Após 13 anos, Brasil retorna à elite da produção de alumínio

O Estado de S. Paulo

 

Após mais de uma década, o Brasil voltou à elite dos produtores mundiais de alumínio, posto que perdeu com o fechamento e paralisação de várias fundições de metal primário no País a partir de 2010. De acordo com dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), a indústria brasileira ficou em oitavo lugar no ranking mundial de países fabricantes em 2023. O setor produziu 1,022 milhão de toneladas no ano passado.

 

A indústria nacional já foi a sexta maior produtora global no início dos anos 2000. Com o encerramento de operações, porém, despencou para a 15.ª posição e, ultimamente, se equilibrava na 12.ª colocação. O ranking dos dez maiores produtores, em 2023, traz a China como líder, bem à frente das demais nações, com 41 milhões de toneladas. A potência industrial asiática é seguida por Índia, Rússia, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Austrália, Brasil, Malásia e Estados Unidos.

 

O salto do Brasil se deve à retomada das operações da Alumar, fundição (“smelter”) que fica em uma ilha ao lado de São Luís, a capital maranhense, controlada por um consórcio formado pela americana Alcoa e a australiana South32. Em 2022, as duas multinacionais decidiram religar os fornos da Alumar, alcançando produção de 238 mil toneladas no ano passado. Para 2024, a expectativa é de que os fornos operem a plena capacidade de 447 mil toneladas.

 

Janaina Donas, presidente executiva da Abal, afirmou ao Estadão que essa retomada foi crucial para o setor no País. “O ano passado marca um momento de virada. Além de encerrar um ciclo de crescimento marginal, conseguimos recuperar a autossuficiência no suprimento de metal e subir quatro posições no ranking global de produção de metal primário”, disse. O objetivo é eliminar a dependência da importação de alumínio primário vista a partir de 2014. A oferta do metal, com o religamento da Alumar, cresceu 26% no ano passado ante 2022, e a expectativa é de que suba de novo este ano – ao menos 20%.

 

Atualmente, a capacidade de produção brasileira de metal primário, em três fábricas, é de 1,36 milhão de toneladas. São operados pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), localizada em Alumínio (SP), pela Albrás, que fica em Barcarena (PA), 40 km ao sul de Belém, e pela Alumar. As três unidades fabris têm capacidade similar.

 

Ápice

 

O auge de produção do País ocorreu em 2008, com 1,66 milhão de toneladas, regredindo, gradualmente, até atingir 650 mil toneladas em 2019. Em 2021, com a forte recuperação do consumo interno de produtos em alumínio, o Brasil teve de importar mais de 620 mil toneladas para poder atender à demanda do mercado.

 

A partir de 2015, apenas CBA, controlada pelo grupo Votorantim e a única das três de capital nacional, e Albrás, joint venture entre a norueguesa Hydro e um consórcio japonês, permaneceram produzindo. Os fechamentos se deveram, principalmente, ao custo elevado de energia para quem não tinha geração própria do insumo, primordial no processo de fundição – responde por 35% a 50% do custo de produção. Outro motivo foi a escala competitiva de produção das fundições – as pequenas e mais antigas sofreram mais.

 

Desde 2010, encerraram atividades no País a Aluvale/Valesul, Novelis (antiga Alcan, em Ouro Preto-MG) e a operação da Alcoa em Poços de Caldas (MG). A Alumar abafou seus fornos entre 2014 e 2015, ficando sem produzir até 2022.

 

O Brasil, afirmou Janaina, conta com a vantagem de dispor de uma produção grande de material reciclado de alumínio, que atinge 850 mil toneladas por ano. Latinhas de bebidas (cervejas, refrigerantes, sucos) respondem pela maior parte dessa sucata, mas há uma variedade de itens que vão de utensílios domésticos a itens industriais.

 

No todo, o volume corresponde a 56,6% do consumo nacional de produtos transformados, como cabos elétricos, peças de motores de automóveis, embalagens, material para construção civil e outros. Em embalagens de alumínio para bebidas, o País atingiu 100% de índice de reciclagem – ou seja, tudo que fabricou de latas retornou ao processo após uso.

 

Investimento

 

O setor, afirma Janaina, de 2021 a 2025, está investindo R$ 30 bilhões em toda a cadeia de produção, que vai da extração mineral da bauxita até instalações de reciclagem. A retomada da Alumar, com quase R$ 1 bilhão de aporte, é um dos exemplos. No ano passado, o volume de recursos aplicado somou R$ 5,6 bilhões, levemente acima da cifra de 2022.

 

No ranking mundial, o Brasil detém a quarta maior reserva de bauxita e a mesma posição em volume de produção do mineral. E é o terceiro principal fabricante de alumina (matéria-prima intermediária do metal feita com a bauxita), tendo à frente China e Austrália.

 

 

Globalmente, diz a presidente da Abal, o alumínio tem um promissor crescimento da demanda no futuro, fruto de aplicações na transição energética e por demanda na mobilidade elétrica, no cenário de redução das emissões de carbono e aquecimento climático. O metal é leve e ótimo condutor de energia. As projeções indicam que poderá mais que duplicar seu uso em carros movidos a baterias elétricas. “Até 2030, estima-se crescimento de 40% na demanda mundial”, diz a executiva.

 

No ano passado, o mundo consumiu 98 milhões de toneladas de alumínio – 69 milhões oriundas de metal primário e 29 milhões (quase 30%) de material reciclado. (O Estado de S. Paulo/Ivo Ribeiro)