Uma dupla de praticantes do budismo tibetano, morando no alto de um morro ao lado de um Templo Budista tradicional, no interior do Rio Grande do Sul, decidiram fazer música a partir de suas experiências meditativas, mixando blues, MPB, psicodelia, tropicália, rock e algo mais.
Parceiros de vida, Yang Zam (voz, guitarra e incensos) & Nenung (voz, harmônica e violão) descobriram que suas vozes eram tão afinadas quanto suas intenções e, encorajados por Wander Wildner, levaram adiante o projeto musical-meditativo no início do ano 2000, quando lançaram seu 1º CD homônimo “Os The Darma Lóvers”, seguido do disco “Básico”, em 2002. Foi quando a dupla saiu da estrada para entrar em um retiro formal de meditação, orientado por seu professor, o Lama tibetano Chagdud Rinpoche.
Em 2004, a banda voltou à estrada como um quinteto, com a entrada da guitarra de 4Nazzo (ex-De Falla), Thiago Heinrich (baixo e piano) e Sassá (percurssão). Com seu trabalho reconhecido no país e três CDs já lançados, o último intitulado “Laranjas do Céu” (de 2005), eles também contam duas canções gravadas recentemente no 1ºDVD/CD MTV apresenta Dado Villa-lobos (ex-Legião Urbana). Desde 2006, seus discos estão sendo distribuídos pela Europa pelo selo francês Nacopajaz, e a banda faz shows pelo Brasil todo, contando com a participação especial de amigos como Moreno Velloso, Kassin e Pedro Sá, entre outros.
Confira abaixo um bate-papo com Nenung, uma mistura de mito cult e filósofo zen-budista.
Antes de nós começarmos a falar do the Darma Lóvers, é inevitável uma perguntinha sobre a “Barata Oriental” (banda cult que até hoje tem uma multidão de admiradores, fundada por Nenung). O que ficou daquela época?
É, a banda durou dez anos, e eu fui o único que ficou do início ao fim, eu fundei e enterrei a banda, e nesse meio tempo passou muita gente dentro dela. Na história duma banda de rock n´roll é muito difícil tu determinar uma só expectativa e como aqui no Sul é difícil tu conseguir um circuito prá tocar música própria e, se tu tem idéias que não sejam aquelas que estão massificadas tocar com uma banda fica muito difícil; e até mesmo os bares em que por um tempo a gente conseguiu ter este circuito foram fechando as portas prá bandas que tocassem músicas próprias para abrí-las prás bandas cover.
E o “Coiote Vesgo” (banda surgida das “cinzas” da Barata)?
O Coiote era uma brincadeira, porque o pessoal era o mesmo da Barata naquela época, e a gente trocou o nome porque queria parar com aquela história de ser obrigado a tocar sempre as mesmas músicas; então basicamente só mudou o nome…
Falando em nome, por que “The Darma Lóvers”?
Porque dharma são os ensinamentos do Buda, e também um meio para alcançar a libertação. Quando eu saí da Barata a gente parou de fazer rock n´ roll e eu tinha muita coisa em matéria de letras que não se encaixava na expectativa roqueira da Barata. Eu tinha uma caixa cheia de novas letras mas tinha o problema de não saber tocar nenhum instrumento – eu sempre dependi dos outros nessa parte – e aí eu comecei a aprender um pouquinho de violão e, por uma questão de vida ou morte comecei a colocar as letras nas músicas. Fazer as músicas para ter onde colocar as letras, essa é a idéia.
Então surgiu a possibilidade de inovar com a criação da banda…
Exatamente. A história do Darma Lóvers é basicamente esta: a gente queria mesmo era sair desta coisa de competição que tem dentro do rock, estar fora dessa raia.. A gente quer em primeiro lugar tocar, ser ouvido e ser entendido por aqueles que querem entender.
Pergunta: Por isso que os shows de vocês tem aquele clima intimista e são restritos à um pequeno público?
Nenung: É, a gente tem feito assim até porque nós temos pouco recurso cênico e não temos muitas luzes, e de certa forma tudo isso ajuda as pessoas a nos sentirem e ficarem ao alcance das coisas. Somos adeptos do qualidade é melhor que quantidade, já que a segunda não passa de uma decorrência da primeira e, se em cada show que a gente faz tiver uma ou duas pessoas que entenderam já tá muito bom.
O Raul Seixas costumava dizer que ficava frustrado depois de tocar para dez mil pessoas e achar que só duas ou três tinham entendido.
Com a gente não tem esse negócio de querer forçar as pessoas a entenderem a nossa mensagem e, inesperadamente, as coisas têm acontecido de maneira muito fácil porque o Darma Lóvers era um projeto tão despretensioso que é uma surpresa para nós esse reconhecimento por parte do público.
Como é que você definiria o som de vocês, já que rock n´ roll eu sei que não é, nem “música alternativa”, como alguns dizem por aí?
Eu não definiria assim. Música alternativa não dá, é prá lá de Raul Seixas (risos), a gente costuma dizer que fizemos um folk psicodélico.
E essa história do budismo influencia diretamente nas letras de vocês…
É, isso é decorrência da prática da meditação, quando tu começas a abrir possibilidades de perceber as coisas de um jeito diferente. Dentro da Barata Oriental a gente já procurava fazer isso prá encontrar um jeito de ter uma visão que questionasse a visão tradicional do conceito das coisas. Agora, a gente encontrou isso na meditação, já que existe a possibilidade de ter um método que possibilite perceber que a realidade é só uma versão dos fatos.
E as influências musicais da banda, quais seriam? Vocês fizeram uma releitura de “Eleanor Rigby”, dos Beatles…eles são influência para vocês?
Uma influência, digamos, melódica. O que a gente faz acaba saindo naturalmente assim porque eu gosto muito de ouvir músicas, velhas e novas. Ultimamente tenho ouvido muito Beck, Blur, achei o último disco deles muito legal, eu gosto desse lance de sujeira no meio da melodia… e escuto coisas antigas, tipo Stones, Sex Pistols.
O que você tem ouvido do rock gaúcho?
Eu curto muito o trabalho do Wander (Wildner, ex-Replicantes), gosto dos arranjos do Frank Jorge, aquela coisa meio Jovem Guarda que ele faz e dos guris do Ultramen.
Veja mais: Site Oficial d’Os The Darma Lovers