Ruído interno faz risco Brasil subir mais do que de outros emergentes

O Estado de S. Paulo

 

O cenário econômico mundial tem sido desafiador para países emergentes, mas o Brasil sofre mais do que nações com perfil parecido por causa de incertezas, sobretudo na área fiscal. O risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) – espécie de seguro contra o risco de calote dos países – subiu 38 pontos, para 170 pontos, de janeiro a 1.º de julho. A alta é maior do que a de México, Chile, Peru e África do Sul. O pior desempenho foi o da Colômbia, com alta de 39 pontos. Nas últimas semanas, marcadas pela escalada do dólar, analistas dizem que a revisão de metas fiscais, anunciada pelo governo em abril, agravou percepção de risco do País.

 

Num contexto de cenário externo mais difícil, o Brasil tem sofrido mais do que outros países com perfil econômico parecido. Desde o início do ano, houve uma piora generalizada para os emergentes, mas as incertezas locais, sobretudo na área fiscal, turvaram ainda mais o cenário da economia brasileira.

 

Um indicador que ajuda a dimensionar essa piora mais acentuada no Brasil é o risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) – espécie de seguro contra o risco de calote dos países. De janeiro até 1.º de julho, o CDS brasileiro subiu 38 pontos, para 170 pontos. É mais do que o observado em economias similares. No mesmo período, o do México, por exemplo, avançou 22 pontos, seguido por Chile (sete pontos), Peru (seis pontos) e África do Sul (cinco pontos). O pior desempenho foi o da Colômbia, com alta de 39 pontos.

 

Outra forma de se medir como o Brasil tem sofrido mais do que os seus pares é quando se olha para a média do risco país de Colômbia, México e África do Sul – economias classificadas com notas de crédito próximas às da economia brasileira pelas principais agências de risco. No último dia de 2023, a média do CDS desses países era 18 pontos maior do que a do Brasil. Em 1.º de julho, caiu para dois pontos.

 

“Essa diferença mostra a piora do Brasil com relação a outros pares”, diz Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “O CDS piorou, mas piorou bem menos do que os preços de ativos locais, como câmbio e juros.”

 

É importante ressaltar que o CDS brasileiro tem hoje uma volatilidade menor do que a observada no passado. Isso porque o País tem contas externas saudáveis e acumulou um volume importante de reservas ao longo dos anos. Não existe, portanto, um grande risco de calote iminente.

 

Mas as incertezas sobre os rumos da economia brasileira ficam evidentes quando se olha para o comportamento do câmbio. Nesta semana, o dólar chegou a bater em R$ 5,70, na esteira de seguidos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Roberto Campos Neto, do BC. Mas inverteu a tendência com a mudança de discurso do presidente, e fechou a semana em queda de 2%, a R$ 5,46.

 

A piora generalizada entre os países emergentes tem como pano de fundo a expectativa de que o banco central americano mantenha os juros altos por mais tempo. Na virada do ano, os analistas chegaram a projetar que o Fed poderia fazer seis cortes nos juros este ano. Hoje, fala-se em uma ou duas reduções.

 

Juros americanos mais altos levam os EUA a atrair capital de economias consideradas mais arriscadas e deixam os investidores mais seletivos com emergentes. “O Fed é o componente comum que faz o País sofrer como os demais emergentes”, diz Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. “Mas, nos últimos dois meses aqui, houve uma piora ditada pelas questões locais”. (O Estado de S. Paulo/Luiz Guilherme Gerbeli)