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Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Rio sinuoso floresta adentro, segue vagarosamente a canoa com seus passageiros especiais. Pescadores, caçadores ou simples viajantes. Amazonas, Pará ou Mato Grosso, não importa. O estranho som chega, intermitente, ao ouvido de todos.

Em meio ao barulho-quase-silêncio dos remos encontrando as águas; dos pássaros cantando e do murmúrio do vento, pode-se ouvir longínquas pancadas em troncos escondidos. É o Curupira, certificando-se de que as árvores resistirão à tempestade, ao mesmo tempo em que avisa os habitantes da floresta sobre a tormenta que se aproxima.

Diz a lenda tratar-se de um estranho ser que protege a floresta e seus animais. Verdadeiro duende selvagem, o Curupira ocupa todo o seu tempo em defendê-los contra caçadores imprudentes. Ai daquele que se aventurar a matar animais, principalmente se ainda forem pequenos. As fêmeas, então, nem se fale. Se estiverem prenhas, pior ainda. A seus caçadores, o Curupira reserva terríveis surpresas. Mas não só a eles. Gente disposta a derrubar árvores ou judiar das plantas, também é castigada.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Quem já viu o Curupira, descreve-o assustado: é um ser de pequena estatura, corpo coberto de pelos, olhos injetados de sangue, unhas azuis e, sua mais curiosa característica, pés virados para trás. A estranha criatura caminha pelas florestas com o calcanhar voltado para a frente, deixando pegadas ao contrário.

O Padre José de Anchieta, em 1560, relatou casos de índios que foram surpreendidos dentro da mata e surrados muitas vezes até a morte pelo Curupira. Em alguns estados do Brasil, ele surge com características e nomes diferentes. Ora aparece como Caapora, ora como Zumbi. Outras vezes, ainda, como Caiçara, sempre acompanhado de um grande número de porcos do mato.

Para defender a natureza que o abriga, o Curupira ataca seus inimigos fazendo deles vítimas que castiga de várias maneiras. A mais comum é transformar-se em caça, atraindo então o caçador cada vez mais para o interior da floresta, impossibilitando-o de encontrar o caminho de volta. Lá, entregue a própria sorte, o homem certamente morre de fome e exaustão.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Em outros momentos faz o contrário. Facilita o abate da presa, mas o caçador ao se aproximar, contente, do animal abatido, encontra no lugar seu filho, sua mulher ou um grande companheiro ferido. Outras vezes, ainda, só para assustar, o caçador é acordado em sua rede por um assobio estridente. Ou então, como se alguém ou algo estivesse surrando cães, por infernal gritaria.

Mas o Curupira não é só terror. Há quem diga que ele não persegue quem caça por necessidade. Nesses casos, chega até mesmo a ajudar. Em troca de armas infalíveis, ele exige fumo, comida, cachaça e… segredo absoluto.

Origem da lenda

A primeira menção ou registro escrito que se tem do Curupira data de 1560, pelas mãos do Padre José de Anchieta. De origem confusa (Curu – contrato; Corumi e Pira – corpo de menino), o nome deste duende, considerado o mais antigo do Brasil, chama a atenção pela surpreendente diversidade de formas, hábitos e comportamentos que adquire de região para região.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

A característica mais marcante, que parece surgir sempre que se descreve o Curupira, são os pés voltados para trás e o corpo coberto de pêlos. Suas histórias fundem-se com as do Saci em determinadas regiões, e com a Caipora em outras. Sempre, porém, mantém seu destino de protetor da natureza e impiedoso carrasco daqueles que destroem a flora e a fauna. Vive dentro das florestas, comandando os animais e as plantas.

Baixe aqui o painel da exposição

DobraDana

A lenda do Curupira com os pés voltados para trás merece continuar sendo divulgada. Imprima o PDF do DobraDana e leve com você as histórias deste incrível duende brasileiro.

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