Pianista, maestro, arranjador e compositor, Geraldo Flach é considerado o maior nome da música instrumental no Sul do país. Dono de um estilo muito pessoal, mistura elementos do folclore e da música urbana com uma concepção altamente jazzística, repleta de brasilidade. Geraldo tem músicas gravadas por Elis Regina, Emilio Santiago, Taiguara e Borghettinho, entre outros, somando ao seu currículo trilhas para cinema, ballet e especiais para televisão. Tem atuado no Brasil e no exterior em seu quarteto ou em parceria com outros artistas, entre os quais Nana Caymmi, Ivan Lins, Djalma Corrêa, Renato Borghetti, Luiz Carlos Borges e os argentinos Guilhermo Zarba e o grupo Cuatro Vientos.
Recebeu o prêmio instrumentista da Década (1991), Prêmio Açorianos de Música como Melhor Arranjador (1992), Melhor Compositor e Melhor Disco (1993), Melhor Instrumentista (1995) e Melhor Arranjador (1998). Grande criador musical, personalidade extraordinária dentro da moderna música gaúcha, Flach merece luzes e aplausos.
Você iniciou seus estudos musicais aos cinco anos. Como foi isso, seus pais sempre quiseram que você se tornasse um músico?
Sim, iniciei os estudos com cinco anos de idade. Minha mãe tocava piano. Eu, aos quatro já procurava o piano, onde ficava bastante tempo explorando sonoridades e ”compondo” aquilo que me vinha na cabeça. Vendo o interesse, meus pais contrataram uma professora, que me iniciou nos estudos. Agradeço até hoje pelo fato de eles terem sido atentos e percebido que dali poderia sair um pianista.
Mesmo tendo formação erudita, iniciastes a carreira tocando em bailes. Como era isso? Que aprendizado surgiu dessa vivência?
Os bailes vieram mais tarde, quando eu tinha 14 anos. Até então eu me mantinha unicamente na música erudita, mas a liberdade da música popular foi me seduzindo e me levando a procurá-la. Juntamos uns amigos da vizinhança que tocavam alguma coisa e estava feito o primeiro conjunto e os primeiros bailes apareceram.
Conte como foi a experiência de ter seu próprio programa na TV Piratini. Quais suas recordações mais marcantes desta época?
A Bossa Nova estava no auge, no centro das atenções, especialmente os trios de piano, baixo e bateria, que era uma das formações que eu utilizava na época. Fui convidado a fazer um programa na TV Piratini, aos sábados à tarde, tocando Bossa Nova, lançando novidades e atendendo pedidos feitos por cartas durante a semana. Foi uma experiência válida, na medida em que a divulgação do meu trabalho cresceu, ampliando, em muito, o público que já me conhecia, enquanto eu ia assimilando mais uma experiência em minha vida.
Como funciona seu processo de criação na hora de compor uma música? É bastante intuitivo ou mais técnico?
Existem várias maneiras e diversos momentos na área da composição. Esse negócio de esperar pela inspiração é meio que fantasia. Claro que muitas obras iniciam de forma intuitiva. A gente vai tocando qualquer coisa, solta e livre, quando, de repente, aparece um desenvolvimento harmônico, melódico interessante. É o momento do ”Opa, isso tá legal”. Aí já passa a ser uma composição trabalhada. Têm as ocasiões em que a gente faz música por encomenda, como uma trilha de filme, por exemplo. São casos em que se trabalha em cima de uma ideia pré-estabelecida em sintonia com o diretor, sobre os resultados que se busca. Não é raro, também, finalizar uma música a partir da audição de um improviso gravado ao vivo num show. Não há regra fechada nessa área da composição. Mas, de qualquer forma, a técnica é importante.
Dentre os muitos discos dos quais participastes como músico, existe algum – ou alguns – que te traz mais carinho? Por quê?
De modo geral eu gosto dos meus discos, mas eles ficam no passado quando termino de mixar a última música, pois, a partir dali, já estou pensando no próximo trabalho. Talvez o CD ”Piano”, que gravei em Nova Iorque, tenha uma certa característica especial, pois fui para lá com o repertório pronto para gravar e acabei compondo oito músicas em três dias, mudando totalmente a cara do disco. O estúdio ficava no 18° andar de um prédio no Soho e através de um janelão eu observava Manhattan, enquanto gravava. Isso me causou forte impressão.
E como produtor?
São todos muito importantes para mim. Não me arrependi de nenhum.
Qual é sua sensação ao saber que composições suas foram gravadas por grandes intérpretes brasileiros?
Muito boa. Gostaria que fossem mais, inclusive.
O Geraldo é compositor, maestro, músico, arranjador… Qual o ponto de intersecção entre todos estes seus “Geraldos”?
O ponto de intersecção é a música.
Quais são suas maiores influências musicais?
Tenho várias influências, de tudo o que é lado. São incontáveis, mas é impossível não citar Antonio Carlos Jobim, o pianista Luiz Eça, Villa-Lobos, Berstein, Piazzolla, Thelonius Monk e por aí a lista não acaba mais.
Qual é a essência de um bom músico?
Talento, estudo, persistência e muito, mas muito trabalho.
Qual sua expectativa em relação ao Concertos Dana? Gostas do trabalho do Marcelo Delacroix?
Venho acompanhando há bastante tempo esse projeto Concertos Dana, com admiração, respeito e vontade de participar. Fico feliz que a hora tenha chegado. Quanto ao Marcelo Delacroix, gosto demais do trabalho dele, com suas características bem pessoais, seu estado criativo e sua forma de fazer as coisas bem feitas. É um ”prazerzaço” poder trabalhar com ele, o Tiago Flores e a Orquestra da Ulbra nesse concerto.
Quais seus planos daqui pra frente?
Meus planos? Os próximos.