A história do Teatro de Bonecos é tão antiga que não se sabe ao certo onde e quando começou. Talvez com os homens das cavernas, que ficariam encantados com o efeito da sombra de suas mãos nas paredes. Possivelmente no Egito, em 2000 a.C., onde seriam usados em peças teatrais religiosas ou ainda no Antigo Oriente, principalmente na China, Índia e Indonésia, onde os bonecos eram considerados verdadeiros deuses. Independente de seu surgimento, o que os historiadores concordam é que esta arte milenar sempre seduziu e gerou fascínio em adultos e crianças de todas as idades e civilizações.
Os personagens dos bonecos transcendem a realidade, convidam a embarcar em histórias mágicas e têm o poder de transformar-se em um importante instrumento educador. Nada melhor do que usar todo este potencial para fazer com que as crianças tenham contato com a fantasia dos livros desde cedo. Pensando nisto, a Dana e a Associação de Apoio à Criança em Risco (ACER), situada em Diadema, São Paulo, lançaram mão da atividade de Teatro de Bonecos para incrementar o “Projeto Agenda Cultural – Histórias transformando o futuro”. O projeto busca estimular o prazer pela leitura em crianças e adolescentes através de atividades lúdicas que naturalmente atraiam os jovens leitores para as aventuras dos livros.
São os próprios adolescentes atendidos pela ACER que desenvolvem e monitoram estas atividades em seis escolas públicas da cidade. As peças do Teatro de Bonecos são adaptações de livros trabalhados com as crianças nas atividades de Mediação de Leitura e Contação de Histórias. Com isso, os pequenos são incentivados a ter um olhar diferente sobre o mesmo tema. Os bonecos ganham vida através das hábeis mãos dos jovens monitores que os manipulam e narram as histórias. Os gestos e trejeitos de cada boneco e a entonação da voz para diferenciar os personagens são os grandes aliados para tornar o espetáculo ainda mais divertido – além de um excelente convite ao estímulo dos sentidos.
Michelle Missias, agente cultural responsável pelo projeto, conta que para muitas crianças esta atividade é o primeiro contato com uma arte cênica. “A reação das crianças é de encanto, curiosidade e interesse – essenciais para promover o acesso à leitura”, destaca a agente. Michelle acrescenta que é comum os mais novos acharem que os bonecos são de verdade e sentirem certo receio. “Alguns demonstram medo de se aproximar no começo, não conseguem entender que há uma pessoa manipulando. Outros ficam surpresos em identificar as vozes dos monitores que eles já conhecem e tentam adivinhar quem está ali. Para todas as idades é uma atividade prazerosa, lúdica, que altera a rotina da escola de maneira divertida ao mesmo tempo que desperta o interesse pelo mundo dos livros”, conclui.
Além de mudar a rotina das escolas, tem mais gente pegando carona nesta caravana de cores e atores. Para integrar toda a comunidade em atividades promotoras de conhecimento e cultura, o Teatro de Bonecos expande o seu alcance. Aos sábados, as peças e seus bonecos são levados para espaços públicos, eventos em organizações não-governamentais ou mesmo mostras culturais da própria instituição. Tudo para aproximar pessoas e democratizar a educação formal e informal da população. Juntos, crianças, adolescentes e adultos fazem parte de uma plateia inspirada, que além de assistir e sonhar, também quer participar.
Psiu, o espetáculo já vai começar. E num piscar de olhos de retrós, Emília, toda falante, reinventa o ilustre livro comestível e o compartilha sem titubear. A boneca parece até pular do palco para anunciar. “Fiz em papel gostosíssimo e de muito fácil digestão”. Hum, nem é preciso tanto para agradar. Os sabores e cheiros, bastante variados, já recheiam a imaginação. Todos os paladares da plateia aprovam e aguardam repetição. Comeram quase todas as folhas? Desta vez foi por um triz! Lobato parecia adivinhar. Toda história prazerosa merece um eterno bis.
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