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Lendas brasileras
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Os campos têm um protetor contra aqueles que os incendeiam e devastam. Conhecida em todo o Brasil com uma variedade de nomes como Mboi Tatá, Bitatá, Boiguassu, Baitatá e Batatá, esta lenda refere-se a uma serpente de fogo que vagueia pelos campos sem destino certo.

Provavelmente nascida das visões do fogo-fátuo (explosões de luz geradas pelo fosfato de hidrogênio produzido pela decomposição de substâncias de origem animal), a lenda do Mboi-Tatá apresenta variações conforme as regiões do Brasil em que é relatada.

Alguns descrevem o Mboi-Tatá como um imenso touro, com um olho grande no meio da testa. Mas, no Rio Grande do Sul, existe uma versão da lenda bastante difundida que conta o seguinte: houve um tempo em que Mboi-Tatá foi Boiguassu, imensa serpente que habitava os campos. Um dia, acordada por um dilúvio, Boiguassu desandou a perseguir e comer os animais que tentavam escapar da sanha das águas. Mas Boiguassu não comia todo animal. Ela concentrava-se apenas nos olhos. E Boiguassu foi enchendo-se de olhos. E tantos devorou, que acabou ficando cheia das luzes desses olhos.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Tornou-se transparente e iluminada. Mas se lhe davam luz, os olhos dos animais não lhe davam substância. E Boiguassu morreu. Foi então que a luz presa em seu interior esvaiu-se, passando a errar pelos campos, independente, sem jamais juntar-se a outras luzes.

E surgiu a serpente de fogo que zela pelas matas. Mboi-Tatá destrói aqueles que incendeiam inutilmente os campos, queimando-lhes as carnes da maneira como queimam as árvores. Mas, se for perseguida, Mboi-Tatá foge.

Dizem que o viajante que encontrar pela frente Mboi-Tatá deve permanecer imóvel, sem piscar ou respirar, até que a serpente desapareça. Se ela o perseguir, porém, o provocará e atazanará até matá-lo.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Origem da lenda

Baitatá, Batatá, Biatatá, Batatal, Bitatá, Batatão, M’Boi Cobra, TatáFogo, Jean Delafosse ou João Galafuz, a Cobra de Fogo que vaga pelos campos do Brasil está nos apontamentos do Padre José de Anchieta, escritos em 1560.

Tradicionalmente encontrada próxima das margens dos rios ou da orla marítima, a serpente de fogo surge como um fugaz facho de luz, que rapidamente corta o ar para desaparecer em seguida. Tendo sua origem provável nos fogos-fátuos, é natural que as referências sobre esse fenômeno sejam encontradas em todos os continentes.

Várias versões existem para explicar o mito. Em algumas regiões, o Mboi-Tatá
assume a função de castigo a alguma ligação incestuosa; noutras é a alma de um menino pagão. Em ambos os casos, é uma alma penada cumprindo seu destino de errar pelos campos.

As referências do Padre José de Anchieta dão conta de que a serpente de fogo, assim como os Curupiras, atacava os índios matando-os.

A qualidade de defensora dos campos é citada por Couto de Magalhães, em “O Selvagem” (Rio de janeiro, 1876), para quem Mboi-Tatá castiga com a morte por combustão aqueles que incendeiam os campos inutilmente.

Baixe aqui o painel da exposição

DobraDana

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