João Vontobel é o fundador e o primeiro presidente da Vonpar, empresa fundada em 1948 que atualmente possui três fábricas e cinco centros de distribuição de bebidas e alimentos. Além de sua trajetória de empresa bem-sucedida, João ainda criou uma iniciativa social que é referência em todo o Estado.
Preocupada com sua função social, a Vonpar inaugurou em Porto Alegre, em abril de 2003, o primeiro Prato Popular Restaurante Comunitário. Idealizado pelo presidente do Conselho de Administração da empresa, João Vontobel, o restaurante tem o objetivo de proporcionar refeições de qualidade à população menos favorecida. O projeto tem a parceria da empresa Puras, que é responsável pela elaboração dos pratos preparados na cozinha industrial da Vonpar e transportados para o restaurante em contêineres térmicos. Diariamente, são servidas mais de 300 refeições ao preço de R$ 1,00 para os frequentadores cadastrados pela Vonpar.
Como surgiu a ideia de criar o Restaurante Popular?
Esta vontade de promover uma iniciativa pessoal esteve sempre presente e surgiu há muito tempo. Lembro bem da ocasião: eu estava em Curitiba, em uma viagem de negócios, e passei por um restaurante que servia refeições a um real para as pessoas. Era uma iniciativa da Prefeitura da cidade, recordo que ficava embaixo de um viaduto e que atendia cerca de 200 pessoas. Interessei-me imediatamente e fui almoçar lá com meu filho, que viajava comigo. Imediatamente pensei em fazer algo parecido no Rio Grande do Sul – isso já faz dez anos. De volta a Porto Alegre, nós começamos a pensar uma forma de viabilizar esta iniciativa e, então, tivemos a ideia de convidar a Puras, que já fornecia a comida para os refeitórios da nossa empresa, como parceira do projeto.
E como foi a implantação?
A partir do acordo com a Puras, tudo ficou mais simples. Eles forneceriam o alimento preparado pela equipe deles a preço de custo e a Vonpar pagaria a diferença de cada refeição. Assim, abrimos nosso primeiro Restaurante Popular, na antiga fábrica da Vonpar (que ficava na esquina da Rua Santos Dumont com a Rua Polônia, Zona Norte de Porto Alegre), e ele funciona muito bem até hoje. De início, nosso foco era fornecer alimentação para desempregados, aposentados e moradores de rua – a mesma comida que servíamos aos nossos funcionários, preparada com o mesmo cuidado, só que com menos variedade de escolha. Inicialmente, não havia ficha de inscrição, crachá, a seleção era informal. Claro que logo precisamos de organização e as pessoas passaram a usar crachás de identificação – aparecia muita gente que trabalhava em outras empresas das redondezas para almoçar por R$ 1,00, por isso precisamos fazer esta triagem.
E quais as primeiras percepções sobre a iniciativa?
Notamos o quão importante era a iniciativa que, em pouco tempo, se tornou indispensável na vida daquelas pessoas. Eu sempre digo para o rapaz responsável por este que foi nosso primeiro Restaurante que ele “vai para o céu sem escalas” (risos). É um trabalho duro, é preciso saber ouvir, as pessoas têm carência de tudo, às vezes é preciso ser psicólogo, cada frequentador tem um problema diferente, sempre grandes questões, difíceis de serem resolvidas. Trabalhar ali requer uma força e equilíbrio emocional muito grandes, mas os resultados são perceptíveis. Nestes sete anos de Restaurante Popular, temos muitas histórias de pessoas que deixaram de beber, de consumir outras drogas ou de brigar em casa com a família. E essas pessoas que vão ao Restaurante Popular são sempre muito gratas – sei porque eu mesmo costumo visitar o local frequentemente.
E como a iniciativa começou a se espalhar?
O sucesso deste projeto piloto incentivou empresas a instalarem restaurantes similares em outras cidades. Hoje, já existem unidades em Gravataí, Sapucaia do Sul, Caxias do Sul, Erechim, São Gabriel e Charqueadas (RS), em Belo Horizonte (MG), Manaus (AM), Campo Grande (MS), Jaboatão dos Guararapes (PE), João Pessoa (PB), Fortaleza (CE), Feira de Santana (BA), Recife (PE), Curutiba (PR), que contam com o apoio de prefeituras e empresas como Gerdau, Dana, Puras, SESI e da própria Coca-Cola e franqueadas. Eu lembro que a Dana foi uma das nossas primeiras parceiras, criando o Restaurante Popular de Gravataí já em 2004, apenas um ano após o nosso primeiro restaurante. Hoje, totalizamos mais de 50 Restaurantes Populares, todos com a participação da Vonpar, que fornecem aproximadamente dois milhões de refeições por ano. O projeto Prato Popular também conta com o apoio do governo do Estado do Rio Grande do Sul e integra o programa Fome Zero do Governo Federal.
A que o senhor atribui o sucesso desta iniciativa social?
À sua simplicidade. Ele é um projeto de fácil execução para as empresas e de muito ganho para a sociedade. As grandes empresas já produzem alimentos em grande escala para seus funcionários diariamente – ou seja, a comida é preparada dentro das Unidades das empresas, é preciso apenas aumentar o volume e transportar o alimento até o local onde fica o Restaurante Popular. Se fizéssemos a comida dentro dos Restaurantes Populares, seria muito mais caro para nós, que teríamos que contratar pessoas para cozinhar, e dificultaria a adesão das empresas.
Quais as dificuldades encontradas no início da implantação?
Eu diria que praticamente nenhuma. Em poucos dias, o Restaurante era um sucesso e já atingiu o limite de 300 pessoas atendidas por dia. Hoje em dia, atendemos cerca de 350 pessoas por dia. Não prevíamos que muita gente iria chegar sem dinheiro algum para pegar a refeição, mas como não abrir uma exceção num caso desses? Segundo nossos levantamentos, 5% dos frequentadores do Restaurante Popular não conseguem pagar sua refeição. Mas não chega a ser uma dificuldade, é um grande alerta para a nossa população.
Qual sua maior alegria com o Restaurante Popular?
Eu me sinto muito gratificado por fazer parte desta história. É um projeto muito bonito – tanto que, no mínimo duas vezes por mês, visito algum Restaurante Popular para ver como as coisas estão indo, como está funcionando. É impressionante como este projeto ajuda as pessoas na medida em que mais empresas vão se conscientizando para que todo brasileiro tenha direito à alimentação.
Como o senhor avalia a participação da iniciativa privada em projetos sociais?
Acredito que está cada vez maior, com bastante ajuda da imprensa, que divulga, sim, boas iniciativas de responsabilidade social. Assim, as empresas têm a consciência de que podem ajudar e que isso não é tão difícil como parece. É uma pena que muita gente ainda tenha o pensamento retrógrado de “se fizer isso, vou me incomodar”. Poderíamos ter o dobro de Restaurantes Populares no Brasil, é tão simples operacionalizá-los. Nós inclusive montamos a Fundação Vonpar, para administrar nossos projetos sociais e trabalhar cada vez melhor nesta área, tão essencial.
O projeto Restaurante Popular ainda conta com o apoio das Prefeituras Municipais dos municípios onde está instalado e do Governo Estadual – no Rio Grande do Sul, recebe o incentivo da Lei da Solidariedade.
Confira o Restaurante Popular de Gravataí , patrocinado pela Dana e pela Puras.