Sid Mosca é um artista que todos os grandes pilotos brasileiros têm na cabeça. Emerson e Wilson Fittipaldi, Ayrton Senna, Nelson Piquet e Ingo Hoffmann usaram, ou usam, capacetes personalizados, criados pelas mãos e pelo bom gosto do pintor paulista. E cada um tem uma história especial.
O capacete de Ayrton Senna, por exemplo, foi uma derivação dos que Sid criou para a equipe brasileira que participou no mundial de kart de Le Mans, França, em 1978. A organização obrigava os participantes a usarem capacetes com as cores dos respectivos países. Sid não achou atraente o fundo verde com detalhes amarelos, como tinham lhe sugerido, e resolveu mudar. Colocou um fundo amarelo com duas faixas, uma verde e outra azul, no sentido horizontal. Dispôs as faixas de forma agressiva e numa visão que sugeria velocidade quando os pilotos estivessem a bordo do kart. Depois do mundial, Ayrton Senna quis adotar aquele desenho. Sid concordou e continuou pintando os capacetes do tricampeão.
O equipamento de Nelson Piquet, simulando a costura de uma bola de tênis e as gotas, símbolo da perfeição aerodinâmica, é uma parceria que Sid mantém com o piloto há mais de 30 anos. Desde a Fórmula Super Vê, quando Nelson ainda assinava Piket.
Emerson Fittipaldi se tornou o “top model” de Sid. Sempre deixou por conta do pintor as inovações, embora mantivesse o desenho original. Sid incluiu os efeitos especiais, agregou o degradê e tornou o capacete do Emerson Fittipaldi moderno durante toda a carreira, e viu orgulhoso sua obra na cabeça coroada do campeão na Fórmula 1 e na Indy.
Paulista de Jaú desde 4 de março de 1937 e paulistano desde os seis meses, Sid Mosca há mais de meio século mexe com tintas e mais de 35 anos pinta carros de corrida. Mas confessa que tremeu quando Wilsinho Fittipaldi o encarregou de mudar a cor do Fitti-1 do prateado para amarelo, em 1976. No início manteve o layout original da antiga cor, mas foi fazendo modificações, colocando mais filetes brancos entre os colibris estilizados nas laterais, oriundos do patrocínio da Copersucar. A cada novo modelo do Fitti, Sid Mosca ia adaptando a pintura. No F-5 os colibris afinaram e aumentaram no comprimento por causa do estilo longo do carro, projetado por David Baldwin. No F-6 as figuras diminuíram para se adaptarem à carenagem curta, que cobria o “Fitti-Concorde”, com escapamento na lateral.
Foi essa criatividade na pintura do Fórmula 1 brasileiro que deu a Sid Mosca o reconhecimento mundial que ele mantém orgulhosamente exposto na parede do seu ateliê. Trata-se de um diploma assinado por Colin Chapman, Andrew Fergunson e Bob Dance. Nada menos que o dono da Lotus, seu diretor técnico e o chefe dos mecânicos, respectivamente, agradecendo o competente trabalho prestado à escuderia inglesa no GP do Brasil de 1977.
Na verdade, Sid tirou a Lotus de um sufoco. A escuderia veio para o Brasil sem carro reserva. O sueco Gunnar Nilsson tinha destruído seu protótipo no GP da Argentina, corrida que antecedeu o nosso grande prêmio, e a Lotus ficou restrita a dois carros. No sábado a situação piorou, pois Mario Andretti teve o carro incendiado nos treinos de classificação. Para trocar o motor e resolver a parte mecânica havia peças reservas, mas e a pintura, derretida no incêndio?
Chapman descobriu que o Fitti era pintado no Brasil e pediu socorro à Fittipaldi. Wilsinho então apresentou Sid Mosca ao famoso chefão da Lotus. O pintor topou a parada. Arregaçou as mangas, levou toda sua equipe para Interlagos, improvisou um estúdio no boxe e varou a noite pintando o carro de Mario Andretti. Às seis da manhã o Lotus JPS negro estava novo, pintado com os logotipos do patrocinador, brilhante, seco e pronto para entrar na pista, sob a exclamação pausada de Colin Chapman: “Fan-tás-ti-ca”.
Depois da corrida aconteceu um fato inesperado, que Sid conta meio envergonhado, sem nomear o personagem. O cidadão elogiou o trabalho, mas pediu um desconto nos seis mil cruzeiros cobrados pelo artista. Sid, que tinha curtido pintar aquela máquina carismática, deu de ombros e sugeriu um acordo: “Me dá um blusão oficial da Lotus para mim e outro para o meu filho que está tudo certo. E eu fico grato pela honra de pintar um Lotus”, resumiu Sid. Na época não havia daquelas peças à venda. Semanas depois, além dos dois blusões novos e personalizados da Lotus JPS Special, Sid recebeu o diploma de agradecimento e um pedido formal de desculpas por escrito, pela barganha no pagamento.
São histórias do competente Sid Mosca, que depois de 30 anos satisfez um desejo de artista: o de pintar o primeiro Fórmula 1 brasileiro. Ele, que viveu toda a fase amarela do Fitti, pôde, na reconstrução que a Dana patrocinou no FD-01, completar a sua obra, prateando o carro que Wilsinho Fittipaldi estreou nos testes de 1974.