O Estado de S. Paulo
A inclusão do carro elétrico na lista dos produtos a serem submetidos ao Imposto Seletivo (“Imposto do Pecado”) é uma dessas aberrações protecionistas.
Esse imposto servirá para sobretaxar itens considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. No caso do carro elétrico, a alegação é a de que o descarte da bateria poderá vir a ser um problema ambiental. Não vai aí nenhuma consideração para o fato de que essas baterias estão cada vez mais eficientes, e mais alguns anos deverão passar por processos de reciclagem que, na prática, podem eliminar eventuais problemas ambientais.
Ora, a demanda pelo carro elétrico vem aumentando porque é a melhor forma de reduzir as emissões do setor automotivo. Há alguns anos, temia-se que o carro elétrico seria movido, na Europa e na Ásia, por energia elétrica produzida por combustíveis fósseis. Nesse caso, o CO2 que não seria mais ejetado na atmosfera pelo escapamento dos carros, continuaria sendo liberado pelas chaminés das termoelétricas. Mas isso praticamente acabou. A energia de fonte fóssil está sendo rapidamente substituída por de fontes renováveis.
Por trás dessa iniciativa de considerar o carro elétrico um reles poluidor está a enorme vacilação das montadoras brasileiras, hoje atrasadas no processo de modernização dos seus produtos. Não sabem que rumo tomar nessa transição energética.
Essa não é uma proteção baseada na cobrança de altas tarifas alfandegárias, como as definidas na semana passada pela Comissão Europeia. Pune a produção de veículos elétricos até mesmo no Brasil, ao contrário do que se passa no resto do mundo, que vem incentivando a troca de veículos a combustão.
Agora, a principal atingida é a montadora chinesa BYD, que está instalando um Complexo na Bahia, capaz de produzir 150 mil veículos elétricos por ano, e iniciou em Manaus a instalação de fábrica de baterias de fosfato ferro-lítio. Mas esse protecionismo baseado no pensamento desenvolvimentista do século passado e acatado por lideranças do governo Lula acabará por inibir os avanços em direção à derrubada da pegada de carbono.
As montadoras tradicionais não escondem sua aflição com a agressividade com que os carros chineses vêm conquistando o mercado global. São mais avançados em design, tecnologia e preço. Não cola mais a alegação de que tiram proveito da exploração de mão de obra barata. A norte-americana Tesla também produz carros na China.
A questão central é a baixa competitividade dos veículos (não só os elétricos) produzidos no resto do mundo, problema que, no Brasil, chega ao paroxismo, como se sabe desde os tempos do presidente Collor, que denunciou as “carroças” produzidas por aqui. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)