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Diante do aumento de produtos disponíveis no mercado e dos primeiros passos para expansão da rede de recarga, a venda de veículos elétricos saltou no Rio Grande do Sul. O número de veículos eletrificados leves novos cresceu 139% no primeiro semestre deste ano no Estado ante o mesmo período de 2023, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Especialistas e integrantes do setor afirmam que o crescimento consolida a expansão desse tipo de veículo no mercado nacional. Esse diagnóstico e o incentivo federal para a descarbonização dos veículos brasileiros aumentam a expectativa por possíveis investimentos da General Motors (GM) no Estado na área de eletrificação.
O RS anotou 3.920 emplacamentos de veículos leves eletrificados no acumulado de janeiro a junho. No mesmo período do ano passado, esse total ficou em 1.639 unidades. O dado considera híbridos ou movidos puramente por energia elétrica. No país, foram vendidos 79.304 carros desse tipo no primeiro semestre — avanço de 146% ante o ano passado. Os números ainda estão longe do total da frota comercializada no país e no Estado, mas seguem em crescimento exponencial.
No mês a mês, os dados mostram que o volume de vendas de elétricos teve redução brusca em maio, diante de efeitos da inundação no registro de veículos. Em junho, o setor voltou a acelerar vendas.
O diretor de veículos leves e membro do conselho diretor da ABVE, Thiago Sugahara, afirma que a expansão do setor no Brasil e no Estado ocorre em razão de um mercado que conta com uma oferta maior de produtos:
“Um dos motivos é a maior oferta de tecnologias, de modelos, de novas montadoras que estão chegando no Brasil”.
No Rio Grande do Sul, os veículos 100% elétricos (BEV) responderam por cerca de 45% das vendas de eletrificados no primeiro semestre. Os híbridos plug-in (PHEV) ficam na segunda colocação, com 24,3% dos emplacamentos.
O economista Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, também afirma que a expansão, tanto no país quanto no Estado, é fruto da maior oferta de veículos eletrificados no Brasil nos últimos anos. A entrada de marcas novas nos últimos anos agradou parte do público e impulsionou as vendas, segundo o consultor:
“Essas marcas caíram no gosto popular. E esse processo de expansão vai continuar, porque essas marcas BYD, GWM, elas começaram a pegar essa fatia de mercado, a entrar no gosto das pessoas”.
Expansão entre as montadoras
O presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS, entidade que representa as concessionárias e distribuidoras de veículos no Estado, Jefferson Fürstenau, afirma que o avanço do setor de elétricos já repercute entre as concessionárias, que buscam colocar esse tipo de veículo no cardápio, segundo Fürstenau. O dirigente afirma que essa expansão também reflete nas entidades que representam o setor de distribuição de veículos:
“Hoje, nós temos uma comissão que cuida especificamente dos carros elétricos, a ponto de já estarmos montando até uma cartilha de procedimentos para manutenção dos carros elétricos. Então, existe um foco muito grande da rede de concessionários hoje nos carros eletrificados”.
As empresas buscam fazer um mix de produtos, incluindo eletrificados e movidos a combustão, segundo Fürstenau.
No fim de junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que cria o programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover). O Mover estimula a descarbonização e incentiva a produção de veículos sustentáveis no país. O diretor da ABVE afirma que o programa deve impulsionar o setor de eletrificados:
“Com base nessa política, que foca também na eficiência energética, novas montadoras devem aprofundar investimentos no Brasil para fazer essa transição do veículo a combustão para o veículo eletrificado. Seja ele um veículo híbrido, um veículo híbrido plug-in ou um veículo 100% elétrico”.
Expectativa em anúncio da GM
O avanço nas vendas de veículos elétricos e incentivos do governo para descarbonização colocam holofotes sobre o aguardado detalhamento dos investimentos da GM na unidade de Gravataí, previsto para ocorrer na quinta-feira (11).
Como adiantou a colunista de economia Marta Sfredo, produção de um SUV do Onix e eletrificação da planta estão entre as expectativas que giram em torno do anúncio.
O diretor de veículos leves da ABVE afirma que ainda não existe uma sinalização sobre produção de veículos eletrificados na fábrica da GM em Gravataí. No entanto, afirma que não seria uma surpresa caso essa expectativa se confirmasse diante dos posicionamentos da marca:
“A GM é um dos associados da ABVE e, inclusive, tem a diretoria da pasta de veículos leves, que discute justamente a questão dos veículos eletrificados e tem sido uma das empresas mais atuantes na discussão dessa transição energética do veículo à combustão para o veículo elétrico”.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que é necessário algumas vantagens competitivas para a eletrificação desembarcar no Estado:
“A fábrica do Rio Grande do Sul poderá ser escolhida se, e somente se, tiver exatamente condições de realmente atender a esse público-alvo de produção, atender primeiramente a produção, mas com elevada competitividade. Ou seja, custos bem reduzidos, de tal forma fazer uma concorrência a empresas que já estão atuando no Brasil, com preços menores e com carros muito mais recheados de tecnologia”.
Rede de recarga
No ano passado, foi lançada a Rota Elétrica do Mercosul, que conta com 10 pontos de recarga rápida entre Santa Vitória do Palmar e Torres. A iniciativa é fruto de um projeto desenvolvido em parceria pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pela CEEE Equatorial. Além disso, postos de recarga se espalham por estacionamentos, pontos comerciais, oficinas e shoppings de Porto Alegre. Mesmo assim, a rede precisa avançar, segundo especialistas.
Coordenadora do projeto da rota elétrica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a professora Alzenira Abaide afirma que a infraestrutura de recarga segue sendo um dos principais gargalos que freiam avanço maior na adesão aos veículos elétricos no país.
“O carregamento ainda é incipiente, principalmente no que se refere a estradas. O carregamento urbano está acontecendo em grande escala, está aumentando bastante, mas este é o carregamento lento, que leva 10 horas, seis horas para carregar uma bateria. Nas estradas, precisamos de carregadores rápidos. Então está crescendo sim, mas a passos muito lentos, muito mais lentos do que a venda de veículos”.
Alzenira destaca que ela e colegas estão participando de estudos para avançar em rotas de carregamento em estradas espalhadas por todo o Estado.
Preocupação com a reforma tributária
O grupo de trabalho criado pela Câmara dos Deputados para tratar da regulamentação da reforma tributária incluiu os carros elétricos na cobrança do Imposto Seletivo, que conta com alíquota maior.
Conhecido como imposto do pecado, incide sobre produtos considerados prejudiciais à saúde, como cigarros e bebidas alcoólicas, e ao meio ambiente. Esse movimento gerou alerta no setor. O diretor de veículos leves da ABVE afirma que essa ação pode atrasar o desenvolvimento da indústria no país:
“É muito importante que a gente não tenha um gap tecnológico. Que as atuais políticas brasileiras não condenem a indústria automotiva brasileira a permanecer no atraso em relação a essa transformação global”. (Zero Hora Online/Anderson Aires)