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Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Noite estrelada, lua alta, hora de festa na pequena cidade ribeirinha. Na dança eles se olham. Os olhos dele são profundos, negros, brilhantes, irresistíveis. A pele é clara, o corpo bem feito, o rosto bonito. É estranho, ninguém o conhece, ninguém nunca o viu. Mas como dança! E seu toque! É macio, gostoso.

Conversa como ninguém, as palavras certas na hora certa, um ”quê” de malandragem. E como bebe esse sujeito. Mas não fica embriagado de jeito algum. Elegante, chapéu na cabeça o tempo todo. Ela não resiste. Seu coração arde em chamas, o desejo se apodera de seu corpo, sua alma. E ele a leva para experimentar momentos inesquecíveis de amor. Como ela nunca sonhou. Após o prazer, desaparece. Como veio. Como Boto.

O grande amante era o Boto, golfinho que vive nos rios do Norte do Brasil, transformando-se em gente para amar as mulheres que encontra pelo caminho.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

O chapéu permanece em sua cabeça para esconder o buraco por onde respira. Depois de amar, volta para as águas do rio e a mulher fica a esperá-lo, sonhando em repetir a noite de amor. Às vezes ele volta. Na maioria das vezes não. Sempre quem fica é o filho do Boto, no ventre da mulher.

Eles têm a fama de serem grandes amantes das índias, que são surpreendidas durante os banhos e arrastadas para baixo d’água, onde se submetem a seus raptores.

Noutros momentos, os Botos perseguem canoas em que viajam mulheres, chegando a virá-las em busca de sua presa. Seu nado corcoveado e ondulante, para cima e para baixo, lembra os movimentos sexuais, alimentando ainda mais a lenda.

Algumas variações apresentam o Boto como a versão masculina da Iara, que arrasta seus amantes para a morte no fundo das águas. Mas o Boto é mais romântico. Ele não mata. Só ama.

Origem da lenda

Alguns estudiosos afirmam ser grande a probabilidade de a lenda do Boto ser originária dos colonos portugueses, pois não existem registros anteriores ao século XIX sobre o assunto.

Com três espécies fluviais conhecidas, habitantes típicos da Bacia Amazônica, os Botos são reconhecidos como animais de muita inteligência, mas a espécie está ameaçada de extinção pela ação predatória do homem. Entre outros motivos, o golfinho (como é também conhecido) é muito procurado, pois com determinadas partes de seu corpo são feitos amuletos ou remédios para a cura de certos males.

Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa
Imagem: ilustração de Rodrigo Rosa

Dos olhos do Boto faz-se um amuleto para dar sorte no amor; do órgão genital das fêmeas faz-se um perfume que as mulheres usam no corpo para atrair os homens; do órgão genital dos machos é feito o contrário; e das nadadeiras são feitos remédios, além de uma infinidade de outras aplicações. Em Belém do Para, no mercado do Ver-o-Peso, existe um memorial amoroso vastíssimo no qual estão em exposição todos os amuletos originários do Boto.

É famosa também a afinidade que os golfinhos desenvolvem pelos seres humanos, sendo frequentes as histórias de pessoas salvas de afogamento pelo simpático animal.

O Boto amazônico seria a versão masculina da lenda da Iara, e existem registros comprovados de mulheres que, convictamente, afirmam ter tido filhos concebidos pelo Boto.

Baixe aqui o painel da exposição

DobraDana

Embarque com seus amigos na lenda do Boto! É só baixar o PDF do DobraDana, seguir as simples instruções de montagem e levar no bolso as histórias deste romântico personagem ribeirinho.

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