Eurico Salis nasceu em Bagé, interior do Rio Grande do Sul. É fotógrafo desde 1981 e está lançando o livro “Porto Alegre – Cenas Urbanas, Paisagens Rurais”, que conta com 250 fotografias da capital dos gaúchos. Salis vem capturando as imagens para o livro desde 2006.
O livro mostra cenas do cotidiano agitado das ruas da Capital, a paisagem campestre da cidade e as mudanças que Porto Alegre sofreu ao longo de décadas. A publicação traz textos de Luiz Coronel, Carlos Urbim, Luís Augusto Fischer, Nico Fagundes e Ruy Carlos Ostermann.Eurico Salis atua no mercado de fotografia publicitária e editorial há mais de 20 anos. Foi fotógrafo das revistas Veja e Exame, entre 1991-1993. Teve fotos publicadas em vários jornais brasileiros, entre eles Pasquim, Zero Hora e Jornal do Brasil.
Como você começou a fotografar? O fato de você ter nascido em Bagé influenciou no seu gosto por paisagens, como se nota na tua trajetória?
Comecei cedo, bem cedo, na minha adolecência, em Bagé, cidade onde nasci e morei ate os 22 anos. Lá, montei um laboratório p&b, no fundo do quintal, onde passava noites e noites acordado revelando, ampliando imagens, experimentando muito. Tudo aconteceu de maneira espontânea, fui um autodidata. No máximo, comprava a revista Iris Foto e dali tirava algumas referências. Lembro que nadava com uma caixinha de fósforo no bolso, por sugestão de um amigo, e vez por outra fazia desta caixinha com um furo do meio, uma espécie de câmara, onde eu olhava para os objetos. O que me serviu como uma grande lição: aprender a ver, a compor as imgens, os planos, entender perspectivas, texturas, e decidir o que me interessava numa imagem.
Quais fotógrafos você cita como influências? Por quê?
Tive muitas influências, como Ansel Adams, Henry Cartier-Bresson, Man Ray, Paul Strand, Pete Turner, mais recentemente Cristiano Mascaro, e tantos outros, gente de escolas diferentes, americanos ou europeos, principalmente. Lembro de algumas exposições aqui em Porto Alegre, no inicio dos anos 80, que me marcaram, como as de Alfred Stieglitz e Fay Godwin.
Você trabalhou como fotógrafo freelancer para diversas revistas, mas não faz mais este tipo de serviço hoje em dia. Acha que isto limita o processo de criação de um fotógrafo?
Trabalhei para a revista Bizz, nos anos 80 e para a Veja e Exame, no inicio dos 90. Foi uma ótima experiência, mas ali era preciso ser rápido e objetivo, como acontece no fotojornalismo. Com uma margem que eu não diria ser reduzida, mas calculada, para o processo criativo. Mas existe outro tipo de foto documentação que me interessa, como o Sebastião Salgado faz, por exemplo. Meu trabalho é baseado na documentação de identidades, seja elas através da identidade de pessoas ou de lugares, mas sempre tendo com referência o registro da nossa cultura, ainda que venha a focar objetos, arquitetura, experimentalismo, a busca da documentação da identidade cultural será sempre um forte balizador do meu trabalho.
E as capas de discos que você fotografou, como surgiram estes trabalhos? Qual a influência da música no teu trabalho? Como funciona o processo de criação identitária de um artista através de uma capa de disco?
As capas de discos aconteceram por eu estar fazendo trabalhos para a revista Bizz, e minha aproximação com pessoas ligadas ao rock gaúcho nos anos 80. Além disso, a mísica sempre foi um elemento importante na minha formação, as capas de discos de bandas inglesas me influenciaram. Daí que fui me envolvendo e hoje somo mais de 25 capas realizadas, acho que mais de 25, perdi as contas. Fiz coisas boas, e outras nem tanto, capas de disco que minha autocrítica me cutuca quando vejo.
Você tem algum tema favorito para fotografar?
Gosto de paisagens, mas não aquela paisagem simples, mas da paisagem que tem nuvens carregadas, ventanos marcantes, morros e pedras frias, o movimento da natureza. Também gosto de fotos urbanas, dos detalhes dos prédios e da arquitetura iluminada com a fina luz do dia. Gosto da luz do inicio e do fim do dia. Ma sei separar o trabalho puramente comercial e o trabalho autoral, são duas vertentes importantes. Sou um fotógrafo que vive e sobrevive da fotografia. Só não sei a ordem exata.
O que é saber fotografar?
Uma vez me perguntaram o que era preciso para fazer uma boa foto, e respondi: olho. É simples assim: olho, no sentido de enxergar e no sentido de ver, que são sentidos complementares. Tem dias que enxergo coisas que não enxergo em outros, ou seja, dias que vejo e enxergo, em outros só vejo.
E seu novo projeto, ”Porto Alegre Cenas Urbanas, Paisagens Rurais”. De onde veio a inspiração para compôr estas imagens? E as participações ?
”Porto Alegre Cenas Urbanas, Paisagens Rurais” é um projeto antigo, mas que precisei fotografar num mesmo período. Ao longo de muitos anos fotografei a cidade, mas queria colocar neste livro imagens de um mesmo período, lineares, atuais, imagens que tivessem a mesma intenção de mostrar a cidade. Talvez se o livro fosse feito há 5 anos atrás ou daqui a 5 anos, tudo seria diferente. O livro tem uma luz especial, as imagens mostram isso. Para mostrar a cidade, sem apelos, sem ser postais ou um mero guia turistico, precisava da participação destes escritores que conhecem a cidade, o resultado é um livro autoral, poético, tanto do ponto de vista das imagens quanto dos textos.
E novos projetos? Algum novo plano em mente?
Já estou começando um novo projeto: um livro enfocando cidades históricas, cidades gaúchas, interior do estado. Quero lançar este livro em 2009. E depois produzir um livro sobre as capitais do Mercosul.