‘Não podemos deixar Petrobras fora da carteira’

O Estado de S. Paulo

 

As ações da Petrobras enfrentaram no primeiro semestre turbulências que testaram a credibilidade da estatal no mercado. A troca de comando da companhia, com a posse de Magda Chambriard como CEO, e a retenção dos dividendos extraordinários em março levantaram dúvidas sobre se a companhia mereceria espaço no portfólio. Após esses eventos, as ações da petroleira conseguiram comprovar ao mercado que ainda podem ter esse voto de confiança.

 

Enquanto o Ibovespa apresenta perdas de 4,47% no acumulado do ano, as ações ordinárias e preferenciais da petroleira avançam 15,4% e 13,17%, respectivamente. Ao olhar os múltiplos da companhia, como “dividend yield” (retorno sobre dividendos) e retorno sobre patrimônio (ROE, na sigla em inglês), a Petrobras também tem registrado o melhor risco-retorno entre todas as ações listadas no principal índice de referência da B3.

 

“Petrobras apresentou nos últimos anos excelentes dividendos. Então, não podemos deixar as ações de Petrobras fora da carteira. Trata-se de uma empresa que garante proteção”, diz Marcelo Nantes, gestor de renda variável da Asa Investments, instituição financeira com R$ 3 bilhões sob gestão. Em entrevista ao E-investidor, ele afirma que a ação da estatal pode exercer um papel importante no portfólio do investidor.

 

O Ibovespa encerrou o semestre com uma queda superior a 7%. O principal índice da B3 chegou ao fundo do poço ou pode cair ainda mais em 2024?

Na segunda metade de junho e na primeira semana agora de julho, o governo mudou o tom do discurso sobre as contas públicas e vimos uma melhora no exterior. O mercado já incorporou boa parte das más notícias macroeconômicas. O impacto dos impostos nas empresas também já está incorporado. O que pode fazer a Bolsa ganhar fôlego daqui para frente é a revisão de lucro das companhias, e não vemos revisão de lucro para baixo. Estamos otimistas com os resultados das empresas expostas ao mercado doméstico a partir do terceiro trimestre. Já para os balanços do segundo trimestre, acreditamos que as empresas de commodities podem entregar bons resultados com a valorização do dólar. Por isso, avaliamos que o Ibovespa pode ter um desempenho mais positivo até o fim do ano.

 

Então, a estratégia da Asa do início do ano, focada em dar prioridade a ações expostas ao ciclo doméstico, permanece mesmo com a Selic estacionada?

Permanece. Temos parte do portfólio voltada para ações de empresas suscetíveis ao ciclo doméstico, mas também temos posição em papéis que garantem proteção. A Petrobras apresentou nos últimos anos excelentes dividendos. Então, não podemos deixar de ter ações de Petrobras na carteira. Os papéis da companhia subiram 14% e minimizaram a queda do Ibovespa. Trata-se de uma empresa que garante proteção. Mas gostaríamos de estar mais expostos às ações mais suscetíveis ao mercado brasileiro. Estamos apenas esperando sinais de que haverá melhora.

 

Os fundos de ações vão conseguir se recuperar caso esses sinais de melhora se concretizem neste ano?

A maioria dos fundos de ações no Brasil tem um viés de se posicionar em empresas cíclicas domésticas. Ou seja, se houver uma sinalização do governo positiva para a disciplina fiscal, uma transição suave na presidência do Banco Central e o banco central americano indicar corte de juros nos EUA, os fundos de ações brasileiros deverão ter performance positiva até o final do ano.

 

Pensando em ações, é possível encontrar uma estratégia para garantir uma rentabilidade compatível ao IPCA+6%?

É óbvio que os títulos IPCA+6% são bons, mas os investidores precisam diversificar o portfólio porque, no fim do ano passado, o Ibovespa subiu 15% em dois meses. Não sabemos quando teremos esse novo rali. Temos ações com um perfil menos volátil e com retornos bons, como os papéis de setor elétrico e de infraestrutura, que tendem a ter um comportamento mais próximo ao do IPCA. Parte do nosso portfólio está alocada nessas ações.

 

E sobre a Petrobras, a ação pode continuar a ter esse papel defensivo na carteira da Asa nos próximos meses com a troca de gestão?

Quando o novo governo foi eleito, havia um discurso de que haveria uma intervenção muito maior nas estatais, e poderia piorar a lucratividade das empresas. Mas vejo que, dificilmente, o governo vai conseguir intervir como deseja na governança dessas empresas de capital misto porque a Lei das Estatais não permite. Por isso, temos posição (em ações ), porque é uma empresa lucrativa e que possui peso no Ibovespa. (O Estado de S. Paulo/Daniel Rocha)