Inflação mais alta puxa retorno dos títulos IPCA+ do Tesouro

O Estado de S. Paulo

 

O IPCA-15, que é considerado uma prévia da inflação oficial do País, registrou alta de 0,30% em julho, conforme informou na quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador veio acima das expectativas, sinalizando uma possível aceleração da inflação cheia neste mês. Diante desse cenário, os títulos de renda fixa do Tesouro acompanham o movimento, passando a oferecer retornos acima do esperado.

 

A isso, soma-se o contexto dos juros no País: na próxima quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá sobre os rumos da taxa Selic, e as apostas majoritárias são de manutenção no patamar atual, de 10,5% ao ano.

 

O Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de cortes na taxa referencial de juros em meados de junho, sob o receio de avanço da inflação. Com a Selic em 10,5%, os ativos de renda fixa mantêm rentabilidades igualmente elevadas.

 

Os títulos do Tesouro IPCA+ (corrigidos pela inflação mais juros), com vencimentos em 2029 e 2035, ofereciam ontem retornos de 6,38% e 6,24%, respectivamente. Esses papéis combinam uma parte dos rendimentos atrelada às variações da inflação (medida pelo IPCA), com outra parte de juros prefixados (no caso do IPCA+ 2029, 6,38%).

 

Esse retorno é considerado por especialistas como “juros de crise”. Em outras palavras, são taxas atrativas a médio e longo prazos e podem ser usadas em favor de um plano de aposentadoria, por exemplo. Se comparados a títulos que pagam 1% ao mês, o ganho do IPCA+ 6% se destaca.

 

No começo deste ano, houve um movimento semelhante: o IPCA registrou variação mensal de 0,83% em fevereiro e o investidor que obteve ganho nominal de 1% ao mês auferiu ganho real de 0,17%. Na faixa dos 6% ao ano, oferecidos pelo Tesouro, o retorno real mensal fica em torno de 0,49% – acima da inflação e mais vantajoso do que os concorrentes.

 

Por outro lado, considerando os movimentos dos últimos cinco anos, a oferta de taxas acima de 6% foi mais exceção do que regra, seja para os títulos de renda fixa públicos ou privados. Mas é importante ressaltar que esses títulos entregam o que prometem desde que o investidor os mantenha até o vencimento. Ninguém está isento de imprevistos financeiros, e o investidor pode se ver obrigado a vender o título antes do tempo. E nesses casos há a chance de se ter prejuízo.

 

Um investidor que tenha adquirido em 2022 um título Tesouro IPCA+ com vencimento para 2030, com juros reais de 4% ao ano, receberá exatamente aquilo que contratou se mantiver seu título até o resgate – a variação da inflação no período + 4% ao ano.

 

Mas, se precisasse vender esse título hoje, ele teria perdas, já que os títulos estão sendo negociados com taxas superiores a 6% de juro real anual, mais do que aqueles 4% contratados em 2022. Assim, não haveria razão para investir nesse título, a menos que seja a um preço (mais baixo) que cobrisse o prejuízo da remuneração.

 

Portanto, antes de adquirir produtos de renda fixa, o investidor deve buscar orientação de profissionais da área de finanças. Além de apontarem o perfil adequado a cada pessoa (e os ativos mais adequados), um assessor de investimentos pode ajudar a entender as necessidades e urgências dos clientes. (O Estado de S. Paulo/Gabriel Serpa)