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Da série sobre o tempo Imagem: Leandro Selister

Leandro Selister é um artista plástico que vive e trabalha em Porto Alegre, onde também edita o site Artewebbrasil. Entre 2001 e 2004, Leandro montou 6 exposições de fotografia, sua especialidade – ele é formado pelo Instituto de Artes da UFRGS com ênfase em fotografia. Entre suas obras mais conhecidas, estão “Cotidiano – Intervenções no Trensurb de Porto Alegre”, obra de artes plásticas que foi publicada também em livro e a exposição fotográfica que depois virou livro “Tique-taque – Tremor das pequenas coisas”. Apesar da pouca idade, Leandro acumula prêmios ao longo da carreira.

 

Suas obras parecem bastante centradas no cotidiano. Como começou este seu fascínio, enquanto artista, com o dia-a-dia?

Já faz algum tempo que venho trabalhando com registros do cotidiano, de coisas simples e às vezes até banais. Essa atenção voltada ao cotidiano começou em 2003. Eu sempre falo que essa necessidade de captar o tempo, de compreender o tempo através de fotos seqüenciais, foi a partir de uma necessidade interna de me entender e de entender também a chegada dos 40 anos, enfim, uma outra etapa na vida. Então, quando completei 38anos, em 2003, comecei a fotografar tudo o que me possibilitasse entender as transformações, a passagem do tempo.

Intervenção no Trensurb Imagem: Leandro Selister
Intervenção no Trensurb
Imagem: Leandro Selister

Sua intervenção que aconteceu em 2005 nos vagões do Trensurb atingiu um público muito diferente das pessoas que comumente freqüentam exposições e intervenções em galerias de arte. Como foi o feedback que você recebeu? 

Essas intervenções fizeram parte de um projeto que se chamou “Cotidiano”. Foram realizadas nas 17 estações do Trensurb,e, justamente por incluir as 17 estações, atingiu milhares de pessoas. O trabalho foi contemplado com o Prêmio Cultural Sergio Motta, em São Paulo e, a partir da bolsa estímulo, pude realizar o trabalho, que também virou livro um ano depois. A resposta do público, a interação, foi incrível. A proposta do trabalho era clara : interferir, alterar o dia a dia dos usuários do trem através de adesivos em tamanho natural, com cenas dos próprios usuários. Para isso eu realizei algumas viagens de trem captando em imagem digital cenas diárias e posteriormente tranformei em adesivos. Não houve lançamento do projeto, abertura, coisas desse tipo. Durante mais ou menos 10 dias, eu realizei a instalação das imagens, e, as reações com o trabalho iniciaram no mesmo instante. A repercussão na imprensa foi enorme, e, junto ao público também. Até hoje esse trabalho é lembrado de forma carinhosa e marcante pelas pessoas e, muitas das imagens ainda “habitam” as estações do trensurb.

O site Arteweb é mantido por voluntários e se tornou uma referência entre os artistas brasileiros. A fotógrafa Dulce Hefner, por exemplo, disse que o site é a melhor fonte de informação cultural do cenário das artes plásticas no Rio Grande do Sul. Vocês esperavam toda essa credibilidade? De que forma é compilado o material que é publicado?

O Artewebbrasil completou 7 anos de atividade. Ás vezes eu mesmo me surpreendo de ter iniciado isso há tanto tempo. Há 7 anos atrás a nossa relação com a internet era outra. Na época do lançamento do site, as pessoas inclusive me perguntavam como eu faria para mantê-lo… O site foi e ainda é de certa forma um projeto pessoal, um sonho que consegui realizar, e, durante esse tempo todo me dediquei muito a ele, e, acredito que essa dedicação foi a responsável por ter agregado uma equipe de voluntários, que deram um vigor ao site nos últimos dois anos. O reconhecimento veio por um motivo simples : dedicação e amor ao que eu faço. Acho que por mais banal que pareça essa frase, é a mais pura verdade : tudo dá certo quando é feito com amor e dedicação. Assim, o site foi ganhando espaço, conquistando pessoas, e, principalmente divulgando a arte e os artistas. Atualmente estou repensando o site. Acho que o momento é outro. O mundo mudou muito em 7 anos,e, acredito muito na coletividade, em trabalho de equipe, e, quero pensar a partir desse viés uma nova cara para o Arteweb.

Leandro: eterna busca Imagem: Luiz Morelli
Leandro: eterna busca
Imagem: Luiz Morelli

Na sua exposição e livro “Tique-taque – Tremor das pequenas coisas”, você retrata o dia-a-dia de uma família de passarinhos que se alojou junto à sua casa. Quando você percebeu que suas fotos deixavam de ser registros e tornavam-se arte?

Sinceramente não sei se essas fotos são arte. Não tenho realmente uma preocupação por isso, e, talvez por não ter essa preocupação, eu consiga realizá-las dessa forma. O que está por trás de todas essas imagens que venho realizando há mais de 4 anos, é justamente um olhar mais demorado sobre o mundo, sobre a vida que está acontecendo no nosso quintal, na árvore em frente a nossa casa, na esquina, enfim, coisas que acontecem, coisas belas, e, que não temos mais tempo para perceber. A exposição Tique-taque – Tremor das pequenas coisas, percorreu 3 cidades gaúchas, além de Porto Alegre. Levei o trabalho para Caxias do Sul, Pelotas e Santa Cruz. Eu guardo os livros de assinaturas onde as pessoas geralmente escrevem o nome. No caso dessa exposição, possuo testemunhos emocionados das pessoas, onde me agradecem por ter oferecido à elas a oportunidade de ver a vida de outra forma. Esse retorno, essa resposta do público, saber que o teu trabalho mexeu dessa forma, isso para mim é arte.

E quais os seus planos daqui para frente? Algum novo projeto alinhavado?

Os planos são sempre continuar fotografando. Eu quero muito fazer um livro de fotografias. Um livro onde eu mostrarei imagens, é claro, mas também textos que escrevo sobre essas imagens. Mas, como todo projeto, preciso me organizar, captar recursos. Durante esse últimos anos aprendi uma coisa muito importante: temos que saber esperar, ter paciência. Na vida tudo acontece dentro de um tempo certo. Esperar não significa ficar de braços cruzados. Esperar significa fazer sempre e ir amadurecendo aos poucos.

Veja mais: Site de Leandro Selister