Fernanda Chemale é uma fotógrafa gaúcha formada em Comunicação Social pela FAMECOS/PUC-RS que atua na área da comunicação visual desde 1986. Seus trabalhos estão na coleção permanente Pirelli/MASP e é autora do livro “Tempo de Rock e Luz”, que retrata a cena do rock porto-alegrense. Fundou a Galeria de Fotografia Olho Nu, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é professora de fotografia. Trabalhou conosco registrando os Concertos Dana.
A sua formação na faculdade de comunicação ajuda no seu trabalho como fotógrafa?
Sim, a minha formação em publicidade ajuda bastante pois a universidade é um campo fértil e você pode seguir de um único ponto para muitas direções. Os contatos e as informações são realmente privilegiados, basta saber aproveitá-los. O estudante não pode ficar esperando que as coisas aconteçam apenas em função do curso, tem de fazer a própria busca para abrir caminhos.
Como e quando você começou seu trabalho com fotografia?
Meu trabalho em fotografia começou justamente na FAMECOS, onde com um grupo de colegas, pude realizar as idéias que vinham à mente. Produzíamos vídeos e a minha função como fotógrafa veio de um interesse em ser especialista em algo, então escolhí a fotografia para fazer par com o cineasta (que era o meu namorado no grupo). Iniciei um curso no SENAC de 80hs que se repetiu por mais duas outras edições de mesma carga horária, pois havia me encantado com a produção no laboratório. Fui muito incentivada pelo professor César Mantelli do Cursinho Universitário, então comecei a fotografar para o supletivo, o trabalho cresceu, ele tinha o desejo de fazer um informativo e passei de fotógrafa a também editora. Esse trabalho se desenvolveu por muitos anos, os laços de amor se desfizeram, mas a parceria no trabalho permaneceu ainda por muito tempo. Paralelo à isto tinha os contatos com o cinema e participei de muitos filmes como produtora e fotógrafa de cena.
O que você mais gosta de fotografar?
Não há algo especial que goste mais de fotografar, mas um estado de espírito no fazer a foto, que é estar distraída com a mente solta, de ver e querer capturar.
E qual você mais gostou de fazer? Já teve algum trabalho que você não gostou de fazer? Porque?
A essas alturas do campeonato já fiz muitos trabalhos, mas um me surpreendeu especialmente, que foi fotografar numa reserva indígena. Era um trabalho, por incrível que pareça de publicidade mas onde tinha muita liberdade de exercer o ato fotográfico conforme a minha visão. Eu acho que isto está muito presente no meu fazer fotográfico à serviço do outro. Isso é uma das coisas que me agrada muito no meu trabalho.
E qual você mais gostou de fazer? Já teve algum trabalho que você não gostou de fazer? Porque?
A essas alturas do campeonato já fiz muitos trabalhos, mas um me surpreendeu especialmente, que foi fotografar numa reserva indígena. Era um trabalho, por incrível que pareça de publicidade mas onde tinha muita liberdade de exercer o ato fotográfico conforme a minha visão. Eu acho que isto está muito presente no meu fazer fotográfico à serviço do outro. Isso é uma das coisas que me agrada muito no meu trabalho.
Quais fotógrafos você cita como influências? Por que?
Carlos Gerbase, meu professor que influenciou uma geração inteira. Tem também o Milton Guran, que me ajudou a perceber que além de fotógrafa sou também uma artista. Outro fotógrafo importante pra mim é o Luis Eduardo Achutti, que é um modelo na produção de seus trabalhos e que antecede a minha geração. Pela identificação, tem Man Ray, Allan Flesher, David Bailey, Robert Mappelthorpe, Lazlo Moholy Nagy; e também os contemporâneos Klaus Miteldorf, Rochelle Costi, Arthur Omar e, no fotojornalismo, Custódio Coimbra. Outras influências importantes que gosto de citar são os teóricos Rubens Fernandes Jr. e Boris Kossoy, no Brasil, e Alexandre Santos, em Porto Alegre. E os pensadores Philippe Dubois, Susan Sontag, Walter Benjamin e Roland Barthes.
O que é saber fotografar?
É saber deixar correr a verdade interior, aliando agilidade às necessidades que cada situação propõe.
Sobre seu livro “Tempo de rock e luz”: como a música influenciou este trabalho, especificamente? E como ela influencia seu trabalho, de modo geral?
Em “Tempo de Rock e Luz” a música é a coluna vertebral do trabalho. Conduz os pensamentos, emoções e expressões. A estética e postura também estão pontuadas pela música. Como tenho um pezinho no cinema, acabo por vezes inserindo música onde não existia. Na minha primeira exposição de fotos contruí uma trilha composta por Ricardo Figueroa. “Terráqueos” apresentava macro fotos de natureza e a música fazia o contraponto da destruição que o homem propaga na terra, foi feita com descargas barulhentas produzidas pelo homem como automóveis, válvula de descarga de vaso sanitário, obra em construção etc. Este trabalho foi apresentado pela primeira vez em 1989.
Fotografando músicos de perto, em ação, requer que o fotógrafo seja meio “invisível”. Quais suas técnicas para fotografar os músicos de cima do palco, sem intervir no trabalho deles?
Parto do princípio que o palco não é lugar do fotógrafo durante o espetáculo, permito esta conduta durante os ensaios, mas com certeza aguço a minha atenção e tento fazer o mínimo de movimentos possíveis, com a maior leveza e cuidado. A execução de uma música exige interação entre os músicos e em determinado momento de desatenção posso estar entre essa comunicação da qual não faço parte. É claro que entre fotografar uma banda de rock e um concerto erudito existe um abismo no comportamento…
Quando começou a fotografar os Concertos Dana, você trouxe o seu olhar de bastidores, de cumplicidade, para os registros. Embora siga registrando música, os músicos, instrumentos e ambiente são bem distintos. Há de fato diferenças? O que pode nos contar desta experiência?
A Orquestra de Câmara da ULBRA coordenada pelo maestro Tiago Flores foi realmente um presente dentro do meu trabalho. Quando iniciei fotografando os Concertos Dana, o grupo já se estava constituído e cúmplice. Cheguei pé-por-pé, cheia de cuidados, pois como menciona, os ambientes são muito distintos e a música cheia de tempos silenciosos e de volume baixo. O click da câmera pode atrapalhar toda essa sinergia, então eu tenho também de participar do andamento da música com seus altos e baixos. Respeito demais esse código, pois dessa forma passo a fazer parte de todo o organismo que é a orquestra. As diferenças de ambientes são enormes, pois num concerto de rock eu posso até gritar, fotografar a qualquer momento sem interferir na apresentação. Numa orquestra, é como no cinema, tenho de respeitar os tempos e silêncios. Isso não é de modo algum uma dificuldade, e sim um modo de agir.
Comentando o seu trabalho, o cineasta Carlos Gerbase disse: “tanto a música quanto a fotografia exigem certos conhecimentos técnicos. Mas no (bom) rock, os instrumentos da racionalidade estão a serviço da emoção”. Você concorda?
O Carlos Gerbase é um cara simples e sofisticado ao mesmo tempo. A racionalidade a serviço da emoção é uma relação muito aprimorada. O que na música e na fotografia afetam a emoção humana vem precedido por técnicas muitos específicas que, se desenvolvidas sem essa emoção, acabam não proporcionando aquela arte transformadora que te toca e te transforma.