Temer abafa gafes com visita de executivos

O Estado de S. Paulo

 

O presidente Michel Temer pediu a auxiliares que não estiquem a polêmica sobre gafes e declarações infelizes de sua equipe. Na tentativa de tirar o foco do episódio envolvendo o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes – que antecipou nova etapa da Lava Jato, na véspera da prisão do ex-ministro Antonio Palocci –, o Planalto aproveitou uma agenda lotada de audiências com presidentes mundiais de multinacionais. Após as reuniões com Temer, eles foram orientados a falar com a imprensa e o saguão do prédio virou palco de entrevistas, uma após a outra.

 

Foi assim que o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, apareceu otimista, dizendo ter levado a Temer o planejamento estratégico da empresa para o período de 2017 a 2021. Pelas estimativas de Parente, em cinco anos a estatal voltará a crescer. Além dele, o presidente global da Shell, Ben Van Beurden, fez questão de afirmar, após se reunir com Temer, que o Brasil é um “lugar seguro” para investimentos. “Isso tem a ver com a segurança e a estabilidade das regras e das leis”, disse o executivo. Ele não quis comentar os desdobramentos políticos após o impeachment de Dilma Rousseff. “O importante desses últimos acontecimentos é criar um clima propício para investimentos”, afirmou. “Viemos falar com o presidente sobre a confiança que temos no País.”

 

O presidente da Hyundai, William Lee, apresentou a Temer os investimentos em andamento da companhia coreana no Brasil. A montadora está investindo US$ 130 milhões na ampliação da fábrica de Piracicaba (SP) e vai gastar mais US$ 25 milhões na construção de um centro de pesquisa na mesma cidade. “A Hyundai tem um compromisso de longo prazo com o Brasil. Queremos crescer junto com o Brasil”, discursou Lee.

 

O executivo ponderou que todos os países passam em algum momento por dificuldades econômicas, mas disse que a companhia aposta no retorno do crescimento da economia brasileira. “Vejo um potencial muito grande no Brasil e apostamos na qualidade do trabalhador brasileiro”, completou.

 

O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB – partido de Moraes – também esteve com Temer, no Planalto. Aos jornalistas, Aécio disse que as críticas a Moraes partem do PT. “Vi um presidente absolutamente tranquilo, dizendo que esse assunto estava superado.” Na prática, porém, Temer ficou muito irritado com o ministro.

 

A ordem no Planalto agora é dizer que o episódio já é “página virada”. No entra e sai do gabinete presidencial estiveram também o presidente mundial da Fiat Chrysler Automobiles, Sergio Marchione, e o secretário do Tesouro dos EUA, Jacob Lew. (O Estado de S. Paulo/Vera Rosa, Carla Araújo)