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Thiago Heinrich, Nenung, Yang Zam e 4Nazzo. Imagem: Gabriela DiBella

Uma dupla de praticantes do budismo tibetano, morando no alto de um morro ao lado de um Templo Budista tradicional, no interior do Rio Grande do Sul, decidiram fazer música a partir de suas experiências meditativas, mixando blues, MPB, psicodelia, tropicália, rock e algo mais.

Parceiros de vida, Yang Zam (voz, guitarra e incensos) & Nenung (voz, harmônica e violão) descobriram que suas vozes eram tão afinadas quanto suas intenções e, encorajados por Wander Wildner, levaram adiante o projeto musical-meditativo no início do ano 2000, quando lançaram seu 1º CD homônimo “Os The Darma Lóvers”, seguido do disco “Básico”, em 2002. Foi quando a dupla saiu da estrada para entrar em um retiro formal de meditação, orientado por seu professor, o Lama tibetano Chagdud Rinpoche.

Em 2004, a banda voltou à estrada como um quinteto, com a entrada da guitarra de 4Nazzo (ex-De Falla), Thiago Heinrich (baixo e piano) e Sassá (percurssão). Com seu trabalho reconhecido no país e três CDs já lançados, o último intitulado “Laranjas do Céu” (de 2005), eles também contam duas canções gravadas recentemente no 1ºDVD/CD MTV apresenta Dado Villa-lobos (ex-Legião Urbana). Desde 2006, seus discos estão sendo distribuídos pela Europa pelo selo francês Nacopajaz, e a banda faz shows pelo Brasil todo, contando com a participação especial de amigos como Moreno Velloso, Kassin e Pedro Sá, entre outros.

Confira abaixo um bate-papo com Nenung, uma mistura de mito cult e filósofo zen-budista.

Antes de nós começarmos a falar do the Darma Lóvers, é inevitável uma perguntinha sobre a “Barata Oriental” (banda cult que até hoje tem uma multidão de admiradores, fundada por Nenung). O que ficou daquela época?

É, a banda durou dez anos, e eu fui o único que ficou do início ao fim, eu fundei e enterrei a banda, e nesse meio tempo passou muita gente dentro dela. Na história duma banda de rock n´roll é muito difícil tu determinar uma só expectativa e como aqui no Sul é difícil tu conseguir um circuito prá tocar música própria e, se tu tem idéias que não sejam aquelas que estão massificadas tocar com uma banda fica muito difícil; e até mesmo os bares em que por um tempo a gente conseguiu ter este circuito foram fechando as portas prá bandas que tocassem músicas próprias para abrí-las prás bandas cover.

E o “Coiote Vesgo” (banda surgida das “cinzas” da Barata)?

O Coiote era uma brincadeira, porque o pessoal era o mesmo da Barata naquela época, e a gente trocou o nome porque queria parar com aquela história de ser obrigado a tocar sempre as mesmas músicas; então basicamente só mudou o nome…

Falando em nome, por que “The Darma Lóvers”?

Porque dharma são os ensinamentos do Buda, e também um meio para alcançar a libertação. Quando eu saí da Barata a gente parou de fazer rock n´ roll e eu tinha muita coisa em matéria de letras que não se encaixava na expectativa roqueira da Barata. Eu tinha uma caixa cheia de novas letras mas tinha o problema de não saber tocar nenhum instrumento – eu sempre dependi dos outros nessa parte – e aí eu comecei a aprender um pouquinho de violão e, por uma questão de vida ou morte comecei a colocar as letras nas músicas. Fazer as músicas para ter onde colocar as letras, essa é a idéia.

Então surgiu a possibilidade de inovar com a criação da banda…

Exatamente. A história do Darma Lóvers é basicamente esta: a gente queria mesmo era sair desta coisa de competição que tem dentro do rock, estar fora dessa raia.. A gente quer em primeiro lugar tocar, ser ouvido e ser entendido por aqueles que querem entender.

Pergunta: Por isso que os shows de vocês tem aquele clima intimista e são restritos à um pequeno público?

Nenung: É, a gente tem feito assim até porque nós temos pouco recurso cênico e não temos muitas luzes, e de certa forma tudo isso ajuda as pessoas a nos sentirem e ficarem ao alcance das coisas. Somos adeptos do qualidade é melhor que quantidade, já que a segunda não passa de uma decorrência da primeira e, se em cada show que a gente faz tiver uma ou duas pessoas que entenderam já tá muito bom.

O Raul Seixas costumava dizer que ficava frustrado depois de tocar para dez mil pessoas e achar que só duas ou três tinham entendido.

Com a gente não tem esse negócio de querer forçar as pessoas a entenderem a nossa mensagem e, inesperadamente, as coisas têm acontecido de maneira muito fácil porque o Darma Lóvers era um projeto tão despretensioso que é uma surpresa para nós esse reconhecimento por parte do público.

A banda, no Tempo Budista de Três Coroas. Imagem: Gabriela DiBella
A banda, no Tempo Budista de Três Coroas.
Imagem: Gabriela DiBella

Como é que você definiria o som de vocês, já que rock n´ roll eu sei que não é, nem “música alternativa”, como alguns dizem por aí?

Eu não definiria assim. Música alternativa não dá, é prá lá de Raul Seixas (risos), a gente costuma dizer que fizemos um folk psicodélico.

E essa história do budismo influencia diretamente nas letras de vocês…

É, isso é decorrência da prática da meditação, quando tu começas a abrir possibilidades de perceber as coisas de um jeito diferente. Dentro da Barata Oriental a gente já procurava fazer isso prá encontrar um jeito de ter uma visão que questionasse a visão tradicional do conceito das coisas. Agora, a gente encontrou isso na meditação, já que existe a possibilidade de ter um método que possibilite perceber que a realidade é só uma versão dos fatos.

E as influências musicais da banda, quais seriam? Vocês fizeram uma releitura de “Eleanor Rigby”, dos Beatles…eles são influência para vocês?

Uma influência, digamos, melódica. O que a gente faz acaba saindo naturalmente assim porque eu gosto muito de ouvir músicas, velhas e novas. Ultimamente tenho ouvido muito Beck, Blur, achei o último disco deles muito legal, eu gosto desse lance de sujeira no meio da melodia… e escuto coisas antigas, tipo Stones, Sex Pistols.

O que você tem ouvido do rock gaúcho?
Eu curto muito o trabalho do Wander (Wildner, ex-Replicantes), gosto dos arranjos do Frank Jorge, aquela coisa meio Jovem Guarda que ele faz e dos guris do Ultramen.

Veja mais: Site Oficial d’Os The Darma Lovers