Quem já observou com atenção um sapo, certamente notou sua feiúra. Boca grande, olhos esbugalhados, pele áspera e fria, verrugas por toda parte e corpo achatado, como se alguém tivesse pisado sobre ele. Que mal terá feito essa pobre criatura, para ser tão feia assim?
Certa vez, uma grande festa no céu reuniu muitos convidados. Naturalmente, para chegar até lá, em uma festança nas alturas, era necessário saber voar. Por isso, somente as aves poderiam participar. O sapo, porém, cismou que também iria à festa. Mas, como sapo não sabe voar, foi elaborado um plano envolvendo um grande urubu.
No dia da festa, a enorme ave negra foi visitar o sapo, que a havia convidado exatamente para poder executar seu plano. À vontade, o urubu conversava entretido com a sapa. Enquanto isso, com a desculpa de ter que ir para a festa na frente, pois anda muito devagar, o sapo se enfiou sorrateiramente na viola que o urubu levaria para animar a festa. E, pacientemente, aguardou a hora de viajar.
Sem desconfiar da trama sapal, o urubu alçou voo com a viola a tiracolo, rumo ao céu. Chegando na festa, em um momento de distração do feliz urubu, o sapo espertalhão saltou para fora da viola e surpreendeu a todos com sua presença no folguedo celeste.
Durante toda a noite, divertiu-se a valer. Quando a festança chegava ao final, o maroto aproveitou a confusão e meteu-se de novo na viola do urubu. Mas, cansado de esperar e impaciente para chegar logo em casa, o sapo começou a se mexer dentro da viola.
Durante o voo, um barulho estranho chamou atenção do urubu. Percebendo que havia alguma coisa dentro da viola, imediatamente virou o instrumento de boca para baixo e, espantado, observou o sapo despencar como uma pedra das alturas.
A queda foi tremenda. Um verdadeiro tombo do céu. O bicho ainda tentou voar, mas, como sapo não voa, esborrachou-se de encontro ao chão. Desde então ficou assim: boca enorme de tanto gritar, olhos esbugalhados de pavor e o corpo todo amassado, cheio de dobras e manchas, o que restou do maior tombo de sua vida.
Origem da lenda
As lendas sobre animais costumam abordar, normalmente, dois assuntos principais. Ou são histórias explicando as cores, formas e comportamentos ou são fábulas representando o confronto da ignorância com a astúcia, da habilidade com a grosseria e da fraqueza com a força, entre outros.
O jabuti, por exemplo, animal vagaroso e frágil diante da inteligência do homem, é representado nas histórias indígenas como sendo hábil e astuto, capaz de vencer animais maiores e mais fortes do que eventualmente possa vir a enfrentar.
O sapo segue essa mesma tendência comparável a da raposa e sua fama de inteligência no continente europeu. As referências ao sapo na mitologia são encontradas em todo o mundo. Como o coelho e o macaco, o sapo está presente em muitas histórias, utilizando-se de truques para vencer seus inimigos.
A lenda “A Festa no Céu”, uma das mais populares fábulas brasileiras, apresenta novamente o aspecto da moral: animal que nasceu para ser rasteiro não pode se entregar à ambição de voar, sob pena de esborrachar-se no chão, por mais astuto que possa ser.
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Baixinho, nu, com um barrete vermelho na cabeça e um pito no canto da boca. Este duende das molecagens atazana sem parar. Cuidado, o Saci Pererê está de volta! Salve-se quem puder.