacional, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) ficará em 75,3%. Se confirmado, será o maior patamar desde junho de 2015.

 

No caso das montadoras, a previsão para o ano é de mais um crescimento de 13,2% na produção, para cerca de 3 milhões de unidades. As vendas devem crescer 11,7% (2,5 milhões de veículos) e as exportações 5%, para 800 mil unidades – um volume recorde em vendas externas de veículos (sem incluir os carros desmontados). (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim Vinicius Neder)