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Engenheiro Odilon: formas, realidade e utopia Imagem: acervo Lemyr Martins

No pequeno gabinete do engenheiro Odilon da Costa Franco Júnior há poucos espaços vazios. A mesa tem a superfície tomada pelo computador, a máquina digital de fotografias, plugs, muitos apetrechos pessoais. Na entrada uma lona negra cobre o grande teclado-piano e partituras de músicas. Na parede, entre vários diplomas de pós-graduação, em engenharia e física, uma enorme réplica em preto e branco da Mona Lisa, ri para o dono de tudo aquilo.

Como se estivesse só, ele sacode a cabeça de vasta cabeleira grisalha e fixa-se no computador. Enquanto descarrega as fotos da câmera na memória da máquina, Odilon tagarela apressado, preocupado em não deixar a emoção trair-lhe o raciocínio. Mas, assim que uma imagem do FD-01 toma conta da tela do computador, com ares de cientista realizado, ele entra em transe, faz uma pausa e desabafa com algum esforço:

“Ontem eu chorei”. E, com certo remorso por ter exposto a sensibilidade, complementa interrogativo: “E havia como não chorar?”

O engenheiro que trabalhou no projeto do Fitti-1 com Ricardo Divila, revivia através das centenas das fotos que captou na véspera, na apresentação do carro, em Interlagos, uma saudade de 30 anos. Reminiscências do novembro de 1974, quando via o FD-01 sair do mesmo boxe nº 2 para os primeiros testes naquele circuito.

Para cada foto que exibia na tela do PC, Odilon tinha uma história. Recordava os vários desenhos dos perfis da asa dianteira, os rascunhos do aerofólio traseiro, as alterações do cockpit e as formas que definiram a linha do Fitti-1.

Aos 51 anos, engenheiro do Centro Técnico Aeroespacial de São José dos Campos, SP, com préstimos no setor de desenvolvimento de veículos lançadores de satélites, Odilon faz questão de contar que o seu primeiro emprego foi na Fittipaldi, em 1974. Conheceu Ricardo Divila na faculdade e Wilsinho nos boxes de Interlagos. Apaixonado por design de automóvel, viu no projeto do primeiro fórmula 1 brasileiro o norte da profissão e o privilégio de participar da concepção do Fitti-1.

Também guarda boas lembranças da dupla Divila-Wilsinho. Para o projetista só tem elogios pela criatividade, e pelo ex-patrão a admiração como piloto.

“O Tigrão – ressalta -, foi o homem mais veloz do mundo naquela época. Ele atingiu 380 km/h com Porsche 917, em Interlagos”.

Outra vez silencioso, Odilon sai da sala e some atrás de uma porta. Volta em segundos para fazer um convite com ar misterioso. Chama para um corredor escuro, assume a solenidade de uma grande revelação e exibe seis quadros emoldurados com fotos coloridas, transparentes e iluminadas do FD-01 dos anos 70. Volta à sala e ao silêncio e, com os cotovelos apoiados na mesa e as duas mãos enfiadas na cabeleira grisalha, pergunta com curiosidade de criança:

“O que é a Dana?”

Ao saber que a promotora da reconstituição do FD-01 foi fundada nos Estados Unidos há um século, baseada na junta universal- a popular cruzeta – inventada por Clarence Spicer, Odilon volta à Terra e murmura:

“Grande inventor esse Spicer.”

E volta às imagens do Fitti-1.