Unidades paradas são desafio para Petrobras produzir fertilizantes

O Estado de S. Paulo

 

A Petrobras terá de investir em modernização de fábricas e enfrentar os preços altos e a escassez de gás natural para atender à determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de acelerar o seu retorno à produção de fertilizantes no País, de acordo com especialistas. No mercado, há dúvidas se a produção de fertilizantes pode ser viável financeiramente – ou seja, se a Petrobras vai conseguir ter retorno do investimento.

 

Depois da intenção de reestatizar refinarias – o governo negocia a recompra de duas unidades – e da aposta na construção de navios, o setor de fertilizantes é mais um em que a companhia tenta retomar sua influência, seguindo um modelo adotado em outros governos petistas e que é criticado pelo mercado – que vê um excesso de interferência política numa empresa com ações na Bolsa.

 

A pressão para acelerar o retorno ao setor de fertilizantes foi um dos motivos para a demissão do ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates. Já no discurso de posse, Magda Chambriard, que sucedeu Prates no comando da estatal, disse estar “totalmente alinhada com a visão do presidente Lula” sobre a atuação da companhia no setor de fertilizantes. A ideia, afirmou ela, seria reduzir a dependência do País das importações.

 

A estatal já teve participação importante no setor de fertilizantes quando operava suas fábricas no Paraná (Araucária Nitrogenados – Ansa), Sergipe e Bahia, que têm capacidade instalada de 2,87 milhões de toneladas por ano. Uma quarta unidade de produção, a UFNIII, em Três Lagoas (MS), cujas obras não foram finalizadas, pode produzir pelo menos 1,3 milhão de toneladas anuais.

 

A empresa, porém, havia saído do setor. De acordo com a estatal, a ideia era que companhia apostasse só em óleo e gás. A iniciativa privada evita investir no Brasil nessa área em razão dos custos considerados altos. A estatal, porém, afirma que “busca a atuação no negócio de fertilizantes de forma sustentável e com retorno financeiro”.

 

Das quatro unidades de fertilizantes ligadas à Petrobras, nenhuma está atualmente em funcionamento. A Ansa parou a produção em 2020, após um processo de venda fracassado que durou dois anos.

 

As unidades de Sergipe e da Bahia foram arrendadas à Unigel, mas também estão com as operações paralisadas. Há uma forte pressão para que a estatal reassuma as duas fábricas. A atuação mais forte é da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que participa do grupo de trabalho de fertilizantes coordenado pela Petrobras.

 

A quarta unidade, em Mato Grosso do Sul, nunca foi terminada. As obras pararam em 2015, com 80% da fábrica concluída. As tentativas de vendê-la nunca vingaram. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna)