Panta é um cantor e compositor porto-alegrense que lançou dois discos e está em fase de pós-produção do seu terceiro trabalho. A família de Panta mudou-se de sua cidade natal, Porto Alegre, em 1969, fazendo uma trajetória incrível. Ainda menino, morou na Paraíba, de lá para a Inglaterra, onde estudou música em Birmingham. Em casa, ouvia música clássica e pops como Beatles e Rolling Stones, influenciado pelo pai. O resultado dessa história inusitada você confere na entrevista abaixo.
Como está o processo de produção e gravação do seu novo disco?
Eu conheci o produtor inglês Paul Ralphes, que mora no Rio de Janeiro, porque meu primeiro disco chegou até ele, que me procurou porque achou que ali tinha muita coisa boa que devia ser lançada nacionalmente. A ideia, a partir do momento em que o Paul me procurou, foi ouvir o disco ”Uma pequena porção de vida” novamente, e voltar às raízes. Pegamos nove músicas deste disco, mais duas composições recentes minhas e começamos a trabalhar. Paul entrou em contato comigo em abril de 2008 e, naquela época, eu tinha pré-gravado em versão demo 24 músicas novas. Mandei as músicas pra ele, que também optou por trabalhar músicas que ele tinha gostado do meu disco anterior para que fossem relançadas. Minha primeira reação foi ”esse disco já passou, não quero mais ouvir falar dele” (risos). Além disso, fiquei com receio do que as pessoas que já tinham comprado o primeiro disco iam achar, se iam se sentir mal com isso. Mas me dei conta que que um dos meus principais objetivos como compositor é criar algo durável. Fazer do meu trabalho meu cartão de visitas. E começamos a trabalhar a partir daí.
E como foram as suas participações em shows da Orquestra de Câmara da Ulbra?
Teoricamente, as pessoas poderiam pensar que minhas participações nestes shows eram pequenas, mas para mim, foi muito gratificante. É música de qualidade, com uma Orquestra maravilhosa. Além disso, aqueles shows, pra mim, foram uma espécie de vitrine – e eu me esforcei para me fazer ser lembrado depois dos shows. Eu já tinha ficado sabendo do show ”Clássicos do Rock I” e pensei ”eu tinha que estar lá”. Meu sonho era tocar com uma orquestra, sou fã de Frank Sinatra e grandes orquestras. Comentei essa vontade com o meu empresário, que agendou uma conversa com o maestro. Pra mim, era uma grande honra conhecê-lo, dei meu primeiro disco pra ele, que gostou do trabalho. Depois disso, participei ainda de um dos espetáculos do ”Clássicos do Rock I”, em Campo Bom (RS), cantando “One”, do U2. Fui muito bem recebido pelos músicos da orquestra, os ensaios foram ótimos e, a partir dessa parceria, fui chamado para participar do “Magical Mystery Beatles”, show em que a Orquestra interpretou clássicos dos Bealtes. Foi inacreditável, eu estava feliz como uma criança – eu não tenho muito tempo de estrada, como as pessoas podem pensar. Antes de ser músico, eu trabalhava com informática.
E como foi tomar essa decisão? Em que época da sua vida isso aconteceu?
Eu trabalhei 5 anos com informática. Quando completei 20 anos, fui embora do Brasil para estudar num Conservatório de Música nos Estados Unidos – em Milwaukee, especificamente. Isso foi um divisor de águas na minha vida. Por isso, quando voltei ao Brasil, tive que optar. E decidi ser músico. Desde 1995, trabalho como músico profissional.
Conte mais da sua viagem aos EUA, e como ela ajudou nessa mudança na sua vida?
Eu estudei Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, quando eu estava no terceiro ano, parei com a faculdade e comecei a trabalhar com Informática. Quando viajei para os Estados Unidos, fiz de tudo: fui entregador de pizza, ajudante de padeiro, garçom, trabalhei na construção civil… Lá, conheci uma cantora paulista e começamos a nos apresentar num clube de brasileiros em NY. Depois disso, decidi me mudar para Milwaukee, onde toquei com uma banda genuinamente americana. Eu ainda não cantava, era guitarrista. Toquei em uma wedding band (banda que toca em casamentos), e também com músicos de rap, paralelamente aos estudos no Conservatório de música. Eu morei quando criança na Inglaterra, por isso o inglês nunca foi problema para mim. Tanto que, quando voltei para o Brasil, tocava com uma banda cover, e estávamos fazendo shows num verão em Santa Catarina. Uma noite, o vocalista teve um ‘piripaque’ e fui escalado para substituí-lo. Foi aí que comecei a cantar.
E a sua história de vida? Além da Inglaterra, você também morou na Paraíba, certo?
Sim, mas nasci em Porto Alegre. Quando eu tinha um ano, a família se mudou para Florianópolis. Meu pai é pHD em Matemática, e isso fazia com que ele recebesse bastante ofertas legais de trabalho e, por isso, a gente vivia se mudando. Meu pai é um grande apreciador de música, tem uma grande coleção de discos de música clássica. E me ensinou muita coisa, mesmo sem se dar conta – eu lembro que ele sentava e ficava ouvindo os discos com todo o cuidado, tentando identificar todos os instrumentos das orquestras. De Florianópolis, nos mudamos para João Pessoa, na Paraíba, porque meu pai foi chamado para abrir o Departamento de Física da Universidade Federal de lá. Ficamos por 3 anos na Paraíba e, de lá, fomos para Inglaterra, onde meu pai foi fazer seu pHD. Eu tinha 5 anos da idade quando chegamos à Birmingham, e pra mim todas aquelas mudanças eram um êxtase, éramos bem nômades e eu adorava isso. Aprendi muita coisa na Inglaterra. Acho que, infelizmente, o Brasil tem uma cultura de não incentivar o sonho das pessoas. Um adolescente americano trabalha no McDonald’s, compra seu primeiro carro com 100 dólares e vive a vida em sua plenitude na idade perfeita para isso. Aprendi na Inglaterra, também, o significado de “cidadania”, de ter direitos e deveres. Que valem para todo mundo. Eu lembro que meu pai me levava com ele para comprar discos nas lojas – ele comprou um guia de música clássica da Time Out e saiu comprando a coleção de discos toda. Eu ficava encantado nestas lojas de discos. Voltei ao Brasil com 13 anos, e foi uma volta cruel. Voltamos para João Pessoa e, quando eu e meus dois irmãos aparecemos na escola, era tipo “here come the weirdos” (risos). Todo mundo veio fazer fila pra ver a gente. Eu lembro que um professor tentou dar uma aula em inglês para nós, e nossa adaptação foi complicada porque estávamos acostumados com o inglês. Então, voltamos para Porto Alegre, onde fiz o Ensino Médio, trabalhei um tempo e, depois, fui para a Europa e os Estados Unidos. A primeira coisa que fiz quando cheguei na Europa foi visitar a escola onde tinha estudado em Birmingham. Foi um momento de “o homem prestando contas ao menino”. E acho que, naquele momento, o menino-Panta olhou pra mim e disse “tá tudo bem, tá seguindo um bom caminho”. Daí, fui pros Estados Unidos estudar música.
E como você começou a compor?
Eu já fazia minhas músicas há muito tempo, mas me achava muito ruim (risos). E queria fazer música pop, o que é mais difícil ainda. Tudo o que é simples, é complicado. Não dá pra teorizar muito sobre isso. Comecei a escrever minhas letras em inglês, que era muito mais fácil para mim, e depois lancei meu primeiro disco, em 1999, já de volta ao Brasil, só com músicas em inglês, chamado “Comfortable Soul”.
Como foi a recepção das pessoas a este disco?
Acho que de grande respeito, porque ali fiz tudo sozinho. As letras, músicas, arranjos, capa. Eu tinha uma crença de criar o meu próprio nicho, de maneira exlusiva. Me comunicar com o meu público. E, para mim, isso tinha que ser em inglês. Para você ter uma idéia, quando voltei ao Brasil, não conhecia os Mutantes, Secos e Molhados… Nada disso. Comecei a ouvir samba, pagode de raiz, música gaúcha. Em casa, nunca houve preconceitos musicais. E eu fiz esse disco assim também porque nunca fui maria-vai-com-as-outras. Muito pelo contrário: eu sempre faço as coisas meio pela contramão. Até agora, têm dado certo (risos).
Quais artistas você cita como influência no teu trabalho?
Acho que tudo que eu ouvi, ouço ou vou ouvir, vai sempre me influenciar.Espero estar sendo honesto comigo mesmo. Escuto bastante pop rock – James Blunt, Robbie Williams, U2, Coldplay, Smashing Pumpkins, Blue Merle; e também R&B – Prince, Marvin Gaye.
Quais são os 5 discos que você mais têm escutado ultimamente?
Na verdade é raro eu ouvir um disco inteiro, prefiro ouvir de tudo; “artistas e bandas” que me interesso por algum motivo ou outro. Se “bate” muito, eu vou atrás do disco. O último disco que fui atrás foi o “Parachutes”, do Coldplay. Ouvi 500.000.000 de vezes o disco inteiro, ouvi uma musica pela primeira vez em 2002/03, se não me engano. Atualmente, ouço bastante musicas de Blue Merle, AudioSlave, James Morrison, John Mayer e Stereophonics.