Fernanda Takai só tem de pequeno o timbre da voz e o tamanho – sua energia criativa é impressionante. Ela começou a ser conhecida como vocalista da banda de pop alternativo Pato Fu, mas também é intérprete, compositora e cronista. Além de mãe da Nina. Formada em Comunicação pela UFMG, ela faz a maioria dos vocais do Pato Fu e toca guitarra e violão, além de participar com algumas composições. Em dezembro de 2007, ela lançou o seu primeiro disco solo ”Onde Brilhem os Olhos Seus”, cantando músicas do repertório de Nara Leão. Em novembro do mesmo ano lançou seu primeiro livro: ”Nunca Subestime uma Mulherzinha” e, em 2009, lançou o disco e DVD “Luz Negra”, registro de sua primeira turnê solo. Em 2010, voltou ao trabalho com o Pato Fu, lançando o disco “Música de Brinquedo”.
“Onde brilhem os olhos seus” é o seu primeiro disco solo. Demorou para gravar um disco com o nome Fernanda Takai ”desvinculado” da banda?
Não está desvinculado porque conto com a ajuda de meus amigos de banda. E fiz isso justamente porque estou muito feliz com a atual fase do Pato Fu, com o tipo de produção que conseguimos fazer em nosso estúdio, com os arranjos que Lulu (Camargo, tecladista da banda) e John (Ulhôa, guitarrista e marido de Fernanda) criam. Eu não sentia necessidade de gravar um disco solo autoral, este é um projeto solo especial.
A criação dos arranjos das músicas deste disco tentaram fugir um pouco do trabalho feito dentro do Pato Fu?
No Pato Fu mesmo, temos a tradição de desconstruir bastante as versões que fazemos de outros artistas. Nesse sentido, usamos a nossa própria escola. Queríamos fazer um disco ainda mais delicado que o disco mais recente da banda. Mas não fugimos do que sabemos fazer melhor que é criar estéticas sonoras interessantes pra cada canção.
Como foi a escolha do repertório? A intenção do disco é realmente um tributo?
Essa palavra tributo é meio ‘pesadona’. Digo que é um disco dedicado à Nara, uma forma da gente se lembrar do bom gosto dela, da importância que ela teve como artista em épocas diferentes de nossa música. Apesar de ter o nome dela sempre por perto, é um disco muito pessoal. Afinal, na escolha das músicas, a palavra decisiva era minha. Quando eu e Nelson Motta tínhamos alguma dúvida entre que música gravar, ele sempre me dizia pra escolher simplesmente qual eu tinha mais identificação. Claro que busquei momentos significativos da carreira da Nara, mas todos eles também me são muito confortáveis como intérprete. Eu e Nelson fizemos listas pessoais e depois fomos trocando emails discutindo a importância de cada uma. Partindo de umas 50 canções iniciais, acabamos escolhendo essas 13 que compõem o disco.
Como surgiu a ideia de fazer esta homenagem?
Foi através de um email que o Nelson me mandou no fim do ano passado, contando da vontade que ele tinha em me ouvir cantar um repertório selecionado da Nara que a representasse em várias fases da carreira, não apenas a Nara bossa nova. Como eu conhecia bem a música dela porque sempre ouvi em casa desde pequena e tenho uma empatia grande por sua figura, achei que esse seria um projeto mais do que especial.
Você tinha o sonho de gravar um disco solo? É sabido que você gosta muito de cantoras que cantam sozinhas… Você também queria enveredar por este caminho?
Não tinha ideia de gravar um disco solo enquanto a banda ainda estivesse na ativa e, assim, ainda me representasse como cantora no meu lado autoral, principalmente. Até hesitei um pouco antes de gravar o disco solo porque achava que ele tiraria o foco do próprio disco do Pato Fu, o nono, lançado no meio de 2007. Mas o que tem acontecido é justamente o contrário, se eu me fortaleço, isso de alguma forma também ajuda a banda nessa carreira de 15 anos que temos.
Você lançou seu primeiro livro, ‘Nunca subestime uma mulherzinha’, uma reunião de crônicas e contos já publicados nos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. Você sempre escreveu? Como foi o convite para ser colunista destes jornais?
Eu sempre fui mais leitora do que escritora. Vez por outra me convidavam pra escrever textos pra publicações bem distintas: Pais & Filhos, Playboy, revistas de música… Um dia o editor do Estado de Minas, sabendo desses meus escritos esporádicos, me chamou pra ocupar uma coluna semanal. A princípio não sabia se ia conseguir entregar textos interessantes a um público diverso demais como é o universo dos leitores de um jornal de grande circulação… mas já faz quase três anos que isso tem acontecido e o retorno tem sido ótimo!
Você e John gravaram e produziram em casa “Onde Brilhem os Olhos Seus”… Como foi essa familiarização com a sonoridade do samba, da bossa nova? E quais as vantagens de gravar o disco no seu “campinho”?
A gente conhecia as canções como ouvintes apenas. Nunca tínhamos tocado o repertório que escolhemos gravar. O que fizemos foi usar nossa experiência e limitação pop pros arranjos. Descomplicamos muitos deles, sem perder a referência do original. Gravar em nosso estúdio é bom economicamente, também temos todo o tempo do mundo, posso gravar de chinelo, parar pra levar a minha filha à escola, cozinhar alguma coisa… é um luxo simples.
Em “Luz Negra”, você escolheu algumas músicas para cantar, como “Ben”, de Michael Jackson, e “Ordinary World”, do Duran Duran… Fale um pouco sobre estas escolhas. Como funciona isso, você pensa no que funcionaria com sua voz, com o show, o palco, ou são escolhas mais orgânicas, intuitivas?
Penso naquilo que gosto de ouvir e cantar de todos os tempos, países e tendências. Depois é só achar o melhor tom pra mim. Não tenho certeza de nada. Mas tenho que estar feliz com as escolhas, é a primeira etapa pras coisas darem certo.
Você citou algumas vezes, em entrevistas, que gostava dos discos dos Peanuts tocados em instrumentos de brinquedo. Foi daí que surgiu a idéia de gravar o disco “Música de brinquedo”?
Sim, isso foi em 1996! Desde então usamos algumas sonoridades de brinquedo em várias produções do Pato Fu, e o John também, trabalhando com outros artistas como a Zélia Duncan, Érika Machado… Quando a Nina nasceu em 2003, a quantidade de brinquedos musicais em casa aumentou e voltamos a escutar aquele álbum, o Classiks On Toys.
No seu dia a dia, como você estimula o seu ”lado criança”? Acredita que os adultos deveriam fazer isso com mais frequência?
Acho que não o estimulo, acontece naturalmente. Sempre gostei de crianças, sou a irmã mais velha em casa, tento ser bem-humorada na maior parte do tempo. Tem adulto que talvez esteja mais distante da criança que foi, mas pode ser que eles já tenham sido crianças grandes e sérias… não saberiam se divertir nem naquela época.
Como foi a compra de todos aqueles instrumentos de brinquedo? Um garimpo?
Quando pusemos na cabeça que o disco ia finalmente ser feito, passamos a visitar mais lojas de instrumentos, sites na internet e ficamos atentos a qualquer lojinha por onde estávamos passando. Tudo que fizesse barulho e não fosse convencional, servia. Compramos um monte de coisa sem saber como ia ser usada.
No caso de “Música de Brinquedo”, o processo de construção do disco parece ter sido divertido. Como foi a escolha do repertório?
Queríamos ter músicas muito conhecidas pela canção e também pelo arranjo. Fizemos uma listona e discutimos os prós e contras de cada uma. Finalmente chegamos a 12 finalistas. Foi uma votação interna nossa mesmo.
Você postou no blog uma tira que Laerte fez em homenagem ao nascimento da Nina, com Deus cantando “Rock and Roll Lullaby”… Qual a influência dos quadrinhos na vida de vocês?
Somos fãs absolutos do Laerte e temos o privilégio dele ser fã nosso também. O Pato Fu já apareceu citado em várias tirinhas… O nome da banda saiu de uma historinha do Garfield. Já nos transformamos em desenho em clipes, alguns outros heróis dos quadrinhos como Batman e Pato Donald já apareceram citando letras da banda. Acho que é uma honra pra nós fazermos parte desse setor da cultura pop.
Como foi ter a Nina gravando com vocês? Deve ter sido emocionante….
Nina, Matheus e Mariana estavam brincando de gravar. Foi algo muito espontâneo e rápido. Eles conheceram as canções e imediatamente registramos a reação deles a elas, tentando cantar partes bem simples de cada uma. Toda a participação das crianças foi feita em menos de três horas, em pelo menos três dias diferentes. Acho que eles têm uma recordação para sempre de como são as suas vozes aos seis anos de idade, justamente num álbum que tende a ser sempre muito querido por todos.
Quais as dificuldades que vocês encontraram para executar essas ideias para esse disco?
As duas principais dificuldades foram a afinação e o tamanho reduzido dos instrumentos. Às vezes a gente escolhia um brinquedo que tinha um timbre muito legal, mas não havia todas as notas ou estava muito desafinado. Fomos montando um quebra-cabeças com tudo que tínhamos e resolvemos que essa afinação relativa de tudo, que era a principal deficiência, era também o charme do disco.
No começo dos ensaios, foi difícil manter o foco nas músicas e não ficar só na brincadeira?
Não. Nesse ponto somos muito disciplinados e práticos. Como todos têm vários outros compromissos musicais e profissionais, exigimos muita dedicação e comprometimento com aquilo que estávamos propondo. Dá pra fazer isso tudo e ainda ser divertido.
O John parece ser o geniozinho das técnicas, descobertas e músicas no Pato Fu. Ele dorme?
Acho que ele está mais pra professor Pardal… John é muito dedicado, e de todos nós, é a pessoa que mais se esmera em conseguir resultados com muita qualidade. Enquanto todos desistem, ele está lá tentando mais uma vez…
A turnê está começando. Tem muita criança na plateia? Como está sendo a receptividade das pessoas?
Tem mais adulto do que criança. Achei até que haveria mais gente pequena, mas pensando bem, quando fizemos o disco, o objetivo não era fazer um disco infantil. Queríamos fazer um disco para adultos, com sonoridade de brinquedo e que talvez as crianças se identificassem com ele também por causa das vozes das outras crianças que cantam sem método como elas. A plateia tem adorado ver tudo ao vivo!
Não é muito difícil, tecnicamente, executar estas canções ao vivo? Com os instrumentos de brinquedo, vozes, bonecos e todos esses standarts maravilhosos da música, como Live and Let Die, My Girl, Bohemian Rhapsody?
Sim, não é nada fácil. Mas o resultado é tão bacana pra quem assiste que vale muito o esforço.
A versão dos Muppets inspirou vocês nessa última?
Antes de ver a versão dos Muppets essa era uma canção que estava na nossa lista, mas optamos por “Live And Let Die” para ocupar o lugar de uma canção pop em inglês que tivesse essa grandiosidade de orquestração. E “Bohemian Rhapsody” tinha letra demais… No show fizemos uma versão reduzida que tem a ver com o monstro que a canta.
Qual sua expectativa em relação aos Concertos Dana? Já cantou acompanhada por Orquestra antes?
Já cantei outras seis vezes e é sempre muito bom! É ótimo ouvir aquela massa sonora cheia de nuances te apoiando… Todo intérprete tinha que passar por essa experiência alguma vez… Acho que vai ser muito bacana aí em Porto Alegre.
John produziu o último disco do Nico… O que você acha do trabalho dele?
O Nico tem composições maravilhosas, além de ser um cantor muito versátil. Gosto muito dele e é sempre um presente pra mim quando temos a oportunidade de cantar juntos.
Veja mais: Blog da Fernanda Takai – Site Oficial do Pato Fu