Montadoras dos EUA dobram aposta em veículos a combustão

O Estado de S. Paulo

 

Durante a maior parte dos últimos cinco anos, as montadoras gastaram bilhões de dólares em uma corrida frenética para desenvolver veículos elétricos e construir fábricas para produzi-los, com a expectativa de que os consumidores aderissem a esses novos modelos.

 

No entanto, nos últimos 12 meses, a taxa de crescimento das vendas de veículos elétricos diminuiu. Alguns compradores de carros não gostaram dos altos preços dos automóveis e caminhões elétricos e das dificuldades de carregá-los, especialmente em viagens longas.

 

A mudança no sentimento do consumidor agora está forçando muitas montadoras a recuar em seus planos de investimento agressivos e a voltar, pelo menos em parte, para os veículos com motor a combustão, que ainda são responsáveis pela maioria das vendas de carros novos e por uma grande parcela dos lucros corporativos.

 

O exemplo mais recente ocorreu quando a Ford disse, há duas semanas, que iria reequipar uma fábrica no Canadá para produzir grandes caminhonetes, em vez dos utilitários-esportivos elétricos que havia planejado fabricar anteriormente. A decisão da Ford ocorreu um dia depois que a General Motors disse esperar fabricar de 200 mil a 250 mil carros e caminhões movidos a bateria este ano, 50 mil a menos do que o previsto anteriormente.

 

Tensão política

 

“Após a pandemia, houve uma enorme exuberância em torno dos veículos elétricos e acho que muitos fabricantes pensaram que o crescimento continuaria”, disse Arun Kumar, sócio e diretor administrativo da AlixPartners, uma empresa de consultoria. “Mas a realidade é que esse não é o caso, e é uma medida inteligente garantir que você não esteja perdendo participação no mercado de combustão interna.”

 

A hesitação das montadoras em relação aos veículos elétricos ocorre num momento politicamente tenso para o setor. As regulamentações automotivas dos EUA podem mudar significativamente se o ex-presidente Donald Trump vencer a eleição em novembro. Trump prometeu desfazer muitas das políticas do presidente Joe Biden, incluindo aquelas que promovem o uso de carros movidos a bateria para lidar com as mudanças climáticas.

 

Mas mesmo antes do início da campanha presidencial, a Ford, a GM e outras montadoras vinham diminuindo seus investimentos em veículos elétricos, atrasando alguns modelos novos e o trabalho em fábricas de baterias. Há apenas alguns anos, a GM e a Ford esperavam conseguir fabricar mais de 1 milhão de veículos elétricos por ano até meados desta década.

 

Em um evento da CNBC, Mary T. Barra, CEO da GM, disse que levaria mais tempo para atingir esse nível de capacidade devido ao crescimento mais lento das vendas de veículos elétricos.

 

Até mesmo a Tesla, a principal produtora de carros elétricos dos EUA, mudou seus planos porque não espera mais que as vendas cresçam 50% ao ano; suas vendas globais caíram 6,6% nos primeiros seis meses do ano. A empresa desacelerou seus planos de construir uma fábrica de carros elétricos no México e cancelou uma reunião em abril entre seu CEO, Elon Musk, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para discutir uma nova fábrica naquele país.

 

Recentemente, a fábrica da Ford em Oakville, Ontário (Canadá), deixou de produzir o utilitário-esportivo Edge, movido a gasolina, e estava programada para produzir novas versões elétricas do Ford Explorer e do Lincoln Aviator. Em vez disso, a Ford transformará a fábrica em um terceiro local de produção para sua picape Super Duty, um de seus modelos mais lucrativos.

 

Jim Farley, CEO da Ford, disse que as outras fábricas da Super Duty em Kentucky e Ohio não conseguiam produzir tantos veículos quanto os clientes comerciais desejavam. “Não podemos atender à demanda”, disse ele em um comunicado. Em abril, Farley disse que o número de pedidos da Super Duty era o dobro do número de picapes que a empresa conseguia fabricar. No primeiro semestre deste ano, a Ford produziu mais de 200 mil unidades da Super Duty. E informou que ainda planejava fabricar o Explorer e o Aviator elétricos, mas não disse quando ou onde faria isso. (O Estado de S. Paulo)